E não havia julgamento neles. Não havia pena. Havia... compreensão. Uma percepção aguçada e silenciosa. Era como se ele pudesse ver através da minha máscara de profissionalismo e enxergar a tempestade por trás da falsa calma. Aquele olhar durou menos de um segundo, mas foi mais intenso e perturbador do que qualquer palavra que pudéssemos ter trocado.
Na volta para o carro, o silêncio entre nós era diferente. Já não era apenas constrangedor. Era pesado, carregado de algo complexo e não dito. Eu me sentia grata por ele ter tentado me colocar à vontade, por ter agido com tanta normalidade. Mas ao mesmo tempo, me sentia mais vulnerável do que nunca. Porque aquele olhar provava uma coisa: ele não tinha esquecido. E ele era capaz de ver muito mais do que eu gostaria.
Enquanto o Porsche deslizava silenciosamente pelas ruas, uma única pergunta ecoava na minha mente, aterrorizante e, secretamente, um pouco esperançosa: "O que mais ele consegue ver em mim?"
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(Visão de Rafael)
A Milena tinha me arrastado para o shopping sob a ameaça de escolher sozinha um sofá cor-de-rosa "horrível" para o apartamento que nossos pais deram a ela quando fez 18 anos e que ficou fechado todos esses anos. Eu estava no meio de uma loja de móveis, cercado por almofadas e tecidos, quando um telefonema de trabalho me salvou.
— Preciso atender isso — disse para minha irmã, já segurando o celular. — Já volto.
— Foge não! — ela gritou, mas eu já estava me afastando com um sorrio de alívio.
Encontrei um cantinho mais quieto perto da praça de alimentação, atendi e resolvi a questão em dois minutos. Quando desliguei, meu olhar vagou sem destino pelo movimento até que vi Lorena.
Ela estava sentada numa mesa de um restaurante ali do lado, a uns cinco metros de distância. Mas era uma Lorena que eu nunca tinha visto. Usava um vestido azul claro, simples, e sandálias. O cabelo, sempre preso de forma impecável no trabalho, estava num rabo de cavalo casual, com alguns fios soltos perto do rosto. Ela parecia... mais leve.
Uma menina então se aproximou, a pequena versão dela, com cabelos dourados e os mesmos olhos claros, correu em sua direção, segurando uma daquelas bolinhas baratas que se pegam nas máquinas de garra.
— Mamãe, olha! — a menina disse empolgada, estendendo o prêmio.
E então aconteceu algo que eu nunca tinha presenciado antes… Lorena, minha secretária, sorriu.
Não era o sorriso educado e contido que ela dava no escritório. Era um sorriso que iluminava o seu rosto inteiro, que chegava aos olhos e fazia pequenas rugas de felicidade aparecerem em seus cantos. Era genuíno, aberto e puro. Eu fiquei paralisado, observando. Então é assim que ela é, pensei, com uma pontada de algo que não consegui nomear. É assim que ela deveria ser sempre.
Ela pegou a bolinha da mão da filha, exagerando a admiração.
— Nossa, que linda, Alana! Que cor mais bonita! — E guardou a bolinha na bolsa com um cuidado que era quase uma reverência.
Foi nesse momento que ela ergueu os olhos e me viu.
O sorriso desapareceu instantaneamente, substituído por um piscar de olhos confuos. Ela se endireitou na cadeira, como um soldado avistando o inimigo. A menina, Alana, seguiu o olhar da mãe e ficou me encarando com curiosidade.
— Quem é, mamãe? — ouvi a vozinha dela perguntar.
Não dava mais para fugir. Sorri, o mais calmamente que pude, e me aproximei.
— Olá, Lorena. Desculpe a intromissão no passeio de vocês — disse, mantendo a voz suave.
Ela se levantou rapidamente, quase derrubando a cadeira.
— Rafael! Oi! Não, tudo bem... é que...
— Olá, eu sou a Alana — a garotinha se apresentou sem nenhuma timidez, com um sorriso que era uma réplica perfeita daquele que a mãe tinha dado momentos antes.
— Muito prazer, Alana. Eu sou o Rafael — disse, agachando um pouco para ficar mais à altura dela. — Trabalho com a sua mãe.
— Você é o chefe dela?
— Isso mesmo. E ela é uma ótima profissional.
Assim que nos afastamos, virei para a minha irmã.
— Milena, pelo amor de Deus, o que foi aquilo?
Ela me olhou com um sorriso ainda mais largo.
— O quê? Fui educada. Convidei uma colega para a minha festa. — Ela me deu uma cotovelada. — E pelo que eu vi, você não tirava os olhos dela. Achei que precisava de uma ajudinha.
— Milena, pelo amor de Deus, ela é casada! Tira isso da sua cabeça, sabe que eu nunca me envolveria com uma mulher comprometida — Minha voz saiu mais áspera do que eu pretendia. — E você convidou uma mulher que você nunca viu na vida para a sua festa de aniversário?
Ela deu de ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
— E daí? Eu gostei dela. Parece ser gente boa e a filhinha é um amor. Quero me aproximar, ué. Quero... poder ajudar de alguma forma.
Parei no meio do corredor, forçando ela a parar também, e olhei sério para os seus olhos.
— Ajudar? Milena, isso é um assunto delicado demais. A maioria das mulheres que passam por... por situações assim, não gostam de sair por aí falando o que acontece. Elas sentem vergonha e medo. Você chegar assim, do nada, pode assustá-la mais do que ajudar.
Ela suspirou, mas não desviou o olhar.
— Eu sei disso, Rafa. Não sou idiota e não vou chegar nela e falar "oi, vi que seu marido é um babaca, quer desabafar?". Claro que não! — ela falou, baixando a voz. — Eu vou me aproximar. Mostrar para a sua secretária que ela pode ter uma amiga. Alguém com quem conversar sobre outra coisa, sabe? Alguém que não é do trabalho. E você devia fazer o mesmo.
— Eu? — disse, negando a cabeça. A ideia era absurda. — Milena, o esposo dela parece ser muito ciumento. Eu, como chefe, me aproximar dela fora do trabalho? É pedir para causar um problema gigante para ela. De jeito nenhum.
— Não é sobre se aproximar para isso — ela revirou os olhos, exasperada. — Você é tão literal às vezes! Não precisa ter interesse sexual numa pessoa para tratá-la com respeito e gentileza, Rafael! É só você ser o homem de bom coração que você é. O cara maravilhoso que sua irmãzinha sempre admirou. — Ela tocou no meu peito com a ponta do dedo. — Ela precisa ver que nem todos os homens são idiotas iguais ao marido dela. Precisa de um contraste, um exemplo do que é normal!

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Afff piorou, agora não são dois, é nadaaaa!!!...
Vou fazê-lo novamente!!!! Dois capítulos por dia é um desrespeito!!!...
Ué cadê meu comentário?...
Esse é o terceiro livro, os dois primeiros caminharam bem, mas agora só dois capítulos por dia é muito pouco. Lembre-se de seu compromisso com os leitores...
Cadê o capítulo 319???????? Não tem?????...
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...