Quando cheguei em casa, já passava das oito. O silêncio do lugar parecia me engolir inteiro. Tirei os sapatos no corredor, larguei as chaves no aparador e fui direto pro banheiro.
A água quente caiu sobre mim e, por alguns minutos, deixei que ela levasse toda a tensão, a raiva, o medo. Mas não adiantou muito. Quando fechei o chuveiro, o nó no peito ainda estava ali, firme.
Vesti uma camiseta qualquer e desci pra cozinha. Abri a geladeira sem muita expectativa, mas acabei sorrindo ao ver uma travessa coberta com papel alumínio. Francisca. Era óbvio. Ela sempre deixava algo pronto quando achava que eu ia chegar tarde.
Puxei a lasanha e coloquei um pedaço pra esquentar. O cheiro começou a preencher o ambiente, e por um instante me senti... normal. Sentado na bancada, com um prato de lasanha e o celular na mão.
Só que eu sabia que tinha algo a fazer… eram 21h32. Será que já era tarde pra ligar para Lorena? Seria indelicado, antiprofissional?
Fiquei olhando pro número, indeciso. Pensei em deixar pra amanhã. Pensei em mandar só uma mensagem. Pensei em não fazer nada. Além de ter que me desculpar, ainda tinha que informar sobre amanhã, que o aniversário de Milena foi adiado, mesmo que eu acreditasse que ela não iria.
Suspirei, encostei o cotovelo na bancada e apertei o botão de chamada.
Cada toque do outro lado fazia meu coração bater mais forte. Um, dois, três… nada. Minha respiração ficou pesada, e eu comecei a pensar que ia cair na caixa postal. Talvez fosse melhor assim.
Mas então, a ligação foi atendida.
— Alô? — a voz dela soou do outro lado, surpresa e confusa.
E eu congelei, sem saber o que dizer primeiro.
(Lorena)
Quando vi o nome dele aparecendo na tela do celular, por um instante achei que estava sonhando.
Meu coração deu um pulo, desses que a gente tenta disfarçar respirando fundo, mas não adianta. Atendi meio confusa.
— Alô?
Do outro lado, silêncio. Eu quase achei que a ligação tinha caído, mas vi que ele só parecia hesitar um pouco.
— Rafael? Tá tudo bem? — perguntei, tentando soar calma, embora o nervosismo estivesse me apertando o peito.
— Tá sim… — ele respondeu com a voz mais baixa do que o normal. — Eu só… eu liguei pra pedir desculpas.
Fiquei quieta, surpresa.
— Por como eu te tratei mais cedo — ele continuou. — Aconteceram umas coisas e eu acabei perdendo a cabeça. Sei que você só estava tentando acalmar o garoto, e… — ele respirou fundo. — Você é o tipo de pessoa que eu quero na empresa. Aquilo que fez mostra empatia, e eu… eu sinto muito pelo jeito que falei com você.
Por um momento, não consegui dizer nada. Eu não esperava ouvir aquilo dele, especialmente com aquele tom tão... sincero.
Suspirei, tentando aliviar o clima.
— Tudo bem, Rafael. Eu entendo. Só achei um pouco estranho, sabe? Porque você sempre foi tranquilo, e hoje parecia outra pessoa.
Do outro lado, ouvi um riso leve, meio sem graça.
— É… eu realmente não sou daquele jeito.
O silêncio que veio depois foi estranho. Nem desconfortável, nem tranquilo. Só… cheio.
Aí ele pigarreou.
— Ah… eu também liguei pra avisar que o aniversário da Milena foi adiado. Ela resolveu ficar com nossos pais esse fim de semana.
— Ah… — soltei, meio surpresa. Eu nem lembrava direito da festa, mas mesmo assim, o gesto de ele ter me avisado me fez sorrir. — Obrigada por avisar.
— Imagina — ele respondeu. — E… bom final de semana, tá?
— Pra você também, Rafael.
Quando a ligação terminou, fiquei olhando pro celular por alguns segundos, ainda sentindo o coração acelerado.
No sábado de manhã, decidi que precisava sair um pouco da cidade. A semana tinha sido longa demais, e depois daquela ligação com o Rafael, eu sentia como se tudo ainda estivesse meio fora do lugar. Então, peguei o carro e fui pra Bela Flor ver meus pais.
