(Visão de Rafael)
O carro mal encostou na calçada do pronto-socorro e eu já estava com a porta aberta. O motor ainda estava desligando quando eu dei o primeiro passo em direção às portas de vidro automáticas. Cada segundo era um soco no peito. *Baleado*. A palavra ecoava na minha cabeça, como um tambor marcando cada batida do meu coração.
A recepção era um caos de gente assustada, vozes baixas e o cheiro forte de álcool. Ignorei a fila e fui direto para o balcão, onde uma mulher com olheiras profundas digitava em um computador lentíssimo.
— Quero saber sobre o paciente, Augusto Fonseca — disse, minha voz saindo mais áspera do que eu gostaria. — Ele foi baleado e o trouxeram agora para cá.
Ela me olhou, e pela primeira vez eu vi um lampejo de algo que não fosse exaustão no seu rosto. Compaixão? Ou era só o reflexo do meu próprio desespero?
— O senhor Fonseca já está na sala de emergência, e o doutor Tavares está com ele. Não posso deixar ninguém entrar agora. Enquanto isso, você pode aguardar na sala ali — ela apontou para um corredor à esquerda.
Aguardar.
A palavra mais impotente do dicionário. Eu não queria aguardar, eu queria arrombar a porta, ver com meus próprios olhos e garantir que ele estava... bem? Nem sei qual era a expectativa. Vivo. Que ele estivesse vivo.
Meu celular vibrou no bolso e vi que era Milena.
— Rafa, meu Deus! O que houve? Onde você está? A mãe ligou desesperada!
— No pronto-socorro municipal. — falei, tentando manter a voz estável. — Vem. Ainda não sei de nada.
— Já tô a caminho.
Desliguei e afundei as costas contra a parede fria do corredor. O tempo parecia não passar e cada minuto era uma eternidade. Dez minutos depois, ouvi os saltos altos da minha irmã ecoando no corredor.
Ela vinha correndo, com o rosto pálido, a maquiagem levemente manchada.
— O que aconteceu? — perguntou, segurando meu braço com força.
Eu respirei fundo, puxando-a para um canto mais reservado.
— Tudo indica que foi um atentado, Mili. Dois caras tentaram e o Ryan reagiu, impedindo o pior. Ele está com a polícia agora.
Os olhos dela se arregalaram.
— Meu Deus... Por quê? Quem faria isso com o nosso pai?
Eu cerrei os maxilares.
— Vou ter que falar com o Ryan para ter todos os detalhes. Mas... — baixei a voz, — já mandei o pessoal verificar as câmeras da rua antes da polícia pegá-las. Não quero que sumam com a prova.
Milena estudou meu rosto, a inteligência prática dela superando o susto por um instante.
— Você acha... que foi o tio Genildo, não é?
Eu não hesitei.
— Tenho certeza. O homem está desesperado por dinheiro, Milena. Mais desesperado do que eu imaginava.
Me aproximei mais, minha voz quase um sussurro.
— Ele pegou um empréstimo pesado com um agiota perigoso e o cara agora está atrás dele. Com juros altíssimos.
Ela arregalou os olhos, incredulidade e raiva se misturando.
— E você sabia disso e não me contou? Rafael, pelo amor de Deus!
— Não queria assustar vocês — justifiquei, segurando seus ombros. — Aumentei a segurança do pai, coloquei mais dois homens no esquema. Só não imaginei que o Genildo fosse ser tão estúpido a ponto de agir tão rápido, depois do que eu fiz com o carro de luxo dele. Deve ter sido a gota d'água.
Milena pareceu fraquejar por um segundo. Ela se deixou levar até uma fileira de cadeiras de plástico e se sentou, com as mãos tremendo levemente. Eu sentei ao lado dela.
— Escuta, você precisa ficar calma.Vou contratar um guarda-costas para você a partir de hoje.
Ela franziu o cenho, com a teimosia familiar voltando ao seu rosto.
— Não quero um guarda-costas, Rafael. Eu sei me proteger, tenho minha própria arma.
— Isso não está em discussão, Milena. — minha voz não deixou espaço para argumentos. — Ou você aceita, ou eu te tranco no apartamento com dez seguranças. Escolhe.
Ela suspirou, frustrada, e apoiou a cabeça nas mãos.
— Tá bom. — murmurou, derrotada. Então, ela levantou o olhar para mim, uma suspeita nascendo em seus olhos. — Como você descobriu sobre o agiota?
Segurei seu olhar. Não havia sentido em mentir agora.
— Meu Deus, meus filhos! Onde está seu pai? Ele está...?
— Ele está bem, mãe — eu disse, segurando seus ombros para acalmá-la. Firmei o olhar no dela. — O médico acabou de nos dar a notícia. Foi só um ferimento superficial no ombro. Ele já vai receber alta.
Ela levou a mão ao peito, com os olhos marejados.
— Graças a Deus. Graças a Deus...
Não demorou mais que alguns minutos até uma enfermeira aparecer, ajudando o meu pai a sair do corredor. Ele estava pálido, com a camisa suja de sangue e um curativo grosso sob o ombro. Mas andava com seus próprios pés, e o olhar teimoso que eu conhecia tão bem ainda estava lá.
— Augusto! — Minha mãe se desprendeu de nós e foi até ele, envolvendo-o num abraço cuidadoso, cheio de alívio. — Você está bem, meu amor? Está sentindo muita dor?
— Estou bem, Delma. Foi só um susto — espondeu com a voz um pouco rouca. Ele até tentou dar uma de durão, endireitando os ombros, mas uma careta de desconforto o traiu.
Aquela cena, meus pais se abraçando ali, naquele lugar frio, depois do que tinha acontecido... era a confirmação de que a brincadeira tinha acabado.
— Agora que todos estão aqui, vamos combinar uma coisa — disse, minha voz soando mais autoritária do que eu pretendia. Todos olharam para mim. — Vocês não vão voltar para a casa de vocês. Vão ficar na minha. Pelo menos até eu ter certeza de que a situação está 100% controlada.
Meu pai imediatamente franziu a testa e negou com a cabeça.
— Absurdo, Rafael. Eu não vou sair da minha casa e não vou me esconder como um rato.
Respirei fundo, contando até dez mentalmente. A paciência era um bem escasso.
— Pai, não estou pedindo. Estou dizendo. Quero todos perto de mim, onde eu posso ficar de olho. Onde posso garantir que estão seguros.
— Rafael, eu não... — ele começou a reclamar, mas foi interrompido.
— Augusto, para — minha mãe cortou, com uma suavidade que não admitia discussão. Ela colocou a mão no braço dele. — O Rafael está certo. Vamos para a casa dele, só por uns dias. Por favor.
Meu pai olhou para ela, depois para a determinação no meu rosto, e para o medo ainda visível no rosto de Milena. Ele suspirou derrotado, a resistência escapando dele junto com o ar.
— Tá bom, mas só uns dias — ele cedeu, relutante.
Eu soltei o ar que nem sabia que estava prendendo.
— Certo. Vamos embora daqui.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Afff piorou, agora não são dois, é nadaaaa!!!...
Vou fazê-lo novamente!!!! Dois capítulos por dia é um desrespeito!!!...
Ué cadê meu comentário?...
Esse é o terceiro livro, os dois primeiros caminharam bem, mas agora só dois capítulos por dia é muito pouco. Lembre-se de seu compromisso com os leitores...
Cadê o capítulo 319???????? Não tem?????...
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...