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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 307

Meu estômago gelou.

— Eu… não sabia, Thales. Juro.

— Ah, claro. — Ele soltou um riso irônico e balançou a cabeça. — É impossível você não saber. Com certeza a sua mãe te contou.

— Não contou — respondi firme, mas baixa o suficiente pra ninguém ouvir. — Você sabe muito bem que eu não converso com o Eduardo desde que…

— Desde que ele quis te separar de mim, é isso? — cortou, com sarcasmo. — Esse moleque sempre se meteu onde não devia. Achou que ia dar uma de herói, que ia “salvar” a irmã da relação errada. Quem ele pensa que é, hein?

Desviei o olhar, apertando o guardanapo nas mãos.

— Ele só ficou preocupado, Thales.

— Preocupado? — Ele riu de novo, mas dessa vez o riso veio carregado de raiva. — Preocupado é o caramba. Ele é um moleque metido, isso sim. E olha só, agora conseguiu virar delegado. — Ele bufou. — As coisas não são como antes mesmo… como um desgraçado como o Eduardo consegue virar delegado, e eu ainda tô aqui, como detetive, quebrando a cabeça há anos pra conseguir essa promoção?

Não respondi. Só fiquei olhando pro prato, fingindo mexer na comida enquanto sentia o nó apertando no peito.

Eu sabia que discutir com ele em público só ia piorar as coisas. E, sinceramente, eu já estava cansada.

Então fiquei quieta, mastigando devagar, sem coragem de levantar o olhar.

Por dentro, no entanto, um sentimento morno me atravessava. Uma pontinha de orgulho, escondida, silenciosa por saber que o Eduardo tinha conseguido. Ele sempre sonhou em ser delegado, desde moleque. Passou por tanta coisa… uma pena enorme a gente não se falar mais.

Enquanto isso, Thales resmungava entre os dentes, jogando frases soltas:

— Aposto que puxaram ele por indicação.

— Delegado, ele… me poupe.

— Se eu tivesse o mesmo tipo de “ajuda”, já estaria lá faz tempo.

Eu só respirava fundo, tentando deixar passar. Até o garçom percebeu o clima e veio devagar, perguntando se queríamos sobremesa. Thales só balançou a cabeça e pediu a conta.

O resto do almoço foi um silêncio pesado, cortado apenas por ele bufando e resmungando algo sobre “injustiça” e “gente incompetente que sobe de cargo”.

Eu, de novo, fingi que tava tudo bem. Fingi que não doía. Mas, por dentro, eu só conseguia pensar em como o Eduardo devia estar feliz naquele momento. E, mesmo sem poder dizer isso em voz alta, eu também estava, só que por dentro.

O caminho de volta pro trabalho foi silencioso. Thales continuava de cara fechada, com uma das mãos firme no volante e os dedos batendo de leve, impacientes. Eu olhava pela janela, tentando focar em qualquer coisa que não fosse o clima pesado dentro do carro.

Quando nos aproximamos da empresa, vi Rafael atravessando o estacionamento com o celular no ouvido, falando com alguém e rindo de leve. Ele usava uma camisa social clara, as mangas dobradas até o antebraço, o que o deixava com aquele ar descontraído de quem sabe o que faz.

Foi aí que Thales o notou.

— Aquele ali é o teu chefe? — perguntou, com um tom que já denunciava o rumo que a conversa ia tomar.

Engoli em seco e assenti.

— É, sim. Ele é o Rafael Fonseca.

Thales deu uma risadinha curta, debochada, e balançou a cabeça.

— Seu chefe é novo… e bonito, pelo visto.

Revirei os olhos cansada.

— Thales, por favor, não começa. Isso não tem nada a ver.

— Não tem nada a ver? — Ele se virou pra mim, com o olhar queimando. — Claro que tem. Um cara novo, cheio de dinheiro, andando bem vestido, e você ali do lado dele o dia todo…

— É o meu trabalho! — respondi, tentando manter a voz baixa, mas o tom saiu mais alto do que eu queria. — Eu tô lá pra trabalhar, Thales. Pra isso.

