Entrar Via

Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 337

O olhar do delegado Almeida depois que eu soltei o nome "Doze Selos" não era mais só de gelo. Era de alarme. O tipo de reação que você vê em um homem durão quando ele sabe que está lidando com algo que pode explodir na cara de todo mundo.

Eu suspirei, sentindo o peso daquela informação no ar. Não dava para enrolar.

— O agiota, o tal de Tom... — eu disse, escolhendo as palavras com cuidado. — Descobri que ele faz parte desse grupo. É um dos "Selos".

O delegado franziu o cenho, seus olhos azuis escaneando meu rosto em busca de uma brecha, uma mentira.

— E como exatamente você descobriu isso, Fonseca? Fontes confiáveis da polícia não conseguiram ligar ele diretamente à facção.

Desviei o olhar por um segundo, para a janela. Não podia jogar o Ruan ou o detetive na roda.

— Não posso revelar a fonte — falei, voltando a encará-lo. — Mas tenho uns contatos. E a informação que me passaram é clara: Tom não é só um agiota independente. Ele é parte da estrutura, um dos Doze Selos.

Ele passou a mão no rosto, um gesto de puro cansaço e frustração.

— Isso muda tudo. Toma outra proporção. — Ele balançou a cabeça, e pela primeira vez, vi uma fenda na sua armadura profissional. Era preocupação de verdade. — Esse grupo é perigoso, Fonseca. Eles são organizados, violentos, e têm tentáculos em tudo que é lugar. A gente está atrás deles há anos, mas é como lutar contra uma névoa. Eles somem, não deixam rastro, e quando achamos uma pista, já é tarde demais.

— Imaginei — concordei, com o estômago se revirando. — Dei uma pesquisada por conta. A base deles é em São Paulo, mas a rede se espalha.

Ele assentiu, e eu vi um traço de raiva crua passar pelos seus olhos claros. A raiva de quem está sempre um passo atrás.

— Olha, me ouça e ouça bem — ele disse, inclinando-se para a frente, com a voz baixa e intensa. — Não se meta com essa gente. Não tente ser herói e deixa isso com a polícia.

Segurei o seu olhar. Eu não podia prometer isso. Não quando a vida do meu pai tinha acabado de ser colocada à prova.

— Entendo sua posição, delegado e respeito. — Minha voz saiu firme. — Mas eu vou ser claro também, se esse povo vier atrás da minha família de novo, eu não vou ficar sentado esperando você e sua equipe agirem. Vou fazer o que for preciso para protegê-los.

Ele me encarou por um longo momento. Não era um desafio, era um aviso. E ele sabia que eu estava falando sério. Ele podia ver nos meus olhos que as linhas que eu não cruzava antes, agora estavam se tornando tênues.

Em vez de discutir, ele simplesmente suspirou e se levantou.

— Já estou saindo. — ele disse, sua voz de volta ao tom seco e oficial.

— Obrigado pela visita, delegado.

Ele assentiu mais uma vez e saiu da minha sala. Eu observei pela porta aberta ele passar pelo corredor. Suas passadas eram firmes e rápidas e como não deu uma única olhada para a porta fechada da sala da Lorena.

Quando o elevador engoliu ele, eu me virei e fechei a porta da minha sala, me encostando nela por um segundo. Passei a mão no rosto, sentindo a tensão acumulada nos músculos da minha mandíbula.

Respirei fundo, tentando ordenar os pedaços.

Genildo. Agiota. Doze Selos. Polícia. E agora, no meio de tudo isso, o irmão da Lorena, que parecia carregar uma carga tão pesada contra ela.

Não dava para esperar. Peguei o celular e toquei para a única pessoa que, além do Ruan, entenderia a gravidade disso.

Alessandro atendeu na segunda chamada, com sua voz em um baixo constante e controlado, como sempre.

— Fala.

— Está ocupado — Minha voz saiu mais tensa do que eu pretendia.

Houve uma pausa mínima do outro lado.

— Não, pode falar… aconteceu alguma coisa?

— O delegado esteve aqui. Não sei se você ficou sabendo, mas atentaram contra ele ontem. — Respirei fundo, tentando organizar as palavras. — Com a ajuda do detetive que você me indicou, descobri que Genildo está devendo uma grana preta para um agiota, chamado Tom e o pior, descobri que esse homem é um dos DOZE SELOS.

O silêncio do outro lado foi absoluto por alguns segundos.

— Já ouvi falar desse grupo…

— Pois é, meu tio está desesperado atrás de dinheiro e agora se meteu com o pior grupo que deveria ter se metido. Ele está devendo muito para esse Tom.

— Merda. — A palavra, rara na boca dele, soou como um prenúncio sombrio. — Isso muda o jogo inteiro, Rafael.

— Eu sei. — a frustração e uma ponta de medo genuíno apertaram meu peito. — O delegado basicamente me disse que eles são fantasmas. Que a polícia corre atrás e não encontra.

— A polícia tem regras, eles não. — a voz de Alessandro era um fio de gelo. — Onde estão seus pais e a Milena agora?

Mãos me puxaram com força bruta e me jogaram em uma cadeira de metal. O saco foi arrancado da minha cabeça de um puxão seco, fazendo meus cabelos suados grudarem na testa.

Pisquei, tentando me acostumar com a luz. O lugar era escuro, úmido, parecia um galpão abandonado. Uma única lâmpada forte pendurada no teto iluminava um círculo no centro, e eu estava bem no meio dele.

E então eu o vi. Sentado em uma cadeira na frente de mim, com uma postura relaxada que era mais assustadora do que qualquer gritaria. Tom.

Meu sangue gelou. Um arrepio percorreu minha espinha da base até o pescoço e cada músculo do meu corpo latejava de dor.

Tom me observou por um momento, seus olhos escuros parecendo não ver um homem, mas um problema a ser resolvido.

— Três milhões, Genildo. — sua voz era suave, mas cada palavra era como um prego sendo martelado na minha condenação. — E o carro, que seria meu, para abater parte da dívida, sumiu.

Ele levantou e se aproximou, seus passos quase silenciosos no chão de concreto. Eu instintivamente me encolhi na cadeira.

— Onde está meu dinheiro? — perguntou, parando na minha frente. — E o que diabos aconteceu com o meu carro?

Antes que eu pudesse responder, seu punho voou. Um gancho certeiro no meu queixo, jogando minha cabeça para o lado com um estalo seco. Um gosto de metal e sangue encheu minha boca.

— É o... o meu sobrinho... — eu cuspi um jato de sangue vermelho-vivo no chão, manchando a poeira. — Rafael... ele queimou o carro.

Tom arqueou uma sobrancelha, um leve sinal de surpresa no seu rosto impassível.

— E por que caralhos seu sobrinho iria queimar um carro que era meu?

— Porque ele e o meu irmão.. acham que têm direito a tudo! — eu gritei, com a raiva e a dor tomando conta. — A empresa é da família! Eu só fui atrás da parte que era minha por direito!

Outro soco, dessa vez no olho. Minha visão ficou turva e latejante por um segundo.

— Eu não tenho nada a ver com a briguinha de família de vocês! — Tom rosnou, seu rosto agora a centímetros do meu. O cheiro de seu perfume amadeirado e caro misturava-se com o fedor do meu suor e sangue. — Quem tá me devendo é você.

Respirei fundo, ofegante. Era agora ou nunca, eu tinha que virar o jogo.

— Escuta, Tom... — disse, com a voz embargada pela dor. — O carro já era seu quando o Rafael queimou. Entende? Ele não queimou meu carro. Ele queimou sua propriedade.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra