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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 387

Acordei com a cabeça latejando, não só pela bebida, mas pela sensação sufocante de que eu tinha feito merda. Uma merda enorme.

Demorei alguns segundos pra entender onde estava. O teto escuro, cheiro de perfume doce misturado com vinho. A luz vermelha ainda acesa, fraca. E então eu virei o rosto.

Sophia estava nua ao meu lado, dormindo de bruços, com a respiração lenta, tranquila, como se nada tivesse acontecido. Como se a noite não tivesse sido um erro absurdo.

Fechei os olhos com força.

Droga. Droga.

Passei a mão no rosto, pressionando as têmporas, tentando segurar aquela onda de arrependimento que subia como uma maré. O quarto parecia pequeno demais de repente, como se estivesse me esmagando.

Virei o relógio de pulso no chão para enxergar as horas.

04:12 da manhã.

— Ótimo… — murmurei, quase num riso sem humor.

Comecei a procurar minhas roupas no escuro, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Calça no canto da cama. Camisa caída perto da porta. Cinto pendurado na mesa. Me vesti rápido, com o estômago embrulhado, sem coragem de olhar de novo pra cama.

Cada peça que eu colocava era como um lembrete: Você deixou acontecer. Você deixou.

Eu não tinha nada com Lorena. Nada “oficial”. Mas o que eu sentia… aquilo pesava como traição.

Uma pior ainda, a que ninguém sabe, mas que corrói você por dentro.

Antes de abrir a porta, olhei de relance para Sophia. Ela continuava dormindo, tranquila, completamente alheia ao caos que crescia dentro de mim.

Suspirei fundo e saí.

O corredor estava silencioso. O bar fechado, a música desligada. Passei por tudo quase em automático, só querendo desaparecer. O segurança do clube me reconheceu e abriu a porta sem perguntar nada. Graças a Deus.

O trajeto até em casa pareceu curto demais pra quantidade de pensamentos que eu queria resolver.

Quando cheguei, a casa estava completamente silenciosa. As luzes apagadas. Nem Milena, nem meus pais, ninguém acordado.

Subi direto para o meu quarto, com passos duros, como se o piso pudesse sentir o peso da culpa.

Fechei a porta, encostei as costas nela e respirei fundo, tentando manter o controle.

Como eu ia olhar nos olhos de Lorena agora? Como eu ia fingir normalidade quando cada parte de mim gritava o nome dela?

Passei as mãos no rosto de novo, sentindo a culpa latejar no peito, maior que a ressaca, maior que tudo.

(Visão de Thales)

O galpão estava silencioso por fora, com aquela calmaria falsa que sempre antecede merda acontecendo. Por dentro, porém, o ar vibrava. O cheiro de metal, óleo e pólvora impregnava tudo, exatamente como deveria. Meu território. Minha operação. Meu controle.

A máscara preta escondia metade do meu rosto enquanto eu caminhava pelo corredor estreito, o eco dos meus passos misturado às vozes baixas dos meus homens.

— O chefe chegou! — ouvi um deles avisar, e imediatamente todos se endireitaram.

Aproximei-me da mesa principal, onde as armas estavam abertas, limpas, organizadas e impecáveis. Justo como eu pedi.

Genildo veio até mim, com aquele jeito que sempre me irrita um pouco de confiança demais e cuidado de menos.

— Tudo pronto, chefe — disse, batendo a mão no meu braço como se fosse meu amigo. — O Tom liberou a rota. É só dar o sinal que carregamos no caminhão.

Assenti, passando os olhos por cada peça.

— Verificaram os números de série? — perguntei, sem tirar os olhos da mesa.

— Todos raspados. Como você pediu.

— E os caras da segurança?

— Posicionados nos pontos. Se a polícia aparecer aqui, vai ter guerra.

Suspirei devagar. Eu queria evitar guerra naquela noite. Tudo que eu queria era que essa operação fosse limpa, eficiente, sem surpresas.

— Ótimo — respondi. — Vamos mandar esse carregamento pro porto antes das três. Nenhum atraso ou erro.

Genildo assentiu, virando para dar as ordens. Mas antes de sair, ele se virou de novo.

— Eclipse… ouvi uns boatos aí. — Ele baixou a voz. — O Joab tá estranhamente calmo demais.

Franzi o cenho.

— O que é que você tá insinuando?

— Nada… só que a gente sabe como é. Joab não faz favor grátis. Se ele liberou essa rota assim… fácil demais… não sei. Tenho mau pressentimento.

Ri pelo nariz.

— Mau pressentimento é sua vida inteira, Genildo. Trabalha direito e para de falar merda.

Ele ergueu as mãos, rendido.

— Beleza, chefe. Só fiz comentar.

Continuei vigiando os homens embalando as armas. Caixas de madeira lacradas, plástico preto reforçado, símbolos falsos de empresa importadora. Perfeito. Tudo perfeito.

Mas, enquanto observava, algo começou a incomodar lá no fundo. Uma sensação incômoda, pequena, que eu tentei ignorar.

Um dos mais novos se aproximou.

— Chefe, o caminhão tá pronto. O senhor quer dar o sinal?

Olhei para ele e antes que eu pudesse responder, ouvi algo.

Um estalo. Leve, distante. Mas reconhecível.

Minha respiração congelou por meio segundo.

— Você ouviu isso? — perguntei.

— O quê? — ele franziu o cenho.

Mais um estalo. Depois outro.

E então um silêncio pesado caiu sobre o galpão. Um silêncio que gritava.

Levantei a mão lentamente, chamando atenção geral.

— Parem tudo. Ninguém toca em porra nenhuma agora.

Todos congelaram.

Genildo se aproximou outra vez, com o olhar tenso.

— Chefe… isso não foi da gente.

Não. Não foi.

Meu coração bateu mais rápido, não de medo, mas de cálculo.

Travei o maxilar e verifiquei a máscara no rosto, enquanto o comando saía firme:

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