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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 318

Fiquei olhando para minha irmã, um pouco surpreso com a lucidez daquela lógica. Mas antes que eu pudesse responder, a fúria que ela guarda desde a traição do Ethan começou a borbulhar para a superfície.

— Porque aquele... aquele desgraçado do marido dela — ela cuspiu a palavra, começando a caminhar de novo com passos rápidos, e eu tive que acelerar para acompanhá-la. — A profissão dele devia ser para proteger. Devia começar protegendo a mulher com quem ele se casou e jurou cuidar no altar! E ele faz o contrário! Desgraçado! — Ela estava quase gritando, e algumas pessoas se viraram para olhar. — Ele suja a imagem de todos os policiais responsáveis e de todos os maridos decentes também!

De repente, ela parou de vez e se virou para mim de forma tão brusca que eu quase esbarrei nela. Seus olhos estavam flamejantes.

— Se eu encontrar esse cara, eu vou ser presa. Com certeza. Porque eu vou acertar a cara dele com um soco bem forte. — Para ilustrar, ela ergueu o punho fechado, num gesto de pura raiva contida.

Não pude evitar e um riso escapou dos meus lábios, misturado com um suspiro de incredulidade. Peguei o seu punho com cuidado e abaixei o braço.

— Se acalma, menina brava — eu disse, tentando conter o sorriso. — Violência não resolve nada. E é justamente o que a gente está tentando evitar que aconteça com ela, lembra?

Ela apenas fungou, puxando o braço de volta.

— Tá, tá. Mas a vontade é essa. — Ela então apontou para uma loja à frente, cheia de móveis coloridos e de design duvidoso. — Vamos lá. Preciso escolher uma cabeceira.

Eu encarei a fachada da loja, um templo do mau gosto, e senti o peso do mundo nos meus ombros. Móveis estranhos eram o de menos. Minha irmã era um furacão imprevisível, e ela tinha acabado de jogar uma bomba no centro da vida já complicada da Lorena. E o pior de tudo? No fundo, eu sabia que a Milena, no seu estilo único e caótico, tinha razão. Mas como fazer isso sem destruir tudo?

***

Sexta-feira

Meu celular vibrou no porta-copos do Porsche como um inseto zangado. A tela mostrava o nome da minha mãe e um frio passou pela minha nuca. Minha mãe só ligava nesse horário de trabalho em duas situações: ou era uma emergência, ou era sobre ele.

Atendi pelo viva-voz, tentando manter a voz calma.

— Oi, mãe. Tudo bem?

— Rafael... — sua voz saiu trêmula, e o frio na minha nuca se espalhou pelo corpo todo. — É sobre o seu pai, você precisa vir. O Antônio apareceu aqui.

O nome caiu como uma bomba dentro do carro. Antônio. Meu tio. A cicatriz que nunca fechou direito na nossa família.

— O que aquele desgraçado quer? — a pergunta saiu mais como um rosnado. Eu já estava guinando o carro para o próximo retorno, rumo a Pedra Vermelha.

— Ele está dizendo que a dívida antiga... aquela que quase nos quebrou... ele diz que tem documentos que provam que o seu pai era ciente de tudo, que era sócio dele no desvio. Está ameaçando jogar tudo para os acionistas se seu pai não "fizer um acerto" com ele.

Uma onda de raiva tão pura e quente tomou conta de mim que por um segundo minha visão ficou embaçada.

— Ele está mentindo! Meu pai quase teve um infarto na época, ele perdeu o sono, emagreceu 10 quilos! Ele é o homem mais honesto que eu conheço!

— Eu sei, filho, eu sei — a voz da minha mãe era um fio, cheia de uma exaustão de décadas. — Mas o seu pai... você conhece ele. Ele está lá fora no jardim, tentando discutir com o Antônio. Estou com medo da pressão dele subir.

— Coloca o pai no telefone, Mãe. AGORA.

Ouvi o som abafado da chamada, o vai e vem de vozes, e então a voz grave do meu pai, mas rachada por uma emoção que eu raramente ouvia.

— Rafael, não precisa vir. Eu resolvo.

— Pai, afaste-se dele. Não fale mais uma palavra. O Antônio é um desgraçado e cada palavra que o senhor diz ele vai torcer para usar contra o senhor. Onde ele está?

— Está aqui no portão. Diz que não sai sem uma resposta.

— Entregue o telefone para ele.

— Filho...

— Pai, por favor.

Ouvi o ruído da troca e então, uma voz oleosa e falsamente cordial que fez meus dedos se apertarem no volante.

— Rafael? Meu querido sobrinho! Que honra...

— Não... não é possível. Eu testei, juro que testei! — sua voz quebrou de medo, ele parecia prestes a chorar. — Minha mãe vai me matar se eu perder esse estágio...

Meu coração apertou. Eu conhecia aquele desespero, e me vi naquela idade, com medo de cometer o primeiro erro grande.

— Respira, Gael — disse, baixinho. — Erros acontecem, o importante é consertar.

Nesse momento, o telefone da mesa do Gael tocou. Era o Giovanni de novo, e sua voz era tão alta que dava para ouvir de onde eu estava. Peguei o telefone da mão do garoto, que estava paralisado.

— Sr. Giovanni, é a Lorena. Olhe, investigamos e foi um erro de implementação. Foi um erro da nossa equipe, e assumimos total responsabilidade. Estamos corrigindo agora mesmo e em 15 minutos mandaremos o novo link, funcionando perfeitamente. Além disso, vamos incluir um código de desconto de 10% para todos os clientes da lista, como forma de nos desculpar pelo transtorno.

Tentei transmitir confiança e controle. Era mentira? Não. A responsabilidade era da equipe, no final das contas. Eu só não ia jogar o Gael, um garoto assustado, para os lobos.

Foi quando senti uma presença atrás de mim. Uma energia pesada e carregada. Virei e quase deixei o telefone cair.

Era o Rafael. Mas não era o Rafael que eu conhecia. Seu rosto estava fechado, os olhos, que normalmente eram cálidos, estavam frios como gelo. Ele não tinha acabado de chegar; ele tinha ouvido tudo.

Sem dizer uma palavra para mim, ele focou no Gael. Sua voz não era alta, mas era cortante como uma lâmina.

— Gael, no meu escritório. Agora.

O estagiário pareceu querer se dissolver na cadeira. Seus olhos estavam arregalados de terror. Ele se levantou, trêmulo, e seguiu Rafael como um cordeiro para o abate.

Eu senti um calafrio.

— Rafael, eu posso... — comecei a dizer, tentando explicar e proteger o garoto mais uma vez.

Mas ele se virou para mim, e o olhar que me deu me fez engolir seco.

— Lorena, apenas faça o seu trabalho. Você não está sendo paga para consolar funcionário. — A frase foi um golpe baixo, direto e sem qualquer vestígio da gentileza que eu associava a ele.

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