A porta da minha casa se fechou, e pela primeira vez desde o hospital, um silêncio pesado desceu sobre nós. A grandiosidade do lugar, que normalmente me trazia uma sensação de conquista, agora parecia um bunker. Um bunker luxuoso, mas ainda assim.
Meus pais pararam no hall de entrada, olhando ao redor com uma estranheza cansada. Minha mãe ainda segurava o seu braço, como se temesse que ele fosse desmoronar a qualquer instante.
— Mili — eu disse, quebrando o gelo. Minha voz soou rouca de cansaço. — Mostra o quarto de hóspedes do segundo andar para eles. Aquele com a suíte, é mais confortável.
Minha irmã me olhou, entendendo o pedido não dito. Ela precisava distraí-los, ocupá-los com a trivialidade de ajeitar as malas que iriam chegar, já que eu tinha mandado um funcionário buscar às pressas quando ainda estava no hospital.
— Claro. — ela disse, forçando um sorriso. — Vem, pai. A vista da varanda é linda.
Ela os guiou pela escada, e eu fiquei parado, ouvindo os passos deles ecoarem no mármore até sumirem no andar de cima. Só então respirei fundo, o peso das últimas horas descarregando sobre meus ombros de uma vez.
Tirei o celular do bolso. A tela listava dezenas de notificações não lidas, mas só uma importava. Toquei para Ruan.
Ele atendeu na segunda chamada, sua voz era grave e contida, com o som de trânsito ao fundo.
— Chefe.
— Onde você está? — perguntei, dispensando qualquer cumprimento.
— Acabei de sair da delegacia. Os dois homens vão ficar presos, a acusação é tentativa de homicídio. Eles estão alegando que era só um assalto ao carro, que o senhor Augusto reagiu demais.
Um riso amargo quase escapou da minha garganta.
— Mentira, eles sabiam quem ele era. Foi uma execução mal feita.
— É o que eu acho também — Ruan concordou, sua voz um baixo constante de lealdade.
— Escuta, Ruan. Eu preciso que você fique de olho nesses dois. Pessoalmente. Garanta que fiquem vivos e capazes de falar até eu decidir o que fazer com eles. Não quero "acidentes" na cela.
Houve uma pausa breve do outro lado, dele processando a ordem.
— Entendido. Cuido disso.
— E tem outra coisa — eu continuei, com os olhos fixos na escada vazia, garantindo que ninguém estivesse ouvindo. — Liga para o Nicolas.
Desta vez, o silêncio foi mais longo e carregado.
— Rafael... — Ruan começou, cauteloso. — Tem certeza? O Nicolas... não é o mesmo. O luto dele ainda está muito fresco.
Eu fechei os olhos por um segundo, esfregando a ponte do nariz. Eu sabia. Sabia do fardo que o Nicolas carregava, mas a necessidade falava mais alto.
— Eu sei pelo que ele está passando, Ruan. Mas, neste momento, ele é um dos poucos homens em quem eu confio para cuidar da minha irmã. Eu preciso de alguém imprevisível, alguém que... que não tenha mais nada a perder para proteger quem eu amo. Ele é esse homem.
Ruan suspirou pesadamente do outro lado da linha. Eu podia quase ouvir as engrenagens girando na cabeça dele, avaliando os riscos.
— Tudo bem — ele cedeu, relutante. — Vou falar com ele. Provavelmente amanhã cedo aparece aí na sua casa.
Um alívio mínimo, mas crucial, aliviou a pressão no meu peito.
— Obrigado, Ruan. E me traz as imagens das câmeras da rua assim que estiver tudo pronto.
— Pode deixar. — ele disse, antes de encerrar a ligação.
Desliguei e deixei o celular escorregar para o bolso de trás. Levantei as mãos e esfreguei o rosto com força, como se pudesse apagar a fadiga, a raiva, a preocupação.
Nicolas estava a caminho, e os pedaços estavam se movendo. A guerra contra meu tio tinha acabado de escalar para um território muito mais sombrio, e eu estava trazendo alguns dos homens mais perigosos que conhecia para o centro do furacão. Tudo para proteger minha família.
