O sol já começava a baixar quando decidi ir visitar Tatiane.
Laura estava sentada debaixo de um pé de árvore, com as bonecas espalhadas pelo chão, e Alana brincava ao seu lado, concentrada. Mais adiante, Wesley corria atrás de uma bola, com Thor, o cachorro que parecia dividir o coração e o quintal entre as duas casas, acompanhando cada passo.
— Wesley! — chamei, acenando. — Pode chamar sua tia pra mim?
Ele parou de correr, pegou a bola e saiu gritando:
— Tia Tati! Tia Tati!
Sorri com a cena, ajeitando o cabelo que o vento bagunçava. Logo, vi Tatiane surgir na varanda, limpando as mãos em um pano e me olhando surpresa.
Ela estava exatamente como eu lembrava e ao mesmo tempo, diferente. A pele morena brilhava sob a luz suave do fim de tarde, os cachos longos e soltos caíam sobre os ombros, e aquele olhar sereno, acompanhado do sorriso fácil, me fez sentir uma paz instantânea.
— Lorena! — ela exclamou, abrindo um sorriso ainda maior.
Antes que eu dissesse qualquer coisa, ela já estava descendo os degraus e me abraçando com força. Retribui o abraço, sentindo aquele carinho sincero que só a Tati tinha.
— Nossa, quanto tempo! — ela disse, ainda rindo, enquanto me puxava pra varanda. — Pensei que tinha esquecido da gente!
— Nunca — respondi, sorrindo. — A correria é que não tem deixado muito tempo livre.
Nos sentamos nas cadeiras da varanda, uma de frente pra outra, enquanto o som das brincadeiras das crianças continuava ao fundo.
— E então, como estão as coisas? —perguntei, cruzando as pernas. — Já decidiu se vai ficar de vez em Bela Flor?
Ela balançou a cabeça, sorrindo.
— Acho que não…. — Sorriu de leve. — Acredito que vou acabar indo pra Belos Campos — disse, dando um meio sorriso. — Lá tem mais oportunidade de emprego.
Assenti, compreendendo.
— Faz sentido. Lá é maior, tem mais escolas, mais movimento...
— É — ela concordou. — Ser professora não é fácil, mas a gente sempre dá um jeito, né?
— Você vai conseguir, Tati. Sempre foi muito inteligente e dedicada.
Ela riu, balançando a cabeça.
— Obrigada, amiga. — E então me olhou curiosa. — E você, como estão as coisas por lá? O trabalho, a vida... o casamento?
Ajeitei uma mecha de cabelo atrás da orelha e sorri, tentando resumir tudo em poucas palavras.
— As coisas estão caminhando. Consegui um novo trabalho essa semana, na Nexarte.
Os olhos dela se arregalaram, surpresa.
— Sério? A Nexarte? Eu já ouvi falar dessa empresa! É bem conceituada, né?
Assenti, animada.
— Sim! Fiquei muito feliz. A equipe é ótima, e o ambiente parece incrível.
Tatiane sorriu de volta, com aquele olhar que misturava orgulho e carinho.
— Que bom, Lô. Você merece isso.
Fiquei em silêncio por um instante, mexendo no cordão que trazia no pescoço, antes de responder à pergunta que ela tinha deixado no ar.
— E o casamento... — sorri de leve, respirando fundo — tá indo bem.
Ela me observou por alguns segundos, sem dizer nada. Aquele olhar dela sempre parecia ver além das palavras. Depois de um momento, apenas sorriu, doce.
— Que bom, Lorena. É bom saber que você tá feliz… e em família.
Assenti, devolvendo o sorriso, mas senti o coração apertar um pouquinho, aquele tipo de aperto que a gente tenta disfarçar com calma, mesmo sabendo que lá no fundo, ainda tem coisa pra arrumar dentro da gente.
***
14/03 - Segunda
A porta de vidro da empresa deslizou com aquele som suave que eu conheço tão bem, mas meu coração, esse, não deslizou suave não. Ele deu um pulo direto para a garganta quando minha vista esbarrou no... elevador.
Parecia até que a cabine de metal me encarava com um lembrete brilhante e ameaçador da minha própria fraqueza.
Minha mente atraiu memórias do pânico, do ar que faltava, da escuridão... e do abraço. Não. Melhor não pensar nisso.
Decidi subir até o terceiro andar pelas escadas. Cada degrau parecia mais pesado que o outro, mas eu precisava desse tempo para organizar a mente antes de encarar o resto do dia.
— Bom dia, Sr. Fernando. É um prazer vê-lo de novo.
— O prazer é todo meu, Lorena. A equipe de vocês sempre entrega um trabalho excelente — o cliente respondeu.
Eu me permiti um segundo para observá-la. Depois daquele estranho "bom dia" na sala dela, ela parecia mais centrada, mais no controle. O susto do elevador, pelo menos aparentemente, tinha ficado para trás.
Era um alívio, já que eu ainda me sentia um pouco... sei lá, exposto, depois de ter contado aquela história de infância para acalmá-la.
Nos sentamos, e eu tomei a frente, abrindo a apresentação no telão.
— Então, Fernando, peguei todas as suas ideias da última conversa. Você quer algo que passe clean, luxo acessível, mas com um toque orgânico, certo? Muito branco, dourado rose, e aquelas fotos com texturas naturais, como mármore e folhas tropicais.
— Exatamente, Rafael! Você captou perfeitamente o conceito — ele confirmou, animado. — Quero que a mulher que comprar meu produto se sinta em um spa de Bali, não numa prateleira de farmácia.
— Perfeito. A Vanusa já começou a esboçar algumas ideias de paleta de cores e tipografia baseadas nisso.
Fiz questão de puxar o nome dela, de dar o crédito. Ela merecia.
Foi nesse momento que Lorena se inclinou para frente para pegar uma pasta que estava um pouco mais longe, na cadeira ao lado. O movimento foi simples e rotineiro.
Ela esticou o braço direito, e a manga da blusa social de algodão, que não era justa, subiu alguns bons centímetros.
E foi então que eu vi.
No seu antebraço, nítido contra a pele clara, um conjunto de marcas arroxeadas o contornavam. A forma era inconfundível. Eram dedos, a marca de uma mão que a agarrou com força brutal.
A violência do gesto estava estampada na sua pele como um selo de dor.
O mundo parou por uma fração de segundo e o som da voz do Fernando sumiu. Tudo o que existia era aquele roxo cruel no braço dela. Todas as minhas suspeitas, todas as mangas compridas em dias quentes, todo o medo que eu via às vezes no fundo dos olhos dela... tudo se materializou naquela imagem.
Uma fúria fria e impotente subiu pelo meu peito, tão intensa que eu senti um gosto metálico na boca.
Lorena deve ter sentido o peso do meu olhar. Ela completou o movimento, puxou a pasta e, num reflexo rápido e nervoso, puxou a manga para baixo com a outra mão, como se estivesse apagando uma prova de um crime.
Então, ela ergueu os olhos e os encontrou com os meus.
Foi só um instante, mas o suficiente. Eu vi o pânico, a vergonha, e um pedido silencioso e desesperado: Por favor, não fale nada.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...
Capítulo 293 tá bloqueado sendo que já está entre os gratuitos...
Quantos capítulos são?...
Não consigo parar de ler é surpreendente, estou virando a noite lendo. É tão gostoso ler durante a madrugada no silêncio enquanto todos dormem. Diego e Alice são perfeitos juntos, assim como Alessandro e Larissa...
Maravilhoso,sem palavras recomendo vale muito apena ler👏🏼👏🏼...
Quem tem a história Completa do Diogo?...