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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 272

Ele olhou pra mim de novo e eu senti como se tivesse um peso de cem quilos no peito.

— Lucas… a sua mãe se chamava Mádila.

Ele franziu a testa, repetindo a palavra como se estivesse testando o som.

— Chamava? — a ênfase na palavra me cortou por dentro. — Ela… morreu?

Engoli seco, lutando pra manter a voz firme.

— sim… — a palavra saiu quase num sussurro.

Ele ficou olhando pra mim com os lábios tremendo. Sabia que precisava dosar cada palavra por causa a sua idade.

— Conheci a sua mãe uns anos atrás, em Nova Liberdade. Achei que ela fosse a mulher da minha vida. — Fiz uma pausa, escolhendo com cuidado. — Mas as coisas ficaram muito difíceis. Ela… ela era muito ciumenta, não deixava nem eu chegar perto de outras pessoas, principalmente mulheres. Tentei conversar, mas nada mudava. Então eu decidi que a gente não podia mais ficar junto.

Lucas fungou, com o olhar grudado em mim, sem piscar.

— E ela não gostou?

— Não. — Passei a mão no rosto, sentindo o nó na garganta. — Pouco tempo depois, ela me contou que estava grávida de você. Eu disse que ia cuidar do meu filho, mas que não ia voltar a morar com ela. E… ela não aceitou.

O menino apertou as mãos pequenas no colo, com os punhos fechados.

— Um dia… — continuei, com a voz mais baixa — a gente discutiu. Eu estava num terraço e ela apareceu de surpresa, me ameaçou… e então aconteceu um acidente.

— Ela caiu do terraço… eu nunca quis que aquilo acontecesse.

Lucas soltou um choro preso, as lágrimas rolando em silêncio e eu senti cada uma como se fosse minha.

— Depois… — continuei, engolindo o gosto amargo da lembrança — me disseram que você também tinha morrido. Eu fiquei desolado e voltei pra Belos Campos tentando seguir em frente…

Ele fungou alto, me interrompendo com um olhar cheio de dor.

— Mas… eu não morri.

— Não, graças a Deus, não. — Balancei a cabeça. — Dois anos depois eu descobri que você tinha sido adotado. Você já estava com a nova família, e eu não queria te tirar de quem já te amava. Eu pensei que você estava bem, que sua vida era tranquila.

Lucas apertou ainda mais os punhos e sua voz saiu embargada.

— Tranquilo? — repetiu, a raiva subindo junto com as lágrimas. — Eles… eles não foram bons. — sua voz dele tremeu, quebrada. — Eles… batiam em mim.

Meu corpo inteiro gelou.

— O quê? — minha voz saiu quase um rugido, mas eu me forcei a não levantar, a não assustá-lo mais. — Lucas, eles… eles machucaram você?

Ele abaixou a cabeça, chorando mais.

— Sempre… — murmurou entre soluços. — Diziam que eu era o problema. Que… que eu não era deles de verdade.

Meu coração parecia que ia rasgar. Olhei pra Alice, que estava com os olhos marejados, mas ela se manteve firme, passando a mão de leve nas costas dele.

— Meu Deus, filho… — eu sussurrei, sentindo uma raiva surda crescer dentro de mim. — Eu… eu juro que eu não sabia. Se eu soubesse… nunca teria deixado você lá.

Ele levantou um pouquinho a cabeça, ainda chorando, mas agora com os olhos cheios de uma dor que queimava.

— Por que você não me procurou antes? Por que demorou tanto?

Minha garganta fechou.

— Porque… — respirei fundo, a culpa pesando como uma pedra. — Porque eu achei que estava te protegendo. Eu pensei que, com uma família, você ia ter uma vida melhor do que a que eu podia dar naquele momento. Eu errei, Lucas. — Me inclinei um pouco, tentando encontrar os olhos dele. — Mas eu tô aqui agora e eu nunca mais vou deixar ninguém te machucar. Nunca.

Ele ficou em silêncio, só chorando e eu deixei ele chorar. Não importava o tempo que levasse. Tudo que eu podia fazer era estar ali, respirando junto, esperando que ele acreditasse em cada palavra que eu prometi.

Juro que nunca vou esquecer o som da sua voz naquela hora. Era um choro rouco, sufocado, que vinha de um lugar muito mais fundo do que qualquer criança de oito anos deveria conhecer.

— Eles… — Lucas engoliu um soluço, apertando as mãos no colo — eles me botavam pra arrumar a casa… mesmo tendo empregadas. Eu nunca podia comer as coisas boas… nunca. As roupas boas… — ele respirou rápido, quase sem ar — eram sempre as que meus irmãos não queriam mais.

Cada palavra dele entrava em mim como um soco e eu sentia a garganta fechar a cada segundo.

— Eu sempre ficava triste… — ele continuou, os olhos brilhando de lágrimas. — Sempre perguntava por que eles não gostavam de mim. Tentava agradar, sempre tentei… mas ninguém… ninguém nunca gostava. — O choro veio mais forte, balançando seu corpo pequeno. — Sempre pensei que… que eu era um erro.

