Quando cheguei no hospital, o céu já estava escuro e as luzes da fachada piscavam com aquele tom amarelado que sempre me dava uma sensação estranha, uma mistura de cansaço e tensão. Estacionei o carro no canto mais afastado do pátio e fiquei por alguns segundos com as mãos ainda no volante, respirando fundo.
Peguei o celular e disquei o número da Milena. Ela atendeu no terceiro toque.
— Rafa?
— Desce aqui, por favor. Tô no estacionamento.
— Já vou. — sua voz soava preocupada, e com razão.
Desliguei e fiquei encostado no carro, olhando pro reflexo das luzes na lataria. Uns minutos depois, vi ela saindo pelas portas de vidro do hospital, apressada, abraçando o próprio corpo por causa do vento frio da noite. Sai do carro e ela veio na minha direção, quando chegou perto, franziu o nariz.
— Rafael… por que você tá cheirando a gasolina? — perguntou, com os olhos se arregalando. — O que você fez?
Soltei um meio sorriso cansado.
— Nada demais, só dei um aviso pro nosso tio.
— “Um aviso”? — ela repetiu, cruzando os braços e olhando desconfiada — O que você quer dizer com isso, Rafael?
— Só fiz ele entender que é melhor manter distância do pai. — respondi, desviando o olhar. — Ele precisava de um lembrete e sabia que era apegado aquele carro.
Milena me olhou por alguns segundos, tentando decifrar se eu tava falando sério.
— Rafael… o que você fez com o carro dele?
Suspirei, passando a mão pelo rosto.
— Só… esqueci lá em chamas.
— Meu Deus, Rafael! — ela exclamou, olhando em volta como se alguém pudesse ter ouvido. — Você tá maluco?!
— Ele merecia. — falei firme, encarando ela. — Depois de tudo o que ele fez, depois de todo o inferno que ele causou… alguém precisava colocar um ponto final.
Ela balançou a cabeça, ainda em choque e respirou fundo.
— O pai acordou. — disse por fim, mudando de assunto. — Tá melhor, mas… preocupado com você. Mesmo eu dizendo que você saiu pra resolver umas coisas da empresa, ele e a mãe não acreditaram.
— Eles sabem. — murmurei, olhando pro chão. — Sabem que eu fui atrás dele, né?
Milena assentiu devagar.
— Sabem. E tão com medo do que você possa ter feito.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, sentindo o peso daquelas palavras. O vento gelado bateu e eu passei a mão pelos cabelos, tentando achar um jeito de explicar o que nem eu sabia direito.
— Eu fiz o que achei que precisava fazer, Mi. — falei baixo. — Só isso.
Ela suspirou, com os olhos marejando um pouco.
— E agora?
— Agora… eu vou ver o nosso pai. — olhei pra ela com um sorriso cansado. — E fingir que nada aconteceu.
Ela me encarou, mas não disse nada. Só balançou a cabeça, meio sem acreditar, e me acompanhou até a entrada do hospital.
No fundo, eu sabia que ela tava certa em se preocupar. Mas o estrago já estava feito e eu não me arrependia nem por um segundo.
Empurrei a porta do quarto devagar, tentando que a entrada parecesse natural, como se eu tivesse saído pra tomar um ar e voltado.
O quarto cheirava a remédio e a lençol recém-trocado e meu pai estava deitado. Minha mãe segurava a mão dele, com o rosto marcado pelo cansaço. Milena ficou perto da janela, de olho na rua como se esperasse ver algo acontecer a qualquer momento.
— Ah, aí está você — minha mãe disse antes mesmo de eu chegar perto,com a voz fina. — Onde você tava, Rafael?
Respirei fundo e sorri. "Sorriso de quem esconde o que fez."
— Tive que resolver umas coisas lá fora, Mãe. Coisa do trabalho, desculpa se acabou assustando vocês.
Ela inclinou a cabeça, desconfiada.
— Trabalho? Já é noite, filho. E você cheira… você cheira a alguma coisa. Tem gasolina no seu casaco?
Olhei pro casaco, como se fosse a primeira vez que reparasse. Passei a mão no bolso, procurando algo que não existia.
— Ah, deve ser da rua. Fui abastecer o carro no posto e o frentista fez uma bagunça e acabei me sujando. Nada demais.
Meu pai abriu os olhos devagar, a voz falhando.
— Rafa… você saiu... outra vez? Prometeu que não ia se meter em confusão.
Minha mãe assentiu, ainda meio sem acreditar. Eu saí do quarto com o coração pesado, sabendo que cada passo adiante só complicava tudo mais.
Saí do quarto do meu pai sentindo o peso da mentira nas costas. Ele e minha mãe ainda estavam tentando entender o que estava acontecendo, e eu fingindo que era só um problema bobo de trabalho. Eu sabia que não podia contar nada — pelo menos não ainda.
Quando cheguei no corredor, ouvi a voz da Milena me chamando:
— Rafa! Espera aí!
Parei e virei pra ela. Ela veio apressada, o cabelo meio bagunçado e os olhos preocupados.
— Eu já liguei pra todo mundo que ia pra festa amanhã — disse ela, sem nem respirar. — Tô adiando pra o próximo fim de semana, tá? Fala pra Lorena depois.
Fiquei alguns segundos só olhando pra ela. Lorena. Eu nem lembrava mais da porcaria da festa. Tudo o que eu conseguia pensar era no Genildo, e no que mais ele podia aprontar. Respirei fundo e passei a mão no rosto.
— Tá... eu aviso, — murmurei. — Você vai ficar aqui com eles, né?
Milena assentiu de imediato. — Vou. Não saio daqui hoje. E amanhã fico também. Quero ficar de olho no pai.
Eu olhei pra ela, tentando disfarçar o cansaço e a raiva que ainda fervia dentro de mim.
— Beleza. Qualquer coisa, me liga, tá? — falei, tentando manter o tom leve. — Se acontecer qualquer coisa, se alguém estranho aparecer por aqui, você me avisa na hora.
Ela franziu a testa. — Rafa... o que tá acontecendo? Você tá muito estranho.
Desviei o olhar. — Nada demais. Só... fica atenta, tá?
Ela ainda me encarava, meio desconfiada, mas assentiu. — Tá bom.
Me aproximei e dei um beijo na testa dela. — Cuida deles pra mim.
— Pode deixar, — respondeu baixo.
Virei e comecei a andar pelo corredor. Cada passo parecia pesado. Eu sabia que se ficasse ali mais um minuto, ia acabar deixando escapar o que tava realmente acontecendo. E meus pais não podiam saber. Ainda não.
A raiva que eu sentia do Genildo só crescia. O desgraçado tinha ultrapassado todos os limites.
Saí do hospital e respirei o ar frio da noite. Precisava esfriar a cabeça antes que fizesse alguma besteira.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Afff piorou, agora não são dois, é nadaaaa!!!...
Vou fazê-lo novamente!!!! Dois capítulos por dia é um desrespeito!!!...
Ué cadê meu comentário?...
Esse é o terceiro livro, os dois primeiros caminharam bem, mas agora só dois capítulos por dia é muito pouco. Lembre-se de seu compromisso com os leitores...
Cadê o capítulo 319???????? Não tem?????...
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...