Olhei para a escada vazia novamente. Agora, era só esperar. E se preparar para o que viesse a seguir.
***
O jantar tinha sido uma empreitada silenciosa. Meus pais comeram pouco, ainda sob o choque. A Milena tentou puxar algum assunto leve, mas a conversa murchava antes mesmo de florescer. Eu mal conseguia sentir o gosto da comida. Era só combustível, algo para me manter de pé.
Finalmente, consegui me refugiar no meu quarto. Deixei meu corpo cair na cama, com os músculos protestando contra o dia que parecia não ter fim. Os olhos queimavam de cansaço, e eu só queria que a escuridão me levasse por algumas horas, um breve cessar-fogo para a minha mente.
Foi quando o celular vibrou no bolso do meu jeans, contra a minha coxa.
Suspirei, sacando o aparelho. A tela brilhava com duas notificações. Uma era de Lorena e a outra, de Sophia.
Um nó se formou no meu estômago. Dois mundos diferentes, colidindo no meu bolso num momento de absoluto caos. Sem pensar muito, abri a de Lorena primeiro.
***
21 de Abril, quinta
A semana tinha sido um ralo de energia, puxando cada grama de força que me restava. Cada reunião, cada e-mail, cada sorriso profissional parecia custar o dobro. E o pior era aquele fio de preocupação com o Rafael, que teimava em se embolar no meu peito, misturado com uma ponta de ciúmes besta que eu me recusava a admitir.
Tinha acabado de voltar do banheiro, tentando afastar a névoa de cansaço, quando meu celular vibrou.
Rafael: Pode trazer dois cafés na minha sala, por favor?
Olhei para a tela, um pouco surpresa. Eu não vi nenhum cliente chegar, nem tinha nada na agenda para agora. Mas ele devia ter recebido alguém sem avisar, era comum.
Eu: OK, já levo.
Fui até a pequena copa e preparei os dois cafés com cuidado extra, numa bandeja. Dois açúcares para o Rafael, um para o visitante. Tudo no lugar. Respirei fundo, ajustando a postura profissional, e segui em direção à sala dele.
A porta estava apenas encostada. Eu a empurrei suavemente, com a bandeja equilibrada numa mão.
— Rafael, trouxe os—
A frase morreu na minha boca. Meus olhos pularam do Rafael, sentado atrás da mesa, para o homem na poltrona de frente para ele. E então, travaram.
Não. É impossível.
O mundo desacelerou até parar. O cabelo loiro, cortado curto e preciso. Os ombros largos, que eu lembrava de ter me agarrado tantas vezes na infância. A camisa social azul clara, impecável. E o distintivo prateado no cinto, cintilando sob a luz do escritório como um aviso.
Mas foram os olhos que me prenderam. Olhos azuis claros, tão claros que pareciam gelo. Os mesmos olhos que costumavam rir comigo, que brilhavam de orgulho quando eu aprendi a andar de bicicleta... e que, naquele dia, há seis anos, tinham se tornado dois blocos de gelo, mirando em mim com uma decepção que doía mais do que qualquer grito.
Um nome escapou dos meus lábios num sussurro rouco, quase um fantasma.
— Eduardo...?
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Meninas, já pedi a editora para confirmar a modificação do capítulo 30. Peço desculpas a vocês pelo transtorno, sei como é chato quando pula de um capítulo assim. Enviei mensagem para ela no privado e assim que mudar, informarei vocês aqui. Mais uma vez, não precisarão pagar bônus ou assistir anuncios para ler o capítulo 30 de novo. E olha, sempre fico de olho e agradeço quando vocês notam um erro meu e vem falar, porque assim, posso corrigir. Espero que continuem na história e se eu errar de novo, podem vir puxar minha orelha. Amo vocês.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Afff piorou, agora não são dois, é nadaaaa!!!...
Vou fazê-lo novamente!!!! Dois capítulos por dia é um desrespeito!!!...
Ué cadê meu comentário?...
Esse é o terceiro livro, os dois primeiros caminharam bem, mas agora só dois capítulos por dia é muito pouco. Lembre-se de seu compromisso com os leitores...
Cadê o capítulo 319???????? Não tem?????...
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...