Meu coração parecia que ia explodir dentro do peito. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me olhou, direto, com uma dor que me desmontou inteiro.

— E onde você estava esse tempo todo? — sua voz saiu rasgada. — Por que você não foi nem uma vez lá pra saber como eu estava? Por que você me abandonou?

Senti o ar sumir. Era como se eu tivesse levado uma pancada no peito. Respirei fundo, mas minha voz ainda saiu falha.

— Lucas… eu… eu mandava dinheiro pra cuidarem de você. Eles sempre mandavam fotos, dizendo que você estava bem. Eu… eu juro que eu achava que tava tudo certo.

Ele limpou as lágrimas com as costas da mão e soltou uma risadinha sem graça, amarga, que me doeu mais que qualquer choro.

— Então é por isso… — ele sussurrou, com um meio sorriso que mais parecia um corte. — Todo mês eles me faziam fingir que eu era feliz… pra tirar aquelas fotos.

Meu peito ardeu, a culpa me queimando por dentro.

— Filho… eu não sabia… — falei, quase num pedido de perdão que mal saía.

Lucas balançou a cabeça, os olhos cheios de uma tristeza impossível de segurar.

— Podia ser diferente… — ele murmurou — A gente podia… podia ter sido feliz.

Não aguentei mais ficar sentado. Levantei num impulso, com os olhos ardendo e antes que eu percebesse, já tava ajoelhado na frente dele. Segurei os ombros pequenos, tentando encontrar o olhar dele

. — Lucas, me escuta… — minha voz tremeu junto com as mãos. — Eu me arrependo, filho. Eu fui um idiota. Devia ter te procurado, te tirado de lá. …

Ele me encarou por um segundo que pareceu uma eternidade. E então, com a voz mais baixa, mas que cortou mais fundo que qualquer grito, ele disse:

— Eu… eu prefiro não ter pai nem mãe nenhum. Nem você e nem aqueles dois.

Meu coração parou.

Ele hesitou por um segundo, mas logo encostou a cabeça no meu ombro, chorando ainda mais.

Comecei a acariciar suas costas em movimentos lentos.

— Ei… não é assim, meu bem. — Falei baixo, quase sussurrando no ouvido dele. — Os seus irmãos gostam de você.

Ele balançou a cabeça, sem dizer nada, mas assentindo de leve.

— A Bia também gosta muito de você. — Continuei. — E tenho certeza que você tem amiguinhos na escola que também gostam.

Ele permaneceu quieto com o rostinho ainda encostado no meu ombro.

— E eu… — respirei fundo — eu também gosto muito de você. Desde o primeiro dia em que te conheci.

Ele se afastou um pouquinho, me olhando com olhos cheios de lágrimas, como se quisesse ter certeza.

— É verdade?

Sorri, limpando com cuidado as novas lágrimas que caíam.

— Claro, Lucas. — Falei com firmeza. — E o Diogo também gosta.

O rostinho dele mudou, e sua expressão ficou mais dura.

— Ele não gosta.

Sentei ao lado dele na espreguiçadeira, deixando o copo de água de lado.

— Eu entendo que você esteja bravo. — Falei devagar. — Mas o Diogo é um bom homem. Eu nem queria me envolver com ninguém, mas… fiquei completamente apaixonada pelo homem que ele é.

Lucas franziu a testa, curioso, mesmo ainda magoado.

— Ele se arrepende muito de como as coisas se levaram. Quando tudo aconteceu com a sua mãe, a Mádila, o pai dele tinha acabado de falecer em um acidente e o irmão mais novo ficou paraplégico.

Ele levantou os olhos, surpreso.

— Paraplégico?

— Sim. — Assenti. — O Diogo teve que assumir a empresa da família, viajava muito, mal parava em casa. Naquele momento… ele não tinha cabeça nem condições pra cuidar de uma criança. Quando soube de você, já fazia um tempo e ele foi atrás, Lucas. Só que quando o encontrou, você estava brincando com outras crianças, sorrindo, com seus irmãos… Ele achou que você cresceria em um lugar tranquilo, com amor. Por isso mandava dinheiro, pra que vocês tivessem conforto e tudo de melhor. Era o que ele poderia oferecer naquele momento.

Lucas baixou o olhar pro chão, balançando a cabeça.

— Eles sempre gostaram mais dos outros. — sua voz saiu baixa, quase um sussurro. — Ninguém gostava de mim. Eu preferia ser pobre… e ter um pai e uma mãe que me amassem… do que ter dinheiro.

Meu coração apertou e toquei com carinho a mãozinha dele.

— Eu entendo, meu querido. — Minha voz tremeu um pouco. — Você é muito maduro e inteligente pra sua idade. Não merecia ter passado por nada disso.

Ele continuou olhando pro chão, mas apertou minha mão de volta, tão pequenina e quente, como se aquele gesto fosse a única coisa segura que ele tinha naquele momento.

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