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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 338

Fiz uma pausa dramática, tentando ler o seu rosto, vendo que ele não recuou.

— Eles têm dinheiro, Tom. Muito dinheiro. Não só os três milhões que eu te devo. — baixei a voz para um sussurro conspiratório. — Eu consigo vinte milhões. Vinte! Se tudo correr como planejado.

Tom balançou a cabeça lentamente, um movimento de descrença e desdém.

— Eu não me envolvo com gente de fora. Gente que não está no nosso mundo. É pedir pra dar merda.

— Mas ele já entrou no nosso mundo! — insisti, minha voz ficando mais aguda, desesperada. — No momento em que pôs fogo naquele carro, ele cuspiu no seu mundo, Tom! Ele te desrespeitou! — arrisquei um passo ainda mais ousado. — Então, o que é? Os outros podem chegar e queimar a propriedade de um dos Doze Selos e ficar por isso mesmo?

A reação foi instantânea. Seu punho voou de novo, desta vez acertando minha boca com uma força brutal. Senti um dente lascar, uma dor aguda e nauseante se espalhando pela minha mandíbula. Um grito abafado escapou da minha garganta.

Tom me olhou com desprezo, limpando os nós dos dedos num lenço branco que surgiu do nada.

— Você tem uma língua muito afiada para um homem na sua posição, Genildo. — ele cuspiu as palavras. — Tá bom, vou liberar cinco homens. Só cinco. Você usa eles para resolver essa merda toda e me trazer meus vinte milhões e um carro novo. Melhor que o último.

Ele se inclinou, seu hálito quente no meu ouvido.

— Mas se você fizer cagada... se essa sua ganância trazer problema pra mim... — ele não precisou terminar. A intenção estava clara no seu olhar.

Engoli o sangue e a dor. Era a minha chance. Minha única chance.

— Eu... eu faço. — gaguejei, assentindo com a cabeça, sentindo o inchaço no meu olho e lábio. — Eu trago o dinheiro, pode confiar.

Tom deu um passo para trás, seu rosto voltando à impassividade de sempre.

— Não é questão de confiança, Genildo e sim, de consequências.

Ele virou as costas e se afastou, sumindo na escuridão fora do círculo de luz, me deixando ali, sangrando, quebrado, mas com uma centelha de esperança doentia renascendo dentro de mim. Vinte milhões. E a chance de finalmente dar ao meu sobrinho insolente o que ele merecia.

****

(Visão de Lorena)

— Então é isso, acho que podemos finalizar o relatório desta forma — Rafael disse, fechando a pasta à sua frente na mesa de reunião. Ele parecia distante o tempo todo, mesmo tentando disfarçar. O seu olhar vagava pela sala, perdido em pensamentos que claramente não eram sobre o trabalho.

Assenti, fechando meu notebook.

— Perfeito. Eu cuido dos ajustes finais e envio para o setor financeiro.

Ele olhou para o relógio e suspirou, um som cansado que parecia vir das profundezas dele.

— Certo. Preciso ir.

Como se estivesse esperando por um sinal, o seu celular vibrou sobre a mesa. A tela iluminou-se, e o nome piscou como um farol vermelho no meu campo de visão: Sophia.

Meu estômago deu um nó instantâneo.

Rafael pegou o aparelho com uma naturalidade que me causou um incômodo.

— Com licença — ele disse, sem nem olhar para mim, já se levantando e atendendo a chamada. — Oi, linda.

A sua voz mudou. Não era a voz profissional, firme, que ele usava comigo. Era mais suave, mais... disponível. Ele caminhou em direção à porta, suas palavras se perdendo enquanto ele saía.

— Sim, acabei de sair de uma reunião. Tô a caminho...

As portas duplas do elevador se abriram para ele. Ele entrou, ainda falando ao telefone, e se virou. Por uma fração de segundo, nossos olhos se encontraram através do vão que ia se fechando. Não houve um aceno, nem um sorriso. Nada. Apenas um breve contato visual antes das portas de aço se fecharem completamente, levando ele embora.

Para ela.

Fiquei parada ali, encarando o metal fosco das portas, sentindo um peso frio se instalar no meu peito. Aquele "negócio ruim", uma mistura de ciúmes, inadequação e uma pontada de traição que eu não tinha o direito de sentir.

Ele iria se encontrar com ela.

Era óbvio. Aquele tom de voz, a pressa... Claro que sim. Sophia Levin, a estrela internacional, estava em Belos Campos e queria o tempo dele. E por que não? Ela era linda, famosa, bem-sucedida e, aparentemente, ainda tinha um lugar na vida dele. Um lugar que eu nunca tive.

Balancei a cabeça, tentando me afastar dali e dos meus pensamentos.

— Isso não é da sua conta, Lorena. Pelo amor de Deus, você é uma mulher casada. Não deveria estar sentindo nem questionando nada disso.— murmurei para mim mesma, forçando as pernas a se moverem.

De volta à minha sala, arrumei minhas coisas num piloto automático. Cada movimento era mecânico. Peguei a bolsa, fechei a porta e apertei o botão para descer. O silêncio do elevador era opressivo, um contraste gritante com a agitação que eu sentia por dentro.

— Lorena, você é um anjo! Esses aqui — ele apontou para uma pilha menor, mas ainda considerável, ao lado — são justamente para você. São os relatórios de fechamento do último trimestre que o Rafael pediu.

— Sem problemas, eu levo — disse, pegando a pilha de documentos antes que ele tentasse carregar tudo sozinho.

— Valeu mesmo! — ele agradeceu, aliviado.

— Imagina.

Virei-me e segui sozinha em direção aos elevadores. A pilha era pesada e eu a ajustei nos braços, tentando encontrar um equilíbrio. Apertei o botão e aguardei, minha mente vagando mais uma vez para os problemas que teimavam em me assombrar.

Ding.

As portas se abriram. Dei um passo para fora, ainda distraída, com minha atenção dividida entre segurar os arquivos e os pensamentos turbulentos.

E foi então que me esbarrei em algo, ou alguém, sólido e quente.

— Oh!

O impacto foi súbito, olhei para cima e meu coração pareceu parar. Era o Rafael que parecia estar prestes a entrar no elevador. O choque foi suficiente para que a pilha instável de arquivos nos meus braços oscilasse perigosamente.

— Cuidado! — a sua voz foi de alerta, e suas mãos se esticaram instintivamente para tentar segurar os arquivos que eu carregava.

Mas foi em vão.

Entre o meu susto e o movimento dele, a pilha inteira escapou dos meus braços. Pastas se abriram, e uma chuva de papéis brancos se espalhou pelo chão do corredor.

— Nossa, me desculpe! — gaguejei, minhas bochechas queimando de vergonha instantânea. Ótimo, Lorena. Espalhar os relatórios que ele mesmo pediu no chão.

— Foi um acidente— ele disse rapidamente, já se abaixando. — Vamos pegar isso.

Eu me agachei ao mesmo tempo, minha mente focada no constrangimento e na necessidade de resolver aquele pequeno desastre o mais rápido possível.

E foi nesse momento que nossas mãos se esticaram para pegar o mesmo papel, deslizando sobre a folha ao mesmo tempo, com a mão por cima da minha.

O simples contato foi como um choque. Um choque quente que percorreu meu braço e parou direto no meu peito. Sei que parecia algo de adolescente, mas havia algo no seu toque, naquele momento, que me deixou completamente sem ar.

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