Entrar Via

Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 341

22 de abril- sexta-feira

O relógio marcava 06:25 quando ouvi o ronco de uma moto se aproximando da minha garagem. A moto era preta, imponente, e parou com precisão milimétrica ao lado do portão. O som do motor cessou e o silêncio da manhã tomou conta por alguns segundos, até que Nicolas tirou o capacete.

Ele ergueu o rosto, e por um instante o reflexo do sol nascente bateu no couro da jaqueta.

Nicolas tinha aquele tipo de presença que impõe respeito sem precisar abrir a boca. Alto, devia ter uns 1,89, ombros largos, expressão fechada e olhar direto, calculado. O corte de cabelo rente e a barba por fazer davam a ele um ar ainda mais severo. Era o tipo de cara que você não encara por muito tempo, mesmo sem saber por quê.

— Rafael. — Ele me cumprimentou com aquele tom frio e controlado de sempre.

— Valeu por ter vindo — respondi, cruzando os braços.

Ele assentiu uma vez, sem emoção.

— Não pensei que fosse voltar tão cedo… — disse, deixado o capacete apoiado no guidão da moto. — Mas talvez seja melhor assim.

— Pois é — murmurei. — Eu também não achei que fosse precisar de você tão rápido.

Ele inclinou a cabeça, analisando.

— Qual é o serviço?

Respirei fundo.

— É sobre minha irmã, Milena. Ela acabou de se separar do marido e quer… aproveitar a vida um pouco, digamos assim. Mas a situação ficou perigosa. — Fiz uma pausa, observando o que olhar dele continuava impassível. — A gente recebeu algumas ameaças, tentativas de assassinato, sequestro… Eu preciso de alguém pra ficar de olho nela até finalizar com o que tenha que ser feito. O meu tio, Genildo, está por trás disso em busca de dinheiro por estar devendo um agiota perigoso…

Nicolas ficou em silêncio por um instante, como se estivesse processando cada palavra.

— Quer que eu seja o guarda-costas dela?

— Exato. — Cruzei os braços. — Quero que a proteja e se ela resolver fugir, ir pra algum lugar sem avisar, você vai atrás. Não posso confiar isso a mais ninguém além de você.

Ele me olhou firme, e apenas assentiu. Nicolas nunca foi de falar muito, sempre deixou as ações fazerem o barulho por ele.

— Tenho permissão pra não deixar rastros? — perguntou, seco.

Eu sabia o que ele queria dizer com isso.

Olhei nos seus olhos, sem hesitar. —

Tem. Faça o que for preciso, mas proteja a Milena. E se os meus pais estiverem por perto… protege eles também.

Ele assentiu de novo, sem mudar a expressão.

— Entendido.

Peguei o celular do bolso e fiz a transferência. Alguns segundos depois, o celular dele vibrou. Nicolas olhou o valor, ergueu uma sobrancelha discreta, mas não disse nada.

— Tá justo pra esse serviço? — perguntei.

Ele apenas respondeu com um aceno.

Guardei o celular de volta no bolso e fiz sinal pra ele entrar.

— Então vem. Vou te apresentar pra família.

O som firme das botas dele ecoava no chão, e por um instante pensei no quanto era bom tê-lo de volta, mesmo que o motivo não fosse dos melhores.

Entrei em casa com Nicolas logo atrás. O cheiro de café fresco e pão quente veio do corredor, junto com o som de talheres batendo contra os pratos.

Na mesa, meu pai e minha mãe estavam tomando café da manhã, enquanto Francisca servia o suco e ajeitava umas frutas na travessa. Tudo parecia normal, até o momento em que eles levantaram o olhar e viram Nicolas parado na porta da cozinha.

O ar pareceu ficar mais pesado.

Meu pai largou a xícara de café devagar e me olhou com aquele semblante que dizia tudo sem precisar abrir a boca: o que esse sujeito tá fazendo aqui, Rafael?

Suspirei.

— Pai, mãe… esse é o Nicolas.

Eles continuaram olhando pra ele.

— Ele vai ser o guarda-costas da Milena. Mas também vai protegê-los, caso esteja por perto e… seja preciso.

O rosto do meu pai fechou na hora.

— Guarda-costas? — perguntou, com o tom firme. — A gente não precisa disso, Rafael.

Antes que eu respondesse, minha mãe o cortou.

— Augusto, fica quieto. — Ela pousou a xícara com calma, mas o seu olhar estava sério. Depois, voltou-se pra Nicolas. — Se você veio pra nos proteger, obrigada. As coisas não têm estado muito fáceis ultimamente.

Ela hesitou um pouco, como se não quisesse admitir, mas completou:

— Tenho andado com medo. Esse silêncio do Genildo me preocupa.

Meu pai desviou o olhar, respirou fundo e tocou de leve a mão dela sobre a mesa, um gesto raro, quase envergonhado.

Nicolas ficou em pé, imóvel, como uma sombra.

Depois de alguns segundos, ele apenas assentiu e disse com a voz firme, baixa:

— Eu vou protegê-los com a minha vida.

— Nosso tio tá solto, Milena. E ele se meteu com gente perigosa. Eu não vou correr o risco de você estar na estrada, ou numa praia qualquer, e algo acontecer.

Ela se sentou na cama, apoiando os cotovelos nos joelhos e passando a mão no rosto.

— Eu odeio aquele homem.

— Eu também não sou o maior fã dele, não — murmurei. — Mas até que a gente saiba o que ele tá tramando, você não vai sair sozinha.

Ela levantou o olhar pra mim, já desconfiada.

— O que você tá querendo dizer?

— Que eu contratei um guarda-costas pra você e ele já chegou.

— O quê? — Ela pulou da cama, me olhando como se eu tivesse acabado de anunciar o fim do mundo. — Você enlouqueceu, Rafael? Eu não quero ninguém colado nas minhas costas o tempo todo! Eu quero ser livre, quero respirar!

— Pois é, mas a única forma de você sair dessa casa é com o Nicolas junto. — Cruzei os braços, firme. — Sem ele, você não vai a lugar nenhum.

— Eu não preciso de babá! — esbravejou, gesticulando. — Manda esse tal de Nicolas embora, agora!

E foi justamente nesse momento que ele apareceu na porta, silencioso como uma sombra. Encostado no batente, com aquele olhar impassível e frio.

Milena engoliu as palavras na hora. Arregalou os olhos, olhando pra ele de cima a baixo e aí, pra minha irritação, um sorrisinho safado começou a se formar nos seus lábios.

— Milena — falei, revirando os olhos. — Esse é o Nicolas.

Ele deu um leve aceno de cabeça, sem expressão alguma.

— Nicolas, essa é minha irmã, Milena.

Ela abriu um sorriso enorme, fingindo um ar todo doce.

— É um prazer te conhecer, Nicolas. — A sua voz saiu quase melosa. — Ainda bem que o Rafael pensou em mim… eu tô mesmo com medo desse tio maluco e desses bandidos. Vou me sentir bem mais segura com você por perto.

Olhei pra ela, levantando uma sobrancelha.

— Ah, é? Engraçado… há dois minutos você queria me matar por causa disso.

Ela apenas deu de ombros, ainda sorrindo pra ele.

Balancei a cabeça devagar, suspirando.

— Você não mudou nada. — murmurei, mais pra mim mesmo do que pra eles.

E, pelo canto do olho, vi Nicolas conter um meio sorriso discreto, como se já tivesse entendido exatamente com quem ia lidar dali pra frente.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra