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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 325

Não consegui terminar. Os olhos dela se encheram d’água e, mesmo assim, ela forçou um sorriso.

Um sorriso triste e dolorido.

— Não é nada disso — respondeu com a voz trêmula. — Eu só acordei sentindo frio hoje, e quis vir com essa roupa, só isso. E… o meu marido é um ótimo pai, eu não tenho do que reclamar.

Olhei pra ela em silêncio por alguns segundos, sentindo o coração apertado.

— E ele é um ótimo marido também? — perguntei baixo.

Ela desviou o olhar e respirou fundo.

— Rafael… me dá licença, por favor.

Eu ainda tentei insistir, com a voz mais calma possível:

— Você pode conversar comigo. A gente pode tomar uma atitude juntos, se for o caso.

Ela virou o rosto pra mim, seus olhos brilhando de lágrimas contidas.

— Eu não preciso de ajuda — disse firme. — Tá tudo bem. E… por favor, nunca mais insinua algo assim.

E antes que eu dissesse qualquer coisa, ela passou por mim e saiu da copa.

Fiquei ali parado por alguns segundos, com o peito pesado, o barulho do café pingando na máquina. Levei a mão ao rosto e esfreguei com força, frustrado.

Droga.

Algo tava muito errado, e eu sabia. Mas ela não queria, ou não podia, deixar ninguém ver.

(Visão de Lorena)

Assim que saí da copa, fechei a porta da minha sala com mais força do que pretendia. O som ecoou pelo ambiente silencioso, e eu senti o peito apertar.

Apoiei as mãos na mesa, tentando respirar fundo. O ar parecia não entrar direito. Meu coração ainda estava disparado, e a cena na copa voltava à minha mente como um filme que eu queria, desesperadamente, pausar.

O olhar dele. O jeito como ele falou aquilo… como se tivesse enxergado mais do que devia.

“Ele percebeu”, pensei. “Rafael percebeu.”

A vergonha me queimava por dentro. Eu não devia ter deixado que isso acontecesse. Não devia ter reagido daquele jeito.

Talvez eu devesse ter disfarçado melhor. Ou simplesmente não ter vindo trabalhar hoje… Mas não podia faltar sem uma boa justificativa…

Afastei uma mecha de cabelo do rosto e me sentei, tentando focar na tela do computador. Mas as palavras embaralhavam.

A vergonha voltou a apertar a garganta. Eu era uma mulher casada e amava meu marido.

Ou… pelo menos era isso que eu repetia pra mim mesma, todos os dias.

Um leve toque na porta me fez endireitar imediatamente.

Limpei a garganta e respondi com a voz mais firme que consegui:

— Pode entrar.

Gael colocou a cabeça pra dentro, com um sorriso tímido no rosto.

—Lorena, desculpa incomodar… é que o Rafael pediu pra eu confirmar com você se a reunião de amanhã às nove foi adiada ou mantida.

— A reunião… — repeti, tentando processar o que ele tinha dito.

Mas minha mente ainda estava no Rafael, no olhar dele, de como ele agora sabe e imagina o que acontece em casa…

Senti o rosto esquentar.

Gael pareceu notar minha distração.

— Você está bem?

— Tô, claro que tô. — sorri, rápido demais. — É que… — parei por um instante, piscando algumas vezes. — Pode repetir, por favor?

— A reunião das nove — ele disse, mais devagar — o Rafael pediu pra confirmar se foi adiada.

— Engraçado… não lembro de ter te dado permissão pra isso.

— Thales, não foi nada demais. Eu só—

Antes que eu terminasse, ele se aproximou num passo só e agarrou meu pescoço, o susto me fez soltar a bolsa.

— Eu já te falei pra não sair sem mim — rosnou, apertando um pouco mais. — Quantas vezes eu tenho que repetir?

Tentei puxar suas mãos, sentindo a dor latejar no mesmo ponto de dois dias atrás.

— Por favor, me solta… — sussurrei, a voz falhando. — Eu só fui por… causa da Alana… nada aconteceu, eu juro.

Então meu corpo foi empurrado contra a parede atrás de mim, e o impacto arrancou um gemido da minha garganta. Minhas costas arderam e eu tentei respirar fundo, mas era impossível com a mão dele ali.

— Essa foi a última vez, Lorena. — O seu tom era baixo, mas cada palavra pesava. — E fica longe daquele chefinho teu. Não quero mais nem ouvir o nome dele.

Ele então me soltou e meu corpo escorregou pela parede até o chão, eu sentia dor nas costas e puxava o ar com força. Minhas mãos foram para meu pescoço, em uma tentativa falha de tentar aliviar a dor.

Thales começou a se afastar, mas parou quando o som da porta destrancando chamou sua atenção. A porta foi aberta e Alana apareceu com um sorriso no rosto, mas logo o sorriso sumiu e ela me olhou preocupada.

Ela parou, olhando entre mim e o pai, como se pudesse sentir o ar pesado.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou, baixinho.

Forcei um sorriso, mesmo com a voz embargada.

— Não, meu amor… só escorreguei, e o papai veio me ajudar a levantar, tá?

Ela me olhou desconfiada, mas não insistiu. Eu me levantei, sentindo o corpo doer, mas não queria mostrar isso para a minha filha.

— Tá bom… — murmurou, deixando a mochila no sofá.

Esperei ela virar as costas e fui pra cozinha. Cada passo doía. Abri a geladeira e fingi procurar algo, só pra não desabar na frente dela. Abaixei a cabeça, tentando controlar o choro.

A panela, o cheiro de tempero, o barulho da água na pia, tudo era um disfarce. Porque o que eu mais queria naquele momento era simplesmente desaparecer.

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