Depois da quarta entrevista, eu já estava prestes a bater a cabeça na mesa. Uma tinha passado o tempo inteiro mexendo no cabelo e rindo de tudo o que eu dizia, outra quase chorou porque esqueceu o currículo, uma terceira me chamou de “chefão” e a quarta mal levantava os olhos, falando tão baixo que eu precisei me inclinar pra tentar entender.
— Pelo amor de Deus… — murmurei, esfregando o rosto com as mãos. — Será que é pedir demais por uma pessoa normal?
Peguei o interfone.
— Sara, manda a última, por favor. E reza comigo pra ela ser minimamente equilibrada.
— Pode deixar, chefe. — ela respondeu rindo.
Segundos depois, uma batida suave soou na porta.
— Pode entrar — falei, ajeitando a postura na cadeira.
A porta se abriu e, assim que ela entrou, eu esqueci completamente o que ia dizer.
Ela era… diferente.
Cabelos loiros, lisos, caindo nos ombros, a pele clara e uniforme, um olhar firme, mas com algo tímido escondido ali. Uns olhos que pareciam ver além da sala. Devia ter uns 1,63 de altura, corpo elegante, e o jeito como ela caminhou, seguro e natural, passou uma confiança que nenhuma das outras chegou perto de ter.
— Bom dia — ela disse, com um tom de voz calmo e educado, parando em frente à mesa.
— Bom dia. — respondi, me levantando automaticamente. — Pode sentar, por favor.
Ela estendeu a mão e quando apertei, reparei na aliança discreta em seu dedo. Casada, então isso é ótimo. Já eliminava metade dos problemas que eu tinha com candidatas “pra frente demais”.
— Lorena Almeida Moura, certo? — perguntei, olhando o currículo. — Vinte e oito anos.
— Isso mesmo.
— Currículo impressionante — comentei, passando os olhos pelas experiências. — Trabalhou em uma agência grande de São Paulo, depois numa filial em Florianópolis… por que saiu do último emprego?
Ela hesitou um instante e eu percebi. Depois respirou fundo e forçou um pequeno sorriso.
— Minha mãe sofreu um acidente e ela mora em Bela Flor, precisei voltar pra cuidar dela.
Assenti, entendendo.
— Entendo perfeitamente. Espero que ela esteja melhor.
— Está sim, obrigada. — respondeu, com gentileza.
Continuei a entrevista, mas confesso que fiquei observando a maneira como ela respondia. Cada palavra era medida, firme, sem arrogância. Ela sabia o que estava dizendo e o melhor, sabia ouvir também.
— Você tem experiência com controle administrativo, relatórios, contato com clientes e equipe, certo?
— Tenho, sim. Trabalhei diretamente com esses setores. Gosto de manter tudo bem organizado.
— E conhece a Nexarte?
Ela deu um leve sorriso.
— Claro. É uma das empresas de serviços digitais mais completas da região. Gosto muito da forma como vocês trabalham com criação integrada e do foco em inovação.
Aquilo me pegou, ela falava com propriedade. Olhei pra ela por um instante, e senti algo que não sentia desde o início da manhã: confiança.
Fechei o currículo e me levantei.
— Sra. Moura… parabéns. Está contratada.
Ela piscou, surpresa.
— Já? Assim, de primeira?
— Assim mesmo. — ri. — Depois das quatro entrevistas que tive hoje, você é praticamente um milagre.
Ela deu uma risada leve, um pouco sem graça.
— Espero que não tenha sido tão ruim assim.
— Um verdadeiro pesadelo — respondi, sincero, mas divertido. — Mas tô feliz que você tenha aparecido.
Ela sorriu, um sorriso simples e genuíno.
— Obrigada, Sr. Fonseca. Fico muito feliz com a oportunidade.
— Pode começar amanhã? — perguntei, cruzando os braços.
Revirei os olhos e soltei um riso cansado.
— Até que enfim! Achei uma hoje..
— Finalmente! — ela exclamou, rindo. — Já tava achando que você ia acabar contratando um robô.
— Não duvida não, porque tava quase chegando nesse ponto. — falei, balançando a cabeça. — Mas essa parece ser boa. Competente, tranquila… e o melhor, normal.
— Normal já é meio caminho andado — brincou.
— Exatamente e eu não aguentava mais. Sara estava quebrando um galho pra mim, mas ela já tem o trabalho dela no RH. Estava sufocando a mulher.
— Tadinha! — ela riu. — Então ótimo, quero conhecer essa Lorena depois.
— Vai gostar dela. — falei, terminando o suco. — E fico feliz que tenha ligado, Lari. Já estava com saudade das suas broncas.
— Ah, vai te catar — ela disse, rindo alto. — Me avisa assim que marcar o dia da reunião, tá bom?
— Pode deixar. — respondi. — A gente se fala.
— Beijo, Rafa.
— Beijo.
Desliguei, sorrindo sozinho por alguns segundos. Era bom sentir que as coisas estavam voltando ao ritmo certo.
Terminei o almoço, paguei a conta e voltei pra empresa. A tarde passou tranquila, sem crises, sem e-mails urgentes e gente dançando no meio da sala (graças a Deus).
Quando finalmente cheguei em casa à noite, meu corpo parecia ter o peso do mundo. Tirei o paletó, deixei as chaves na bancada e fui direto pro banho.
A água quente relaxou os músculos e, pela primeira vez em dias, eu me permiti respirar devagar.
Comi algo leve, uma tapioca com queijo e um copo de suco e fui direto pra cama. Deitei e encarei o teto por alguns minutos. Viajar o tempo todo, administrar filial, contratar gente, resolver pepino… tudo isso era o preço do sucesso.
Mas ali, no silêncio do meu apartamento, com o som distante da cidade lá fora, a única coisa que eu queria era dormir e esquecer o mundo por umas boas horas.
E foi exatamente o que fiz.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...
Capítulo 293 tá bloqueado sendo que já está entre os gratuitos...
Quantos capítulos são?...
Não consigo parar de ler é surpreendente, estou virando a noite lendo. É tão gostoso ler durante a madrugada no silêncio enquanto todos dormem. Diego e Alice são perfeitos juntos, assim como Alessandro e Larissa...
Maravilhoso,sem palavras recomendo vale muito apena ler👏🏼👏🏼...
Quem tem a história Completa do Diogo?...