Meu olhar, que estava baixo, se ergueu lentamente e os olhos dele fizeram o mesmo movimento.
E ficamos ali. Ajoelhados no chão, no meio da papelada espalhada, com os dedos ainda se tocando sobre a folha de papel. Nossos rostos estavam a centímetros de distância. Tão perto que eu podia contar seus cílios, ver as pequenas partículas de ouro em seus olhos castanhos, sentir o calor de sua respiração.
O mundo ao redor desapareceu. Os papéis, o constrangimento inicial, o fato de estarmos no meio do corredor... tudo se dissolveu naquele silêncio pesado e elétrico. Havia apenas o espaço minúsculo entre nós, carregado de uma tensão que eu nunca tinha sentido antes. Meu coração batia tão forte que eu temia que ele pudesse ouvir.
Seus olhos prenderam os meus, e não havia mais chefe ou assistente naquele olhar. Havia apenas um homem e uma mulher, presos em um momento que não deveria estar acontecendo. Minha mente ficou nublada, inundada pela proximidade, pelo toque, pelo cheiro dele que agora era tudo que eu conseguia sentir.
Por um instante louco e perigoso, eu quis. Esquecer Thales, esquecer Sophia, esquecer tudo.
Mas então, como um balde de água gelada, a culpa chegou.
O que você está fazendo? Você é uma mulher casada.
A imagem do Thales surgiu na minha mente, e um frio percorreu minha espinha. O medo das consequências me atingiu em cheio.
Eu puxei minha mão como se tivesse sido queimada, me afastando e quebrando o contato. O movimento foi tão brusco que eu quase perdi o equilíbrio.
— Eu... eu pego estes — balbuciei, minha voz trêmula, desviando o olhar completamente e focando em juntar os papéis aleatoriamente, com minhas mãos tremendo.
Rafael também pareceu sair de um transe. Ele limpou a garganta e se endireitou, pegando algumas pastas.
— Tudo bem, são só papéis — ele disse, mas a sua voz soou um pouco mais grave do que o normal.
Ele não disse mais nada. Apenas ajudou a juntar o resto em silêncio, enquanto eu me levantava, me sentindo exposta e terrivelmente vulnerável. Aquele quase... aquilo que não aconteceu... doía mais do que qualquer beijo real poderia doer. Porque naquele quase, eu tinha visto uma possibilidade. E saber que ela estava totalmente fora dos meus limites era a pior parte de tudo.
***
Umas duas horas se passaram desde o... incidente no corredor. Minhas mãos ainda pareciam guardar o eco do toque dos dedos dele, e toda vez que eu fechava os olhos, via aquele olhar intenso a centímetros do meu. Eu tinha evitado sair da minha sala a todo custo, mas agora não tinha mais jeito. Os documentos da parceria de São Paulo precisavam da assinatura dele.
Respirei fundo, tentando acalmar os nervos que dançavam no meu estômago. Peguei a pasta e caminhei até a sala dele. Bati na porta com os nós dos dedos, o som ecoando no corredor silencioso.
— Pode entrar — a sua voz veio de dentro.
Abri a porta e o encontrei exatamente como eu, secretamente, esperava não encontrar: sentado à mesa, mas com o corpo reclinado para trás na cadeira, a cabeça apoiada no encosto alto e as mãos pressionando as têmporas. Seus olhos estavam fechados, e uma expressão de dor nítida franzia seu cenho.
Todo o meu nervosismo anterior foi substituído por uma pontada de preocupação.
— O que houve? — perguntei, fechando a porta e me aproximando da mesa.
Ele abriu os olhos, meio sem foco e os fixou em mim.
— Nada de mais. Só uma dor de cabeça que não quer passar.
Coloquei a pasta com os documentos na mesa, bem na sua frente.
— Já tomou algum remédio?
— Acabou. — ele respirou fundo, esfregando os olhos. — Depois eu passo na farmácia.
— Eu tenho na minha bolsa — disse rapidamente, antes que pudesse pensar melhor. — É daqueles que dissolvem na água. Me espera um minuto.
Não esperei por uma resposta. Saí da sala dele e quase corri pelo corredor até o meu próprio cantinho. Revirei a bolsa até encontrar o sachê. Quando voltei à sala, ele ainda estava na mesma posição, mas seus olhos me seguiram enquanto eu entrava.
Fui direto até a pequena mesa de apoio, onde sempre havia uma jarra de água fresca e copos. Enchi um copo, rasguei a embalagem do remédio e despejei o pó, que começou a borbulhar e se dissolver. Levei até a sua mesa e estendi para ele.
— Toma.
Ele se inclinou para a frente, suas mãos envolvendo o copo enquanto nossas dedos se tocaram de novo, brevemente. Desta vez, não foi um choque elétrico, mas algo mais suave, um calor reconfortante.
— Obrigado, Lorena — ele disse, e bebeu o conteúdo de um só gole.
Um sorriso pequeno e involuntário surgiu nos meus lábios. Ver que eu podia ajudá-lo de alguma forma, mesmo com algo tão simples, aliviou um pouco da tensão estranha que havia entre nós.
— São os documentos dos parceiros de São Paulo — expliquei, apontando para a pasta. — Só falta a sua assinatura. Depois do retorno positivo deles, é só agendarmos a sua visita à sede.
Ele puxou a pasta para mais perto, abriu-a e pegou a caneta. Enquanto folheava as páginas para assinar nos lugares certos, um sorriso genuíno e bonito começou a brotar em seu rosto, afastando um pouco da dor.
— Se essa parceria der certo como esperamos — ele disse, olhando para mim por cima das folhas —, a empresa vai ser elevada a um nível completamente novo. É o nosso maior contrato até agora.

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Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...
Capítulo 293 tá bloqueado sendo que já está entre os gratuitos...
Quantos capítulos são?...
Não consigo parar de ler é surpreendente, estou virando a noite lendo. É tão gostoso ler durante a madrugada no silêncio enquanto todos dormem. Diego e Alice são perfeitos juntos, assim como Alessandro e Larissa...
Maravilhoso,sem palavras recomendo vale muito apena ler👏🏼👏🏼...
Quem tem a história Completa do Diogo?...