Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 362

Ela ergueu o olhar e arregalou os olhos.

— Lorena?! Meu Deus, você tá… encharcada.

— A chuva me pegou quando fui pro carro — respondi com um sorriso rápido, tentando não entregar nada do meu caos interno.

Joyce começou a juntar o material, falando enquanto empilhava as folhas:

— Alana já tá dormindo. Desmaiou cedo hoje.

— Obrigada, de verdade. Eu já te mando o valor das horas — falei, já abrindo a bolsa pra pegar o celular.

Ela sorriu, agradeceu e saiu, fechando a porta atrás de si. Joyce morava no apartamento do andar de cima.

O silêncio veio de novo. Dessa vez… mais pesado.

Encostei na parede da sala e deixei os ombros caírem, como se finalmente pudesse desabar. Tirei os sapatos ali mesmo, sem pensar muito, e caminhei até o banheiro.

Um banho.

Eu precisava de um banho urgente. Não só pra tirar a chuva e o frio… mas pra tentar organizar tudo o que eu estava sentindo.

Entrei no banheiro e fechei a porta devagar, como se isso fechasse o mundo lá fora junto. Liguei o chuveiro e esperei a água esquentar, mas a verdade é que eu já estava quente demais por dentro.

Era por causa dele.

Tirei a roupa molhada, que caiu pesada no chão, e entrei debaixo da água quente. Assim que a água bateu nas minhas costas, eu soltei um suspiro tão longo que parecia vir de anos acumulados. Fechei os olhos e deixei a cabeça cair pra trás, respirando fundo.

E foi impossível não voltar pra ele.

Passei os dedos devagar pelos meus lábios, ainda sentindo como se o beijo tivesse ficado impresso ali, como uma marca. Eu me lembrei da sensação deliciosa da sua língua roçando na minha, da respiração acelerada dos dois, do jeito que ele segurou minha nuca… firme, mas com cuidado, como se eu fosse algo precioso.

Senti minhas pernas ficarem bambas de novo e me apoiei na parede, porque parecia que só o pensamento dele já mexia comigo de um jeito que eu não estava preparada.

Eu nunca… nunca imaginei que fosse sentir aquilo novamente. Aquela necessidade urgente e ao mesmo tempo doce. Aquele desejo que arrepiava minha pele inteira e o conforto estranho que só o seu abraço trouxe.

— Rafael… — murmurei sem querer, deixando a água levar o nome dele embora.

Mas aí, como um estalo, a realidade veio. Crua. Pesada.

Thales.

Fechei os olhos com força, respirando fundo, tentando afastar a sensação de culpa que me atingiu como um soco no estômago.

Eu ainda era casada. Ainda carregava aquele papel. Ainda tinha o sobrenome dele.

Mesmo que o casamento fosse só uma casca quebrada, mesmo que já não existisse nada além de medo, silêncio e lembranças que eu tentava esquecer… ainda era um casamento.

Encostei a testa no azulejo frio, deixando a água escorrer pelas costas enquanto um aperto crescia no meu peito.

— Eu preciso sair disso… — murmurei, com a voz quase falhando.

Porque não era só sobre Rafael. Era sobre mim.

Sobre a mulher que eu tinha me tornado pra sobreviver e sobre quem eu queria ser daqui pra frente.

Não podia mais viver presa. Não depois de ter sentido, nem que fosse por alguns minutos, como era ser olhada com carinho. Desejada sem medo. Tocada com cuidado. Abraçada como se eu importasse.

O beijo com Rafael tinha despertado tudo que eu enterrei por anos e junto veio uma verdade que eu não podia ignorar:

Eu não queria mais ser a esposa de Thales e não queria mais essa vida de dor e silêncio.

Queria ser livre.

Respirei fundo, ergui o rosto para a água e deixei a temperatura quente aliviar o nó na garganta.

Sabia que não ia ser fácil. Que Thales não ia facilitar.

Mas pela primeira vez, a coragem veio.

Veio mansa, mas firme.

Quando desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha, senti algo diferente no meu peito. Uma faísca.

Eu iria em frente. Por mim. E só depois… por tudo o que ele me fez sentir.