Entrar Via

Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 314

A porta da garagem deslizou com um silvo suave e eu estacionei o carro no seu lugar exato, como sempre. O silêncio da minha casa era um alívio e uma condenação ao mesmo tempo.

Desliguei o motor e fiquei ali por um minuto com a cabeça apoiada no volante, tentando apagar a imagem que estava queimada na minha retina daqueles dedos roxos no braço da Lorena.

Ela me evitou o dia inteiro enviando e-mails onde uma simples passada na minha sala resolveria. Desvios pelos corredores. Até o almoço ela deve ter comido escondida na sala, sei lá. E eu, como um idiota, respeitei o seu espaço, mesmo me consumindo por dentro de preocupação.

Abri a porta e entrei.

O som me atingiu primeiro com a trilha sonora dramática do Titanic. E então eu a vi Milena, enfiada no canto do sofá, com um pote de sorvete meio vazio no colo e uma verdadeira constelação de lenços de papel espalhados ao seu redor.

Ela olhou para mim com os olhos vermelhos e inchados.

— Estou no momento 'homens são uns idiotas' da minha terapia — anunciou, com a voz um pouco rouca.

Eu ergui uma sobrancelha, cansado até para sorrir.

— Jack morreu há mais de cem anos, Milena. Supera.

— Ele a salvou! Ela sobreviveu por causa dele! E o meu? O meu me traiu com a secretária! — ela retrucou, apontando para a TV com a colher.

Senti um aperto no peito. Secretária. A palavra soou como um sino funesto.

Virei as costas e fui direto para a cozinha porque de repente, precisava de água,

— Nossa, que cara de quem perdeu o melhor amigo — ouvi a voz dela mais perto. Ela tinha me seguido e agora estava sentada na bancada da cozinha, me observando como um falcão. — O cliente comeu seu projeto e cuspiu?

Enchi o copo de água e bebi um longo gole, evitando seu olhar.

— Algo assim.

O silêncio se instalou, pesado e eu podia sentir o peso do seu julgamento, mesmo sem ela dizer uma palavra.

— Fala aí, Rafa. — ela insistiu e sua voz perdeu um pouco o tom de brincadeira. — Tá me estranhando aqui em casa? Já está cansada de ter uma hóspede?

Finalmente olhei para ela e percebi que parecia vulnerável, mas também determinada. Era a minha irmã, ela nunca ficaria em um lugar que achasse estar sendo um incômodo.

E também era a única pessoa com quem eu podia ser realmente honesto naquele momento.

— Não, para com isso — disse,minha voz soando mais cansada do que eu queria. — E você é a única coisa boa no meu dia hoje. É... sobre o trabalho.

Ela franziu a testa.

— Funcionário dando problema? Aquele estagiário que sempre chega atrasado?

Eu hesitei.

A palavra estava na ponta da minha língua, um segredo pesado que eu não tinha certeza se queria soltar. Mas a necessidade de desabafar era maior.

— É a Lorena, minha secretária.

Imediatamente, um leve sorriso surgiu nos seus lábios, e um brilho malicioso apareceu nos seus olhos ainda vermelhos.

— Ah, tá. A secretária bonita?

— Milena, pelo amor de Deus — eu disse, fazendo uma cara de quem já estava exausto dessa linha de pensamento. — Não é isso. É... — Esfreguei meu rosto com as mãos, como se pudesse apagar a fadiga. — Eu acho... tenho quase certeza... que o marido bateu nela.

O clima na cozinha mudou instantaneamente e o ar pareceu sair da sala. O sorriso de Milena desapareceu, substituído por uma expressão de choque puro.

A traição do Ethan dela era uma coisa. Isso era outra, muito mais sombria.

Ela tinha tocado no cerne da questão. Não era sobre regras. Era sobre humanidade.

E eu, no fundo, sabia que ela estava certa.

(Lorena)

Fechei a porta do apartamento e encostei as costas nela, como se pudesse bloquear o mundo do lado de fora. O clique da fechadura ecoou no silêncio.

Um silêncio pesado, absoluto.

Thales tinha voltado para São Paulo.

Deixei a bolsa no aparador e arranquei os saltos, sentindo um alívio instantâneo nos pés doloridos, mas nenhum na alma. Aquele silêncio era um alívio, sim, mas também uma condenação. Sem a TV alta, sem os passos pesados dele, não tinha como distrair meus próprios pensamentos. Eles vinham altos, estridentes, como gritos dentro da minha própria cabeça.

Fui até a cozinha, abri o freezer e peguei um pacote de carne moída. Coloquei no micro-ondas para descongelar e apoiei as mãos na bancada, fechando os olhos. E foi como se eu tivesse puxado o gatilho de uma memória.

O olhar do Rafael.

Não o olhar de chefe, não o olhar gentil de sempre. Era um olhar de choque. De preocupação genuína e o pior, de incredulidade. Ele não acreditou na minha história por um segundo sequer.

Ele viu.

Ele viu as marcas e eu... eu menti na cara dele. Joguei naquele ar de preocupação autêntica a minha história ridícula de "cair da escada".

Soltei um riso baixo, sem nenhuma gota de humor. Soou como um grunhido de desespero. Que história patética. Ele deve me achar uma completa idot. Ou pior, uma mentirosa patética, daquelas que se fazem de vítima.

A vontade era de desmoronar ali mesmo. Mas a vida não para, por isso, respirei fundo, decidida a lavar aquele dia da minha pele. Fui tomar um banho, deixando a água quase quente demais cair sobre mim, tentando apagar a sensação de vergonha.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra