Meu pai abaixou os olhos, envergonhado.
— Eu… não sabia.
Me aproximei um pouco mais.
— Eu sei que vocês não me amam. — senti uma lágrima teimosa escorrer pelo meu rosto. — Mas eu amo vocês e amava o Yuri, mesmo nunca tendo recebido nenhum amor de volta. E eu não quero ver você sofrendo, pai. Mas, eu aprendi a me amar, encontrei pessoas que me amam por quem eu sou, que buscar me ajudar, estar comigo e me mostraram que a diabetes não é uma doença que vai me matar, se eu me cuidar bem. É por isso…
Passei a mão no rosto, tentando respirar.
— Em troca desse tratamento, eu só peço uma coisa, que vocês não contem pra ninguém sobre o Yuri e nem sobre o que eu falei aqui. Não vou depender do dinheiro do Diogo, hoje, tenho um bom trabalho, ganho bem e futuramente talvez, terei um salário melhor… vou me certificar de enviar um valor mensal para vocês.
Meu pai virou o rosto.
— Não precisa mandar dinheiro, Alice…
— Precisa sim. — minha mãe interrompeu, com a voz embargada. — Ele não consegue mais trabalhar, e eu… eu tenho que cuidar dele.
— Vocês podem ficar tranquilos. — engoli em seco. — Eu vou mandar o dinheiro todo final do mês. Mas, não venham atrás de mim querendo mais, não irei bancar luxo. O que eu quero é que você tenha um teto seguro, comida e água para sobreviverem, o resto fica por conta de vocês.
Passei a mão pela barriga, num gesto automático, e soltei num fio de voz.
— E… eu estou grávida. Não sei se vai mudar alguma coisa vocês ficarem sabendo disso, mas eu queria contar.
Os dois me olharam em choque, depois baixaram os olhos para minha barriga. O silêncio que se seguiu foi quase insuportável.
— Eu… preciso voltar pro trabalho. — consegui dizer, mesmo com a garganta apertada. — Adeus.
Esperei, no fundo, que eles me pedissem pra ficar, que me abraçassem, que dissessem qualquer coisa. Mas nada aconteceu. Eles continuaram ali, parados, em silêncio.
Senti o peito se partir, mas virei as costas e saí do quarto.
(Diogo)
Linda falava sem parar com o notebook aberto à minha frente cheio de planilhas, gráficos e relatórios. Eu tentava acompanhar, mas minha cabeça insistia em se perder.
Esses últimos meses foram um caos e eu estive ausente demais, larguei quase tudo pra lidar com o que aconteceu. Agora, mesmo sentado ali, tentando voltar pra rotina, só conseguia pensar em uma coisa, Lucas. Resolver aquilo de uma vez por todas para, finalmente, poder viver em paz com a minha família.
— …e aqui estão os números da filial de Porto Alegre, que vão precisar de uma revisão no próximo trimestre — Linda continuava, clicando rápido. — Ah, e sobre a proposta de investimento em Lisboa, o conselho quer sua decisão até sexta.
Assenti, passando a mão pelo rosto, mas era como se as palavras chegassem até mim meio distantes.
— Certo… deixa isso separado pra mim.
Ela digitou mais algumas coisas, depois fechou o notebook e soltou um suspiro.
— Uau… — olhou para o relógio no pulso. — Já são 13h40.
— Tudo isso? — arqueei a sobrancelha, surpreso.
— Pois é. — ela riu de leve, se levantando. — Eu preciso almoçar. Quer que eu peça alguma coisa pra você?
Balancei a cabeça.
— Não precisa. Minha mãe vai trazer o almoço.
— Ah, então ótimo. — Linda sorriu, recolhendo as anotações. — Eu volto pra empresa agora à tarde. Amanhã te atualizo sobre a decisão do cliente.
— Obrigado, Linda. — forcei um pequeno sorriso.
— Só fazendo meu trabalho, chefe. — ela piscou com aquele jeito profissional de sempre e seguiu em direção ao elevador.
Fiquei ali, olhando ela sair e o silêncio tomando a sala. Respirei fundo, tentando focar, mas minha mente já estava voltando pro mesmo ponto de antes. Só faltava resolver isso pra, quem sabe, eu finalmente conseguir respirar em paz.
Peguei o celular e liguei pra Alice, ouvindo o som da chamada com cada segundo me deixando mais inquieto. Ela atendeu alguns toques depois.
— Oi, amor — sua voz veio um pouco baixa, meio cansada.
— Oi, princesa. — me ajeitei na poltrona, tentando não deixar a preocupação transparecer demais. — Como foi com seus pais?
Do outro lado da linha, ela soltou um suspiro longo.
— Foi… até que tranquilo. Eles não reagiram muito, acho que mais pelo choque de saber que o Yuri morreu.
Fechei os olhos por um momento, deixando escapar o ar que estava preso no peito.
— Isso é bom… pelo menos não fizeram escândalo.
— É… — ela respondeu, sua voz ainda com aquele peso.
— Você já almoçou? — perguntei, querendo mudar um pouco o foco.
— Já sim. — ela fez uma pausa e a voz veio um pouco mais suave. — Ah, marquei a consulta com a obstetra pra sexta-feira. Quando a gente sair do retorno da sua perna, vamos juntos.
Um sorriso me escapou antes mesmo de perceber.
— Isso é ótimo, Alice. Estou ansioso.
— Eu preciso desligar agora, tá? — ela disse baixinho. — Mas… eu te amo.
Meu peito apertou de um jeito bom.
— Eu também te amo. Muito.
— Então até mais tarde. — ouvi o sorriso na voz dela.
— Até, meu amor. — deixei a chamada cair, ficando alguns segundos com o telefone na mão, como se ainda pudesse ouvir a sua respiração.
As portas do elevador se abriram e, assim que vi minha mãe entrar na cobertura, um calor bom tomou conta de mim. Caleb veio logo atrás dela, empurrando a cadeira.
— Meu filho, vem pra mesa. Eu trouxe o almoço.
Ela olhou rápido pra muleta encostada no sofá.
— Precisa de ajuda?
Balancei a cabeça, me levantando devagar.
— Estou bem, mãe.
Fui até a mesa com eles. O cheiro já me fez sorrir antes mesmo de ver o que tinha nas travessas. Quando ela destampou o prato, não consegui conter uma risada.
— Estrogonofe de frango? — olhei pra ela, quase rindo. — Fazia anos que eu não comia isso.
— Achei que ia gostar — ela sorriu, ajeitando os talheres. — Desde criança você devorava esse prato.
— Acertou em cheio. — Peguei um pouco e senti aquele gosto familiar, quase um abraço na boca.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Quantos capítulos são?...
Não consigo parar de ler é surpreendente, estou virando a noite lendo. É tão gostoso ler durante a madrugada no silêncio enquanto todos dormem. Diego e Alice são perfeitos juntos, assim como Alessandro e Larissa...
Maravilhoso,sem palavras recomendo vale muito apena ler👏🏼👏🏼...
Quem tem a história Completa do Diogo?...
Gostaria de dizer que plágio é crime. Essa história é minha e não está autorizada a ser respostada aqui. Irei entrar com uma ação, tanto para quem está lançando a história como quem está lendo....
Linda história. Adorando ler...
Muito linda a história Estou gostando muito de ler Só estou esperando desbloquear e liberar os outros que estão faltando pra mim terminar de ler...
Muito boa a história, mas tem alguns capítulos que enrolam o desfecho. Ela já tá ficando repetitiva com o motivo da mágoa...
História maravilhosa. Qual o nome da história do Diogo?...
Não consigo parar de ler, cada capítulo uma emoção....