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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 311

Lembro do dia da briga. Eduardo se envolveu quando Thales segurou meu braço com força. Foi feio, feio mesmo. Eles acabaram no hospital e os dois tomaram uma advertência no trabalho. Depois disso, Thales olhou pra mim e disse:

— Lorena, você tem que escolher.

E eu escolhi. Escolhi o pai da minha filha, o homem que eu amo, mesmo que isso tenha machucado Eduardo.

Faz seis anos que não nos falamos mais, e Alana nunca teve contato com ele, mesmo morando na mesma cidade. Dói, mas… foi minha escolha. Talvez uma escolha errada, mas não há como voltar atrás.

Olhei para Alana, seu rostinho cheio de vida e curiosidade, e sorri.

— Vamos, meu amor. Hora de ir embora — disse, apertando sua mão.

Ela sorriu e pulou ao meu lado, pronta para seguir para o carro. Caminhamos juntas, sentindo a mistura de alívio, saudade e amor que só mães e filhas conhecem. Cada passo parecia me lembrar do quanto a vida nos força a escolhas difíceis, e que algumas vezes o coração não tem outra saída além de seguir adiante.

Duas horas de estrada e finalmente chegamos à Bela Flor. Meu coração já batia mais rápido só de ver as colinas e o cheiro da terra molhada depois da chuva. Alana estava animada, olhando pela janela e apontando para tudo.

Estacionamos em frente ao nosso pequeno sítio. Assim que abri a porta, Alana pulou fora do carro, chamando:

— Thor! Thor!

O pastor alemão que meu pai resgatou corria da beira da estrada de terra, latindo e abanando o rabo com tanta força que quase derrubou Alana. Ela caiu de joelhos, rindo, e Thor lambeu o seu rosto até ela gargalhar.

Logo, meu pai surgiu na varanda, mancando levemente da perna. O efeito da picada da cobra ainda o perseguia, mas o sorriso dele iluminou tudo ao redor.

— Lorena! Minha filha! — ele disse, aproximando-se de nós.

Eu fui até ele e o abracei com força, sentindo o cheiro da terra e do campo misturado ao seu perfume.

— Pai… dá benção — pedi, colocando a cabeça encostada no peito dele.

— Que Deus te abençoe, minha filha — respondeu, segurando meu rosto com carinho.

Alana veio logo depois, pequena e animada, estendendo a mão:

— Vovô, dá benção!

— Claro, meu amor — disse meu pai, abaixando-se para beijar a cabeça dela.

Entramos na casa, simples, aconchegante, e logo minha mãe apareceu apoiada na muleta, com o sorriso caloroso que sempre me dava paz.

— Mãe! — abracei-a com força, sentindo a leveza que só o abraço dela me dá. — Dá benção!

— Que Deus te abençoe, minha filha — disse ela, sorrindo.

Alana correu para abraçá-la também, pedindo a benção do jeito dela e minha mãe a abraçou com carinho.

— Senta, mãe, por favor — pedi, apontando para a cadeira de balanço na sala.

Ela se acomodou, e eu sentei ao lado, observando cada detalhe do seu rosto, cada ruga de experiência e cuidado.

— Como estão as coisas por aqui? — perguntei.

Minha mãe suspirou, apoiando-se levemente na muleta.

— Ah, filha… as dores vão e voltam. Hoje estão mais tranquilas, mas pioram nos dias de chuva.

Meu pai completou, olhando para ela com preocupação:

— O remédio dela acabou, Lorena.

Olhei para minha mãe, surpresa.

— Mãe… por que você não avisou?

— Não queria dar trabalho… — respondeu, quase sussurrando, desviando o olhar.

Balancei a cabeça, segurando a mão dela com força:

— Nunca vai ser trabalho, mãe. Eu faço isso por carinho e amor. Vocês sempre cuidaram de mim, e agora é a minha vez de cuidar de vocês. Sempre.

Eles me olharam emocionados, e eu senti aquela mistura de nostalgia, amor e responsabilidade apertando meu peito. Aqui, naquele lugar simples, tudo parecia voltar a seu lugar, e eu sabia que era onde sempre pertencemos, juntos.

Meu pai me olhou de repente, o tom de voz carregando aquele desgosto que eu conhecia bem.

— E o Thales, Lorena? — perguntou, e eu notei a preocupação por trás da frase, mesmo que ele tentasse disfarçar.

Sorri, tentando deixar leve, ignorando a tensão na voz dele.

— Ah, passou a semana toda em casa e viajou hoje cedo — disse, com naturalidade.

