(Rafael)
Assim que cheguei do lado de fora do hospital, peguei o celular e fiquei olhando para ele por alguns segundos, antes de abrir a agenda e parar no número de Lorena. O nome dela aparecendo na tela me fez engolir seco. Eu queria ligar. Queria me desculpar por ter sido tão grosso. Mas cada vez que pensava no que dizer, as palavras simplesmente sumiam. Talvez fosse melhor encarar ela pessoalmente.
Passei a mão no rosto, tentando afastar o peso que vinha no peito, e entrei na lanchonete da esquina. O cheiro de café recém-passado me acertou em cheio, trazendo um pouco de calma.
Pedi um expresso duplo e sentei numa das mesas perto da janela. A luz amarelada batia no vidro, e eu fiquei ali, mexendo no café, esperando a Milena aparecer.
Tomei o último gole do café já frio quando vi o carro dela entrando no estacionamento do hospital. Suspirei e levantei, ajeitando a jaqueta antes de sair da lanchonete. O vento gelado me acertou no rosto assim que pisei na calçada.
Ela estacionou perto da entrada e, antes mesmo que eu chegasse, já dava pra ver que os seus olhos estavam marejados. Assim que desceu e me viu, veio correndo e me abraçou com força.
— Ei, calma… — murmurei, passando a mão nas suas costas.
Milena respirou fundo, tentando se controlar, mas as lágrimas desciam mesmo assim. Peguei o rosto dela entre as mãos e limpei as lágrimas com os polegares.
— Tá tudo bem? — perguntei baixo.
Ela assentiu, meio sem voz.
— E o pai?
— Tá bem — respondi, olhando pra entrada do hospital por um instante. — Tá estável, pelo menos.
Ficamos ali em silêncio por alguns segundos antes de eu soltar um suspiro pesado.
— Você não precisa contar o que aconteceu com você e o Ethan agora, tá? Só… espera acalmar um pouco mais.
Ela baixou o olhar e assentiu devagar e eu desviei o meu também, coçando a nuca.
— Milena, eu preciso que você segure nossa mãe lá dentro por um tempo, tá bom? — falei.
Ela franziu o cenho.
— Por quê? O que você vai fazer?
— Vou atrás do Genildo.
— O quê? — o seu tom mudou na hora, quase um grito e então segurou meu braço com força. — Rafael, não! Por favor, não faz isso… com o Douglas foi assim também, lembra? Você não pode ir!
Segurei seus ombros e a puxei de leve pra perto, abraçando de novo. Beijei a sua testa e olhei em seus olhos. — Fica calma, maninha…Eu não vou sair feito um louco, estou com raiva, mas calmo.
— Calmo? — ela balançou a cabeça, desesperada. — Você fala isso toda vez!
— Eu só vou fazer o nosso tio parar de procurar o pai, só isso. — Minha voz saiu mais firme do que eu queria, mas era a verdade.
— E o que você vai fazer, então? — ela perguntou com a voz falhando.
Forcei um sorriso.
— Primeiro você precisa se acalmar. Depois a gente conversa, tá bom? Eu preciso ir.
— Rafael… — ela tentou me segurar de novo.
— Não conta nada pra mãe, ouviu? Eu volto ainda hoje.
Ela respirou fundo, hesitou, e por fim assentiu, mesmo com os olhos cheios d’água.
Eu dei um último olhar pra ela antes de me afastar e entrar no carro. Liguei o motor, e o som do motor abafou o turbilhão de pensamentos que vinha na minha cabeça.
Dirigi até o bairro onde meu tio morava, se é que ainda dava pra chamar aquilo de bairro. Era uma área afastada, cheia de casas velhas e muros descascados. A rua estava quase deserta, só um cachorro magro fuçando um saco de lixo na esquina.
Quando parei o carro em frente aos portões de ferro, senti um aperto no peito. A casa estava caindo aos pedaços com janelas quebradas, o muro com rachaduras e o mato crescendo até na calçada. Ironia do destino. Depois do que ele fez com a empresa do meu pai, Genildo até tentou abrir outra… mas ninguém mais confiava nele.
O “homem de negócios” tinha virado só mais um fracassado brigando com a própria sombra.
Desci do carro e, pra minha surpresa, o portão estava entreaberto. Suspirei. Aquilo já era sinal de confusão. Empurrei devagar e entrei. A cada passo, dava pra ouvir vozes vindo lá de dentro, gritos, na verdade.
— Eu vou arrumar um jeito de tirar a gente dessa, ouviu?! — a voz de Genildo ecoou rouca, cheia de raiva. — Aquele desgraçado do Augusto passou mal e levaram ele pro hospital… mas eu vou atrás dele depois, vou conseguir mais dinheiro!
— Você não presta pra nada! — gritou Sônia, a mulher dele. — Nem pra chantagear alguém você serve! A gente vai acabar passando fome por sua culpa, seu traste!
Ouvi um barulho alto, algo sendo arremessado no chão, e o gritinho fino dela logo em seguida.
— E se eu souber que você ou essa mulher foram atrás dele, eu juro que vou dar um jeito de acabar com a vida de vocês.
Genildo riu, cuspindo sangue no chão.
— Você já tá ferrado, Rafael. Não me ameaça, não.
Me aproximei, olhando ele de cima.
— Não tanto quanto você imagina. — Inclinei a cabeça, frio. — Eu posso fazer da sua vida um inferno. Aliás, posso começar por...
O som de um carro parando lá fora me fez sorrir. Olhei pra ele e depois pra Sônia, que parecia confusa.
— Vem cá, tio. Vem ver uma coisinha. — falei, abrindo a porta e gesticulando pra eles me seguirem.
Os dois vieram até a varanda, hesitantes. Lá fora, um dos seguranças do meu pai estava jogando gasolina no carro de luxo de Genildo, o mesmo carro que ele fazia questão de exibir pela cidade como se ainda tivesse prestígio.
— O que é isso?! — Genildo gritou com os olhos arregalados. — Você não pode fazer isso!
— Ah, posso sim. — Peguei o isqueiro da mão do segurança e, sem hesitar, acendi. A chama tremulou por um segundo antes de eu jogá-la no carro.
O fogo se espalhou rápido, iluminando a rua com um brilho alaranjado. Sônia deu um grito e segurou o marido pelos braços quando ele tentou correr até o carro.
— NÃO! — ele rugiu, tentando se soltar. — Meu carro!
— Considera isso como um lembrete, tio. — falei, voltando pra perto do meu carro. — O último.
Ele ficou parado, em choque, olhando o carro queimar. Eu entrei no meu, o segurança entrando no carro que ele veio. Liguei o motor e, antes de sair, olhei mais uma vez pra eles.
— Se eu tiver que voltar aqui, Genildo, o fogo não vai ser só no seu carro.
Acelerei, deixando pra trás o cheiro de gasolina e fumaça.
Liguei o som alto com uma música qualquer, só pra abafar o barulho dos meus próprios pensamentos. Fechei os vidros e apertei o volante com força sentindo os nós dos dedos latejarem, mas nem liguei.
A raiva ainda pulsava. Mas, no fundo, o que mais doía… era saber que ele tinha me feito chegar a esse ponto.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Afff piorou, agora não são dois, é nadaaaa!!!...
Vou fazê-lo novamente!!!! Dois capítulos por dia é um desrespeito!!!...
Ué cadê meu comentário?...
Esse é o terceiro livro, os dois primeiros caminharam bem, mas agora só dois capítulos por dia é muito pouco. Lembre-se de seu compromisso com os leitores...
Cadê o capítulo 319???????? Não tem?????...
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...