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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 322

Quando cheguei no hospital, o céu já estava escuro e as luzes da fachada piscavam com aquele tom amarelado que sempre me dava uma sensação estranha, uma mistura de cansaço e tensão. Estacionei o carro no canto mais afastado do pátio e fiquei por alguns segundos com as mãos ainda no volante, respirando fundo.

Peguei o celular e disquei o número da Milena. Ela atendeu no terceiro toque.

— Rafa?

— Desce aqui, por favor. Tô no estacionamento.

— Já vou. — sua voz soava preocupada, e com razão.

Desliguei e fiquei encostado no carro, olhando pro reflexo das luzes na lataria. Uns minutos depois, vi ela saindo pelas portas de vidro do hospital, apressada, abraçando o próprio corpo por causa do vento frio da noite. Sai do carro e ela veio na minha direção, quando chegou perto, franziu o nariz.

— Rafael… por que você tá cheirando a gasolina? — perguntou, com os olhos se arregalando. — O que você fez?

Soltei um meio sorriso cansado.

— Nada demais, só dei um aviso pro nosso tio.

— “Um aviso”? — ela repetiu, cruzando os braços e olhando desconfiada — O que você quer dizer com isso, Rafael?

— Só fiz ele entender que é melhor manter distância do pai. — respondi, desviando o olhar. — Ele precisava de um lembrete e sabia que era apegado aquele carro.

Milena me olhou por alguns segundos, tentando decifrar se eu tava falando sério.

— Rafael… o que você fez com o carro dele?

Suspirei, passando a mão pelo rosto.

— Só… esqueci lá em chamas.

— Meu Deus, Rafael! — ela exclamou, olhando em volta como se alguém pudesse ter ouvido. — Você tá maluco?!

— Ele merecia. — falei firme, encarando ela. — Depois de tudo o que ele fez, depois de todo o inferno que ele causou… alguém precisava colocar um ponto final.

Ela balançou a cabeça, ainda em choque e respirou fundo.

— O pai acordou. — disse por fim, mudando de assunto. — Tá melhor, mas… preocupado com você. Mesmo eu dizendo que você saiu pra resolver umas coisas da empresa, ele e a mãe não acreditaram.

— Eles sabem. — murmurei, olhando pro chão. — Sabem que eu fui atrás dele, né?

Milena assentiu devagar.

— Sabem. E tão com medo do que você possa ter feito.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, sentindo o peso daquelas palavras. O vento gelado bateu e eu passei a mão pelos cabelos, tentando achar um jeito de explicar o que nem eu sabia direito.

— Eu fiz o que achei que precisava fazer, Mi. — falei baixo. — Só isso.

Ela suspirou, com os olhos marejando um pouco.

— E agora?

— Agora… eu vou ver o nosso pai. — olhei pra ela com um sorriso cansado. — E fingir que nada aconteceu.

Ela me encarou, mas não disse nada. Só balançou a cabeça, meio sem acreditar, e me acompanhou até a entrada do hospital.

No fundo, eu sabia que ela tava certa em se preocupar. Mas o estrago já estava feito e eu não me arrependia nem por um segundo.

Empurrei a porta do quarto devagar, tentando que a entrada parecesse natural, como se eu tivesse saído pra tomar um ar e voltado.

O quarto cheirava a remédio e a lençol recém-trocado e meu pai estava deitado. Minha mãe segurava a mão dele, com o rosto marcado pelo cansaço. Milena ficou perto da janela, de olho na rua como se esperasse ver algo acontecer a qualquer momento.

— Ah, aí está você — minha mãe disse antes mesmo de eu chegar perto,com a voz fina. — Onde você tava, Rafael?

Respirei fundo e sorri. "Sorriso de quem esconde o que fez."

— Tive que resolver umas coisas lá fora, Mãe. Coisa do trabalho, desculpa se acabou assustando vocês.

Ela inclinou a cabeça, desconfiada.

— Trabalho? Já é noite, filho. E você cheira… você cheira a alguma coisa. Tem gasolina no seu casaco?

Olhei pro casaco, como se fosse a primeira vez que reparasse. Passei a mão no bolso, procurando algo que não existia.

— Ah, deve ser da rua. Fui abastecer o carro no posto e o frentista fez uma bagunça e acabei me sujando. Nada demais.

Meu pai abriu os olhos devagar, a voz falhando.

— Rafa… você saiu... outra vez? Prometeu que não ia se meter em confusão.

Minha mãe assentiu, ainda meio sem acreditar. Eu saí do quarto com o coração pesado, sabendo que cada passo adiante só complicava tudo mais.

Saí do quarto do meu pai sentindo o peso da mentira nas costas. Ele e minha mãe ainda estavam tentando entender o que estava acontecendo, e eu fingindo que era só um problema bobo de trabalho. Eu sabia que não podia contar nada — pelo menos não ainda.

Quando cheguei no corredor, ouvi a voz da Milena me chamando:

— Rafa! Espera aí!

Parei e virei pra ela. Ela veio apressada, o cabelo meio bagunçado e os olhos preocupados.

— Eu já liguei pra todo mundo que ia pra festa amanhã — disse ela, sem nem respirar. — Tô adiando pra o próximo fim de semana, tá? Fala pra Lorena depois.

Fiquei alguns segundos só olhando pra ela. Lorena. Eu nem lembrava mais da porcaria da festa. Tudo o que eu conseguia pensar era no Genildo, e no que mais ele podia aprontar. Respirei fundo e passei a mão no rosto.

— Tá... eu aviso, — murmurei. — Você vai ficar aqui com eles, né?

Milena assentiu de imediato. — Vou. Não saio daqui hoje. E amanhã fico também. Quero ficar de olho no pai.

Eu olhei pra ela, tentando disfarçar o cansaço e a raiva que ainda fervia dentro de mim.

— Beleza. Qualquer coisa, me liga, tá? — falei, tentando manter o tom leve. — Se acontecer qualquer coisa, se alguém estranho aparecer por aqui, você me avisa na hora.

Ela franziu a testa. — Rafa... o que tá acontecendo? Você tá muito estranho.

Desviei o olhar. — Nada demais. Só... fica atenta, tá?

Ela ainda me encarava, meio desconfiada, mas assentiu. — Tá bom.

Me aproximei e dei um beijo na testa dela. — Cuida deles pra mim.

— Pode deixar, — respondeu baixo.

Virei e comecei a andar pelo corredor. Cada passo parecia pesado. Eu sabia que se ficasse ali mais um minuto, ia acabar deixando escapar o que tava realmente acontecendo. E meus pais não podiam saber. Ainda não.

A raiva que eu sentia do Genildo só crescia. O desgraçado tinha ultrapassado todos os limites.

Saí do hospital e respirei o ar frio da noite. Precisava esfriar a cabeça antes que fizesse alguma besteira.

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