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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 315

Quando saí do banheiro, ainda vestida um roupão, ouvi a porta abrindo e fechando. Meu coração deu um salto instantâneo, um reflexo condicionado pelo medo, antes que meu cérebro lembrasse que era a Alana. A chave dela tinha um chaveiro da Barbie que fazia um barulho de sino..

— Mãe! — sua voz, um cantinho de sol, invadiu o apartamento.

Sai do quarto e lá estava ela, minha luz, com seu uniforme de jiu-jítsu, o cabelo preso num rabo de cavalo desleixado e um sorriso que iluminava o corredor inteiro.

— Oi, minha flor! Como foi a aula?

— Foi incrível! — ela veio correndo e me abraçou, cheirando a suor infantil e energia pura. — A sensei hoje ensinou um golpe novo, um tal de... de... raspagem! É isso! A gente derruba o outro com a perna!

Ela me puxou para a cozinha, tagarelando sem parar, e se enfiou na cadeira da bancada enquanto eu começava a picar cebola para o molho.

— E a Julia, aquela minha amiga que é meio baixinha, ela conseguiu derrubar o Pedro! Ele é tão grandão, mãe, e ela puf! — ela fez um gesto dramático com as mãos. — Foi tão legal! A sensei disse que a gente fica forte pra se defender!

Eu me virei para pegar o alho, meus olhos encontrando o roxo no meu braço sob o roupão. "Fica forte pra se defender." A frase da minha filha ecoou na minha mente, tão inocente e tão cruel ao mesmo tempo. Enquanto ela aprendia a se defender de um oponente num tatame, eu carregava as marcas de um oponente dentro da minha própria casa.

— Que maravilha, amor — falei, tentando injetar toda a alegria que não sentia na minha voz. — Fico tão feliz que você esteja gostando. E a Julia é uma guerreira, hein?

Prestei atenção apenas na voz dela, no fluxo animado das palavras. Era a minha âncora. Enquanto eu ouvia sobre os golpes e as risadas, consegui me perder. Consegui fingir, por alguns minutos, que a minha maior preocupação era o ponto do macarrão.

Quando o jantar estava quase pronto, olhei para ela, que ainda falava sobre a aula.

— Vai tomar um banho rápido, princesa? A janta fica pronta na hora que você sair.

— Pode deixar! — ela pulou da cadeira e correu para o banheiro.

Assim que a porta do banheiro se fechou, o silêncio voltou a descer sobre a cozinha, e com ele, o peso no meu peito, esmagador.

Eu não posso perder aquele emprego.

O pensamento surgiu claro e aterrorizante. Eu gosto do que faço. Gosto do ambiente tranquilo, do respeito, do cheiro de café fresco na copa. E o Rafael é um bom chefe. Era. Agora ele deve me ver com pena, no mínimo. Deve ver uma coitada, uma mulher fraca.

Será que ele vai me demitir? Achar que sou um problema? Que trago drama para o escritório? Não suporto a ideia de ver no olhar dele, a cada dia, aquela pergunta silenciosa. Aquele julgamento mudo que eu já posso sentir, mesmo com ele sem dizer uma palavra.

Mais tarde, depois de contar uma história para a Alana adormecer e beijar sua testa suave, o apartamento ficou em silêncio de verdade. A ausência do Thales deveria ser um alívio, mas agora era um período de ansiedade diferente.

Ele só voltaria em duas semanas. Catorze dias de trégua. Catorze dias sem medo de um olhar mais carrancudo, de uma pergunta que soasse como uma acusação, de um toque que fosse mais forte do que o necessário.

Mas também eram catorze dias para eu me preocupar com a próxima interação com o Rafael.

— O que eu faço amanhã? — sussurrei para o vazio da sala. — Como eu encaro ele? Preciso agir normal, como se nada tivesse acontecido.

Mas como agir normal quando ele viu a minha vergonha? Quando ele testemunhou, sem eu querer, o segredo mais feio da minha vida?

Meu celular estava na mesa de centro. Estiquei o braço e peguei. A tela se iluminou, mostrando a foto de perfil do Thales. Era uma foto antiga, de quando nos casamos. Ele sorria, com o braço em volta dos meus ombros, e eu encostava a cabeça no ombro dele, com um sorriso que, na época, era verdadeiro.

Uma onda de confusão me atingiu, tão forte que me faltou o ar. O amor que um dia eu senti, intenso e cego, se mesclou com o medo gelado que eu sinto agora. E então, veio a culpa. Uma culpa pesada e suja, por secretamente apreciar a distância física dele. Por encontrar um pouco de paz justamente na sua ausência.

Desliguei o celular e deixei a escuridão do apartamento me engolir. Amanhã era outro dia. E eu não tinha a menor ideia de como iria enfrentá-lo.

15/03 - terça

A terça-feira amanheceu com aquele sol forte que prometia um dia abafado. Enquanto me arrumava, escolhi a dedo uma blusa leve o suficiente para o calor, mas longa o suficiente para cobrir... bem, para cobrir tudo.

O cheiro de café tomou conta do apartamento. Alana já estava na cozinha, vestindo seu uniforme, os pés balançando sob a cadeira.

Capítulo 14 - Lorena 1

Capítulo 14 - Lorena 2

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