— É, mas eu conheço bem esse tipo de cara. — Ele riu de novo, sem humor. — Gentil demais, educado demais, e no final das contas tá sempre de olho no que não deve.

Suspirei, esfregando as têmporas.

— Thales, pelo amor de Deus, para com isso. Eu nem comecei direito no emprego e você já tá arrumando briga por nada.

— Por nada? — Ele levantou um pouco a voz, e eu senti o rosto esquentar quando percebi algumas pessoas passando na calçada olhando pro carro. — Já posso imaginar o jeito como ele olha pra você!

— O jeito que ele olha pra mim? — repeti, sem acreditar. — Ele só é educado! Você está inventando coisas.

— Tô inventando? Tá me chamando de louco agora?

— Não foi isso que eu disse — murmurei, tentando respirar fundo.

— Claro que foi. — Ele se inclinou pra frente, com os olhos fixos nos meus. — Cuidado, Lorena. Eu sei muito bem como essas histórias começam.

Senti o coração disparar. A vergonha, o medo, a raiva, tudo misturado.

Só queria sair dali.

— Eu vou entrar, tá? — falei, abrindo a porta do carro.

— Lorena, não vira as costas pra mim! — ele disse mais alto, mas eu já estava com um pé pra fora.

— Então tá ótimo — confirmei, sorrindo mais uma vez antes de encerrar a ligação. — Nos vemos na terça então.

Desliguei, respirei fundo e voltei a me concentrar no trabalho. Tinha muito para organizar: detalhes de campanhas, reuniões, ajustes de roteiro e tudo o que envolvia a nossa equipe.

***

Dirigia pela estrada de volta pra casa, o motor ronronando baixo. Mas, enquanto olhava pelo retrovisor, uma imagem insistia em martelar na minha cabeça.

Lorena, no carro com um homem. Aquele seria o esposo dela? Suspirei, tentando afastar o pensamento. Não adiantava ficar remoendo.

Quando cheguei, estacionei e olhei pra frente. A casa estava silenciosa, imponente como sempre, com linhas retas, fachada escura e moderna, iluminação baixa e elegante destacando cada detalhe. O jardim bem cuidado e o piso de pedra na entrada davam o tom de ordem e sofisticação que eu gostava.

Abri a porta, deixando as chaves no aparador e tirando o paletó. O ar estava fresco e perfumado, fruto do cuidado da equipe de limpeza que Francisca supervisionava como ninguém. Segui para a cozinha e peguei um pedaço da torta que ela tinha deixado do almoço.

Coloquei no micro-ondas, lembrando com carinho de como Francisca cuidava de mim desde criança, mesmo eu dizendo que não precisava. Ela sempre tinha um olho nas meninas da limpeza também, garantindo que o serviço fosse feito direito.

Decidi comer mesmo em pé, encostado no balcão, distraído.

— Oi, maninho!

Me virei de repente, quase deixando o prato com a torta cair no chão e, para meu completo choque, lá estava Milena, sorrindo como se tivesse acabado de sair de um filme.

Minha primeira reação foi colocar a mão no coração, sentindo-o quase querer escapar para fora do meu peito.

— Milena! — exclamei, a abraçando. — O que você tá fazendo aqui?

— Resolvi voltar, Rafa. — Ela sorriu, despreocupada. — Solteira.

Fiquei um pouco sem reação, ainda segurando a taça de suco.

— Como assim… solteira? E o seu marido? O que aconteceu?

Ela encolheu os ombros, com aquele ar de quem se diverte com a própria história.

— Não deu certo.

— Não deu certo? — ergui uma sobrancelha. — Explique melhor, Milena.

Ela riu, jogando o cabelo pra trás.

— Meio que o Ethan… me pegou com o primo dele.

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