Ele apenas assentiu, olhando para mim com aquela mistura de cuidado e desconfiança, mas sem dizer mais nada.

Enquanto eu respirava fundo e começava a me acalmar, uma voz de menino ecoou pelo quintal:

— Alana! Alana!

Alana se levantou num impulso e saiu correndo, rindo. Meu coração se aqueceu instantaneamente. Sorri, reconhecendo o som. Era Wesley, o filho da vizinha. Ele sempre vinha chamar Alana para brincar quando via o carro estacionado.

— Vou pegar as compras — disse, levantando-me.

Fui até o carro e comecei a tirar as sacolas do porta-malas, a feira que eu fazia toda semana para meus pais. Alana estava no quintal, rindo com Wesley e Thor correndo ao redor dela. Sempre quis isso para minha filha, essa liberdade, brincadeiras simples, felicidade pura.

Enquanto eu organizava as compras, Wesley veio correndo.

— Vou ajudar! — disse, animado.

Sorri, colocando algumas sacolas nas minhas mãos.

— Lorena… Tatiane voltou — disse minha mãe de repente, com um brilho nos olhos. — Ela está com a mãe dela agora.

Meus olhos se arregalaram de surpresa. Tatiane… a tia de Wesley, minha amiga de infância que cresceu comigo.

As lembranças de brincadeiras e confissões vieram à tona.

— Sério? — perguntei, sorrindo involuntariamente. — Que bom! Eu vou lá visitá-la, preciso ver como ela tá!

Ela me olhou, rindo, e assentiu. Alana tinha se mudado para a Bahia quando passou no vestibular e decidiu morar por lá mesmo. Não nos vimos mais, apenas a acompanhava pelas redes sociais. Seria bom revê-la.

— Vai sim, filha. Ela vai adorar te ver.

***

O sol já estava alto quando comecei a preparar o almoço. O cheiro de alho e cebola se misturava ao aroma da terra molhada lá fora, e eu sentia uma paz estranha ao organizar a cozinha da casa dos meus pais. Aproveitei para dar uma boa faxina, limpando bancadas, varrendo o chão e deixando tudo no lugar.

Sempre que podia, tentava vir nos finais de semana para cuidar disso, porque sabia que Eduardo aparecia pelo menos duas vezes durante a semana, e era bom deixar tudo arrumado antes.

Enquanto lavava a louça, senti meu pai se aproximar. Ele se apoiou na bancada, observando meu trabalho e falou com um orgulho contido na voz:

— Filha… o Eduardo veio ontem. Acredita que ele vai assumir o cargo de delegado em Belos Campos no próximo mês?

Sorri, enxugando as mãos com o pano, sentindo um misto de surpresa e alegria.

— Fiquei sabendo, pai… e estou feliz por ele. É um passo importante.

Seu sorriso então murchou e ele passou a mão no rosto, visivelmente abatido.

— Por que vocês não fazem as pazes, filha? Não é certo irmãos se ignorarem assim…

Desviei o olhar, sentindo um aperto no peito e suspirei.

— Você sabe o porquê… — murmurei. — Thales não iria gostar.

Ele me olhou, firme e disse com firmeza mas também ternura:

— Lorena… Thales não pode obrigar você a ficar longe do seu irmão.

Forcei um sorriso, tentando não demonstrar o turbilhão de emoções que me apertava o peito.

— Pai… Thales é o pai da minha filha. Ele me ama, eu também o amo. Somos marido e mulher. Tenho que cumprir meu papel de esposa e ficar ao lado dele — disse, tentando que minha voz soasse convincente, mas sentindo o peso de cada palavra.

Ele me observou, e o jeito como me olhou cortou meu coração. Um olhar cheio de compreensão, mas também de dor e desaprovação silenciosa. Balançou a cabeça e suspirou, sentando-se na cadeira próxima à mesa.

— Um dia, minha filha… um dia você vai enxergar tudo. E quando isso acontecer, eu estarei lá, com sua mãe e com Eduardo, para acolhê-la. Sempre.

Respirei fundo, desviando o olhar, sentindo a garganta apertada e não disse nada. Meu pai tinha razão, em parte. Mas, por enquanto, meu lugar era ao lado de Thales, por minha filha. Alana precisava crescer num lar com pai e mãe, e Thales a amava profundamente, como eu também o amava. E mesmo com todo o apoio e amor que eu tinha aqui, no meu lugar seguro, eu sabia que minha decisão era a melhor para minha filha.

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