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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 316

Levei a mão ao peito, sentindo o coração bater descompassado. Ele tinha me olhado, sim. Com uma intensidade que me assustou. Mas depois... agiu com total normalidade como se não tivesse visto nada. Como se acreditasse na minha mentira ridícula sobre a escada.

Uma onda de alívio, tão forte que quase me deixou tonta, lavou sobre mim. Ele não ia falar sobre isso e nem me confrontar.

Não ia me olhar com aquela pena que eu tanto temia.

É melhor assim, pensei, enquanto caminhava de volta para a minha sala, me sentindo mais leve. É muito melhor assim. Ele vai fingir que não viu, e eu vou fingir que nada aconteceu. Podemos seguir em frente.

Abanei a cabeça, dissipando os pensamentos. Tinha uma pilha de relatórios para revisar e mergulhei de cabeça no trabalho, deixando os números e as planilhas consumirem minha mente pela manhã toda.

Estava tão concentrada, que não percebi de primeira a pessoa na porta, só quando ela deu uma leve batidinha na porta, foi que ergui o olhar e vi Rafael parado ali.

— Posso? — ele perguntou.

— Claro, entre.

Ele entrou, mas ficou perto da porta com as mãos nos bolsos da calça, num jeito que tentava parecer descontraído, mas que eu já conhecia como sinal de que ele tinha algo importante para dizer.

— Preciso de um apoio no almoço com um cliente potencial, o Sr. Giovanni. Vamos apresentar a proposta inicial. O restaurante é o Il Tartufo, meio-dia em ponto. Você acha que pode vir comigo?

Meu coração deu um salto e depois acelerou, batendo contra as minhas costelas como um passarinho assustado.

— Claro — eu disse, esperando que minha voz não traísse o turbilhão interno. — Sem problemas. Eu levo o Ipad e anoto os pontos principais.

— Perfeito. Ele é um personagem, então toda ajuda é bem-vinda. Nos encontramos na recepção às 11:45? — perguntou, e eu simplesmente assenti com a cabeça. — Ótimo. Até já.

E saiu, deixando-me com o coração ainda aos tropeções.

Pouco antes do meio-dia, peguei minha bolsa e desci para a recepção. Ele já estava lá, e me cumprimentou com um breve aceno antes de sairmos para o estacionamento coberto.

Ele destravou e foi a primeira vez que eu vi seu carro. Era uma escultura de metal prateado, baixa, larga, com linhas que pareciam cortar o ar mesmo parado. Um Porsche 911 Turbo S. Eu só sabia o modelo porque o Thales uma vez ficou babando por um em uma revista. Um carro de milhões.

Rafael destravou as portas com um clique discreto e a porta subiu para o lado, como a asa de um inseto futurista.

— Vamos — ele disse, gentilmente.

Entrei e foi como sentar numa cápsula de luxo. O interior era de um couro que cheirava a novo, com costuras perfeitas e uma parede de telas que brilhavam suavemente. O silêncio era quase absoluto. Sentei-me, coloquei a bolsa no colo e prendi a respiração, tentando não parecer uma impressionada. Eu nunca tinha entrado em um carro sequer perto daquele, mas morreria antes de deixar transparecer.

Ele entrou do outro lado, o espaço era tão compacto que eu podia sentir o leve calor do corpo dele e o cheiro do seu perfume, algo amadeirado e limpo.

O motor rugiu para a vida com um ronco profundo e gutural que ecoou pelo meu corpo inteiro antes de suavizar para um zumbido quase silencioso. Ele colocou o cinto e eu fiz o mesmo, meus movimentos um tanto travados.

Ele deve ter notado meu silêncio absoluto.

— Desculpa o barulho — ele disse, enquanto saía da vaga com uma suavidade surreal. — É um pouco dramático para ir almoçar, eu sei.

— Não, tudo bem — respondi rapidamente, olhando pela janela enquanto o mundo lá fora passava em um borrão suave. — É... um carro muito bonito.

Assenti, sentindo um fio de confiança. Isso eu podia entender.

— Então a proposta de hoje é mais conceitual, para ver se ele compra a nossa visão para o projeto.

O sorriso dele se abriu um pouco mais, um sorriso de "exatamente".

— Isso. Se ele gostar, aí marcamos com a equipe de criação. — Ele fez uma pausa breve, e seus olhos ficaram sérios por um instante. — Obrigado por vir, é importante ter outro par de ouvidos.

— Claro — respondi, sentindo um calor estranho no rosto. — É minha função.

Nesse momento, o Sr. Giovanni chegou. Era um homem expansivo, de gestos largos e voz que ecoava, mesmo no tom baixo. A reunião fluiu melhor do que eu esperava.

Rafael foi brilhante, articulando a visão de forma que fez os olhos do italiano brilharem. Eu anotei tudo, falando pouco, apenas acrescentando um ponto ou outro quando necessário.

No final, o Sr. Giovanni estava visivelmente encantado. Ele se levantou, apertou a mão de Rafael com vigor e então se virou para mim.

— E você, signorina — ele disse, com seu sotaque carregando as palavras de uma forma musical — tem uma energia muito... calma. Muito boa. Em um mundo de tanta pressa, é raro. Um trunfo para sua equipe, Rafael!

A palavra "calma" caiu sobre mim como um balde de água gelada. Calma? Eu não estava calma. Eu estava paralisada. Cada músculo do meu corpo estava tenso, minha mente era um redemoinho de ansiedade. O elogio, tão gentil e inocente, fez com que eu me sentisse a maior das fraudes. Um trunfo? Eu era uma mentira ambulante.

— Obrigada — consegui dizer, forçando um sorriso minúsculo.

Rafael agradeceu ao cliente com uma palavra final, e no exato momento em que Giovanni se virou para ir embora, os olhos de Rafael encontraram os meus.

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