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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 336

Ele se levantou da poltrona de um salto, como se um fogo tivesse tocado nele. Seu corpo imponente, de braços musculosos que sabiam ser tão protetores, agora parecia tenso, desconfortável. Ele me olhou, e por uma fração de segundo, vi o mesmo choque que eu sentia refletido no seu rosto.

Mas então, seus olhos azuis pularam para o Rafael, e de volta para mim, e algo se fechou. A máscara de gelo desceu e a sua expressão se tornou impenetrável, fria, a de um delegado diante de uma testemunha, não a de um irmão revendo a irmã depois de anos.

Um aperto tão forte que eu quase gemi tomou conta do meu peito. Era difícil respirar. Ele nem sequer conseguia me encarar? O seu ódio era tão profundo assim?

Baixei a cabeça, lutando contra as lágrimas que ameaçavam transbordar. Não podia chorar.

Com mãos trêmulas, continuei até a mesa. Peguei a primeira xícara e me virei para ele. Ele esticou a mão, os dedos evitando qualquer contato com os meus, e pegou a xícara, com seus olhos fixos num ponto na parede atrás de mim.

— Obrigado, Lorena — A voz de Rafael soou baixa, contendo uma curiosidade que eu podia sentir, mas não tinha energia para enfrentar.

Entreguei a xícara dele, forçando os cantos da minha boca a se curvarem para cima.

— Precisa de mais alguma coisa? — Minha própria voz soou distante, quase mecânica.

Rafael me estudou por um segundo, seus olhos escuros tentando decifrar o que havia acontecido.

— Não, obrigada. Pode ir.

— Com licença. — A frase saiu como um sopro.

Virei-me e saí da sala, fechando a porta com um clique suave atrás de mim. Cada passo pelo corredor era um esforço monumental. Quando finalmente entrei na minha sala, fechei a porta e me encostei nela, deixando o vidro sustentar o meu corpo que de repente parecia não ter ossos.

Eduardo.

Meu irmão. Meu protetor. A pessoa que eu mais admirava no mundo... até o dia em que eu o decepcionei de um jeito que ele nunca conseguiu perdoar.

E agora ele estava aqui com o Rafael. Por quê? O que um delegado teria a ver com o Rafael? A menos que... a menos que fosse sobre o atentado ao pai dele.

Uma lágrima teimosa, quente e salgada, finalmente escapou e escorreu pelo meu rosto. Eu a limpei com o dorso da mão, sentindo o gosto amargo da culpa e da saudade.

Ele mal tinha olhado para mim. Como se eu fosse um estranho. Como se todos aqueles anos de amor tivessem sido apagados por um único erro.

E o pior era saber, no fundo do meu coração pesado, que a culpa era toda minha.

***

(Visão de Rafael)

A porta se fechou atrás de Lorena, mas a energia dela ainda estava na sala, um turbilhão de choque e dor que quase dava para tocar. O silêncio que ficou era pesado e desconfortável.

Eu olhei para o delegado Almeida. Ele estava parado, com a xícara de café esquecida na mão, o olhar perdido em algum ponto da minha estante de livros. Mas não era o olhar de quem estava admirando a coleção, era um olhar de alguém que tinha sido transportado para outro lugar, outro tempo, e não gostava do que via.

Limpei a garganta, quebrando o gelo.

— Isso não foi um assalto, delegado e sim uma tentativa de assassinato encomendada. Pelo meu tio, Genildo Fonseca.

Então, eu despejei tudo. A história toda sobre o golpe que o Genildo deu no meu pai anos atrás, sumindo com uma grana preta. A dívida dele com o agiota. A visita dias atrás, quando praticamente ameaçou a gente para ter acesso ao patrimônio da família de novo. Tudo.

O delegado ouviu atentamente, anotando um ou outro ponto mentalmente.

— Você sabe o paradeiro desse seu tio? — ele perguntou.

— Eu coloquei uns homens pra vigiar a casa e os lugares que ele frequenta — respondi. — Mas o velho é esperto. Sumiu do mapa e a esposa foi junto. Ele tem uma filha, a Brenda, mas ela estuda fora, em outro país. — Suspirei, sentindo um peso. — Eu não quero envolver a Brenda nisso. Ela é uma boa pessoa, estudiosa... não tem nada a ver com as merdas que o pai faz.

— Entendido — ele assentiu, e pela primeira vez, vi um vislumbre de algo que não era gelo no seu olhar. Talvez respeito pela minha decisão. — Vou ver o que consigo extrair desses dois na cadeia. Enquanto isso, recomendo que você e sua família continuem tomando extremo cuidado. Gente desesperada é imprevisível.

— Pode deixar que vou — garanti.

Fiquei olhando para ele por um momento, a imagem da Lorena saindo da sala ainda fresca na minha mente. Havia um último tópico, uma tecla que eu precisava tocar, mesmo sabendo que era perigoso.

— Delegado... mais uma coisa. — Ele ergueu o olhar para mim. — Você já ouviu falar de um grupo... uma facção, eu acho... que se chama 'Doze Selos'?

O efeito foi instantâneo. Todo o corpo do delegado Almeida ficou tenso. Os ombros se contraíram, os dedos ao redor da xícara apertaram. O olhar dele, que havia suavizado um pouco, tornou-se novamente afiado como uma lâmina, perfurando o meu.

— Onde foi que você ouviu esse nome? — a sua pergunta saiu cortante, sem deixar espaço para qualquer outra coisa.

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