O caminho até lá sempre me acalmava, as estradas cercadas de verde, o cheiro de terra úmida e o céu aberto. Quando estacionei na frente da casa, Thor veio correndo, abanando o rabo, como se eu tivesse ficado anos sem aparecer.
Alana desceu do carro animada, rindo, e logo começou a brincar com ele.
Peguei as sacolas da feira e fui direto pra cozinha. O cheiro de café fresco me recebeu antes mesmo de ver minha mãe. Ela estava ali, de costas, enchendo a garrafa térmica.
— Bom dia, mãe. — Falei, encostando a sacola na bancada.
Ela se virou e sorriu, um daqueles sorrisos cansados, mas sinceros.
— Bom dia, filha. Chegou cedo hoje.
— Resolvi vir matar a saudade — respondi, me aproximando pra dar um beijo nela. — Trouxe umas coisas da feira, olha.
Ela olhou as sacolas e fez aquele olhar que sempre faz quando acha que eu gastei demais.
— Você não precisava, Lorena.
— Eu sei, mas eu quis — falei, rindo. — E o pai, tá por aí?
— Tá sim, foi lá pra roça cedo. Disse que ia ver umas cercas — ela respondeu, servindo café pra mim também.
Peguei a xícara e sentei um pouco. Ver minha mãe um pouco melhor me deu uma paz difícil de descrever. Depois de ajudar a dar uma geral na casa, estender umas roupas e organizar umas coisas, resolvi dar um pulo na casa da Tatiane.
Ela estava no quintal estendendo roupa, e quando me viu, abriu aquele sorrisão.
— Olha só quem resolveu aparecer! — ela disse, limpando as mãos no pano e me abraçando.
— Pois é, vim respirar um pouco de ar puro — falei, rindo.
Fomos pra debaixo do pé de manga, onde sempre tinha sombra boa e aquela mesa de madeira antiga que meu pai tinha feito. Sentamos nos bancos e ficamos um tempo só ouvindo os passarinhos.
Prendi o cabelo de forma simples, deixando alguns fios soltos, e coloquei um par de brincos prateados.
Suspirei.
— Faz tempo que eu não me arrumo assim... — murmurei pra mim mesma.
Alana apareceu na porta e arregalou os olhos.
— Mãe! Você tá linda!
Ri, um pouco envergonhada.
— É mesmo?
— Tá parecendo princesa! — ela disse, girando de alegria.
— Ah, exagerada — falei, mas não consegui conter o sorriso.
Cap.23
Peguei a bolsa e dei uma última olhada no espelho. Não era só sobre estar bonita. Era sobre me permitir respirar, sair um pouco da rotina e, talvez, me lembrar que ainda existia uma parte de mim que gostava dessas coisas.
— Vamos, princesa — falei para Alana. — Antes que eu mude de ideia.
Peguei as chaves do carro e chamei Alana, que já vinha pulando empolgada com a toalha nos ombros.
— Vamos, mãe! Você tá demorando demais! — ela disse rindo.
— Calma aí, mocinha, a festa não vai fugir — respondi, trancando a porta.
Dirigimos seguindo o endereço que Milena tinha mandado. O caminho até o clube era tranquilo, mas conforme a gente se aproximava, vi vários carros estacionados e senti um frio na barriga.
Eu não sabia bem por quê, mas o nervosismo veio do nada. Era vários carros luxuosos….
Já Alana, claro, estava no auge da empolgação.
— Olha, mãe! Tem um toboágua gigante! — ela gritou, colada na janela.
Estacionei o carro e respirei fundo antes de descer. Peguei a bolsa, o presente de Milena e ajudei Alana a ajeitar o chapéu que ela insistia em usar.
Na entrada, um segurança sorriu e pediu o nome.
— Lorena.
Ele conferiu na lista e logo abriu o portão.
— Pode entrar, senhora.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Afff piorou, agora não são dois, é nadaaaa!!!...
Vou fazê-lo novamente!!!! Dois capítulos por dia é um desrespeito!!!...
Ué cadê meu comentário?...
Esse é o terceiro livro, os dois primeiros caminharam bem, mas agora só dois capítulos por dia é muito pouco. Lembre-se de seu compromisso com os leitores...
Cadê o capítulo 319???????? Não tem?????...
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...