Enchi a panela de água, mas percebi que minhas mãos tremiam tanto que algumas gotas caíram no chão.
A dor nas costas pulsava, e meu pescoço ardia cada vez que eu engolia em seco. Tentei respirar fundo, mas o peito doía mais do que eu queria admitir.
— Mãe… — a voz suave me fez estremecer.
Virei devagar.
Alana estava parada na porta, segurando o pano de prato que sempre ficava pendurado perto da pia.
O olhar dela era calmo, mas… atento demais pra uma criança de sete anos.
— O que foi, meu amor? — tentei sorrir, virando de costas pra esconder o rosto. — Vai tomar banho, daqui a pouco o jantar fica pronto.
Ela ficou em silêncio por um instante, depois se aproximou um pouco.
— Quer que eu te ajude?
Meu coração apertou. Aquela inocência era a única coisa que ainda me mantinha de pé.
— Não precisa, eu dou conta.
— Mas eu quero — insistiu, subindo na cadeirinha ao meu lado. — Posso mexer o arroz.
Suspirei, entregando a colher a ela.
— Tá bom… mas cuidado pra não espirrar.
Ela sorriu, um sorriso que iluminava tudo ao redor, mesmo no meio do caos. Por alguns minutos, o som do arroz estalando na panela e o cheirinho do alho fritando preencheram o espaço.
Era quase normal.
Mas quando me abaixei pra pegar o sal, sentindo as costas doer.
Soltei um gemido baixinho, tentando disfarçar.
— Mãe… — ela me olhou de lado — tá doendo?
Meu corpo congelou e virei de novo o rosto pra panela.
— Não, amor. É só… dor nas costas. Fiquei o dia todo sentada.
Ela me observou por alguns segundos, depois abaixou a cabeça, mexendo o arroz com cuidado. E foi nesse silêncio que percebi, ela sabia. Não tudo, mas o suficiente pra entender que alguma coisa estava errada.
Apertei os olhos, sentindo a garganta arder. Não podia deixar que ela visse isso e nem deixar que ela carregasse o que era meu.
Quando Thales apareceu na porta, com o mesmo sorriso falso de antes, meu corpo inteiro enrijeceu. Ele olhou pra nós duas, cruzou os braços e disse, com aquele tom manso que sempre vinha depois da tempestade:
— Que cena bonita. As duas na cozinha… parece até comercial de margarina.
Alana se encolheu um pouco, mas continuou mexendo a panela. Eu apenas concordei com a cabeça, sem coragem de olhar pra ele.
— O jantar vai sair rápido — murmurei.
Ele assentiu e se afastou, e só quando ouvi o som da TV na sala eu consegui respirar de novo.
Encostei na pia, sentindo o corpo cansado, e sussurrei baixinho, mais pra mim do que pra ela:
— Tá tudo bem, meu amor… tá tudo bem.
Mas por dentro, eu sabia que não estava. E que, de algum jeito, Rafael tinha percebido isso antes mesmo de eu admitir pra mim mesma.
***
Thales dirigia com uma calma que me deixava mais nervosa do que se ele tivesse gritado comigo. A mão dele segurava firme o volante, e eu via o maxilar travado, os olhos fixos na estrada. Ninguém falava nada.
Apenas o barulho do motor e o som abafado da minha respiração tentando se manter estável.
Quando ele estacionou em frente à empresa, o sol já estava queimando forte. Eu ajeitei a gola alta da blusa e estiquei as mangas, sentindo o tecido colar na pele.
Parecia que o calor vinha de dentro, talvez porque eu sabia que o pior ainda podia acontecer. Saí do carro e Thales saiu junto, parando ao meu lado na calçada da empresa.
— Venho te buscar para o almoço. — ele comentou, sem olhar pra mim.
Assenti, forçando um sorriso.
— Tudo bem, eu te aviso quando estiver para sair.
Ele virou o rosto devagar.
— Espero que você se comporte no trabalho hoje.
— Sempre me comporto, Tha….
— Eu vou entrar, tá? Me manda mensagem na hora do almoço.
Thales apenas acenou, mas com o olhar ainda na direção de Rafael, como se estivesse gravando o caminho que ele fez.
Entrei apressada pela portaria, sentindo o ar frio bater no rosto. Meu coração ainda estava descompassado, e o calor lá fora parecia ter grudado em mim. A gola da blusa raspava nos machucados, e cada movimento doía, tanto quanto a vergonha de imaginar que Rafael talvez tivesse visto mais do que eu queria.
Apertei os olhos e respirei fundo, repetindo pra mim mesma:
“Só trabalha, Lorena. Só trabalha e finge que tá tudo bem.”
Mas no fundo, eu sabia que ele não acreditaria nessa versão e nem eu.
Dobrei o corredor e lá estava Rafael, esperando o elevador. Meus passos vacilaram.
Fiquei parada por um segundo, com a pasta na mão e o coração acelerando do nada. Tentei disfarçar, respirei fundo e dei um meio sorriso educado.
— Oi — ele disse, calmo, como se nada tivesse acontecido ontem.
— Oi — respondi, baixinho.
Ele apertou o botão, mas eu nem consegui dar um passo pra dentro. O som do elevador me deu um aperto no peito, e antes que a porta se fechasse, falei rápido:
— Eu… eu vou de escada. — Forcei um sorriso. — Não tô conseguindo mais ir de elevador ultimamente.
Ele franziu o cenho, como se quisesse perguntar alguma coisa, mas só assentiu. Abri a porta das escadas e comecei a subir, tentando manter o passo firme, mesmo com o coração batendo nas costas.
Dois degraus depois, ouvi o som da porta se abrindo atrás de mim.
Os passos.
Meu corpo inteiro arrepiou.
Fingi que não notei, mas o som das solas batendo no piso se aproximava. Não era ninguém do setor, era ele.
O cheiro do seu perfume, discreto, já o denunciava.
Subimos em silêncio por um tempo que pareceu eterno.
Até que Rafael suspirou.
— Lorena…

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Afff piorou, agora não são dois, é nadaaaa!!!...
Vou fazê-lo novamente!!!! Dois capítulos por dia é um desrespeito!!!...
Ué cadê meu comentário?...
Esse é o terceiro livro, os dois primeiros caminharam bem, mas agora só dois capítulos por dia é muito pouco. Lembre-se de seu compromisso com os leitores...
Cadê o capítulo 319???????? Não tem?????...
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...