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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 313

Eu desviei o olhar imediatamente, voltando minha atenção para o Fernando, com o rosto tentando manter uma expressão neutra e profissional. Meu coração batia como um tambor dentro do meu peito.

— Como eu ia dizendo... — minha voz saiu um pouco rouca, e eu precisei limpar a garganta. — ...a tipografia vai seguir essa mesma linha, algo elegante e com serifas finas.

A reunião continuou enquanto eu falava, apresentava, concordava, tudo no piloto automático. Minha mente, porém, estava longe dali. Estava naquele elevador, no abraço que eu dei para confortá-la, no marido dela esperando com aquele olhar penetrante na recepção e agora essa marca nela…

Agora não, eu pensei, forçando-me a focar no slide na minha frente. Agora não, Rafael. Este não é o momento.

Olhei para ela novamente e seus olhos estavam cheios de pavor. Um medo puro e gelado de que eu tivesse visto. Um silêncio gritante passou entre nós, no meio da minha explicação sobre paletas de cores.

Eu... eu não sabia o que fazer ou o que dizer. Meu cérebro travou. A raiva era uma coisa quente e súbita subindo pela minha nuca, mas a preocupação era maior. Muito maior.

— Como eu ia dizendo... — a minha voz saiu um pouco rouca, e eu precisei engolir seco. — ...as cores pastel vão ajudar nessa atmosfera suave.

Tentei me reconcentrar nos slides, mas as palavras pareciam ter perdido o sentido.

Eu não disse nada. Aquele não era o lugar, nem a hora. Mas uma coisa era certa: alguém tinha feito aquilo nela e eu tinha uma terrível suspeita de quem.

A porta da sala de reuniões se fechou com um clique suave, cortando o último "Até mais!" animado do Sr. Fernando. O silêncio que ficou para trás era pesado e espesso, um contraste brutal com a energia profissional de minutos atrás.

Meus olhos se fixaram nela.

Lorena estava de costas para mim, recolhendo as canetas e os blocos de anotações vazios com uma precisão quase mecânica. Seus dedos tremiam levemente, podia ver a tensão nos seus ombros, aquela linha rígida que subia pela sua nuca.

Ela estava se esforçando ao máximo para parecer normal, e era exatamente isso que a entregava. Ela estava muito mais nervosa do que o normal.

Respirei fundo. Não dava para ignorar, não depois do que eu tinha visto.

— Lorena... — comecei, tentando dosar minha voz entre a calma de um chefe e a preocupação genuína que estava me corroendo por dentro.

Ela se virou de supetão, como se eu tivesse gritado. Seus olhos, já estavam cheios de uma defensividade desesperada.

— Eu caí.

A frase saiu cortada, afiada. Uma admissão rápida demais, jogada no ar como um escudo.

Eu franzi o cenho, cruzando os braços.

Nunca que aquilo era marca de uma queda. Eu já tinha me esborrachado em escadas, já tinha batido o cotovelo em quina de parede até ficar dormente. Não era assim. A marca que eu vi era... circular. Como se alguém tivesse enfiado os dedos na carne dela e apertado com muita força.

Minha mente, traiçoeira, foi direto para aquele cara. O marido, Thales. A postura rígida dele, a maneira possessiva como ele a puxou para longe depois do elevador. A imagem da mão dele no braço de Lorena naquela noite se sobrepôs à marca roxa que eu tinha acabado de ver.

Será que...

Balancei a cabeça, esfregando o rosto com as duas mãos numa tentativa de limpar aquele pensamento horrível. Um cansaço súbito, mais mental do que físico, tomou conta de mim.

Isso não é da sua conta, Rafael. Ela é casada. Ela é sua funcionária. Ela te pediu para não se meter.

Mas e se fosse verdade? O que eu faria? Denunciar? Com o quê? O testemunho de um chefe que viu uma marca roxa? Eu destruiria a carreira dela, o casamento... e talvez, piorasse tudo para ela.

A lógica era clara: afaste-se. Mas o instinto... gritava que eu não podia simplesmente virar as costas.

Com um suspiro profundo que não aliviou nada, saí da sala. Em vez de virar à direita, em direção ao meu escritório e à pilha de trabalho que me esperava, virei à esquerda.

Fui direto para a copa porque precisava de um café. Não um café gourmet, daqueles que a gente serve para cliente. Mas um café preto, forte e amargo, daqueles que acordam não só o corpo, mas também a consciência. Eu precisava acordar daquele mal-estar e descobrir o que diabos eu ia fazer a seguir.

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