Acordei com a cabeça latejando, não só pela bebida, mas pela sensação sufocante de que eu tinha feito merda. Uma merda enorme.
Demorei alguns segundos pra entender onde estava. O teto escuro, cheiro de perfume doce misturado com vinho. A luz vermelha ainda acesa, fraca. E então eu virei o rosto.
Sophia estava nua ao meu lado, dormindo de bruços, com a respiração lenta, tranquila, como se nada tivesse acontecido. Como se a noite não tivesse sido um erro absurdo.
Fechei os olhos com força.
Droga. Droga.
Passei a mão no rosto, pressionando as têmporas, tentando segurar aquela onda de arrependimento que subia como uma maré. O quarto parecia pequeno demais de repente, como se estivesse me esmagando.
Virei o relógio de pulso no chão para enxergar as horas.
04:12 da manhã.
— Ótimo… — murmurei, quase num riso sem humor.
Comecei a procurar minhas roupas no escuro, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Calça no canto da cama. Camisa caída perto da porta. Cinto pendurado na mesa. Me vesti rápido, com o estômago embrulhado, sem coragem de olhar de novo pra cama.
Cada peça que eu colocava era como um lembrete: Você deixou acontecer. Você deixou.
Eu não tinha nada com Lorena. Nada “oficial”. Mas o que eu sentia… aquilo pesava como traição.
Uma pior ainda, a que ninguém sabe, mas que corrói você por dentro.
Antes de abrir a porta, olhei de relance para Sophia. Ela continuava dormindo, tranquila, completamente alheia ao caos que crescia dentro de mim.
Suspirei fundo e saí.
O corredor estava silencioso. O bar fechado, a música desligada. Passei por tudo quase em automático, só querendo desaparecer. O segurança do clube me reconheceu e abriu a porta sem perguntar nada. Graças a Deus.
O trajeto até em casa pareceu curto demais pra quantidade de pensamentos que eu queria resolver.
Quando cheguei, a casa estava completamente silenciosa. As luzes apagadas. Nem Milena, nem meus pais, ninguém acordado.
Subi direto para o meu quarto, com passos duros, como se o piso pudesse sentir o peso da culpa.
Fechei a porta, encostei as costas nela e respirei fundo, tentando manter o controle.
Como eu ia olhar nos olhos de Lorena agora? Como eu ia fingir normalidade quando cada parte de mim gritava o nome dela?
Passei as mãos no rosto de novo, sentindo a culpa latejar no peito, maior que a ressaca, maior que tudo.
(Visão de Thales)
O galpão estava silencioso por fora, com aquela calmaria falsa que sempre antecede merda acontecendo. Por dentro, porém, o ar vibrava. O cheiro de metal, óleo e pólvora impregnava tudo, exatamente como deveria. Meu território. Minha operação. Meu controle.
A máscara preta escondia metade do meu rosto enquanto eu caminhava pelo corredor estreito, o eco dos meus passos misturado às vozes baixas dos meus homens.
— O chefe chegou! — ouvi um deles avisar, e imediatamente todos se endireitaram.
Aproximei-me da mesa principal, onde as armas estavam abertas, limpas, organizadas e impecáveis. Justo como eu pedi.
Genildo veio até mim, com aquele jeito que sempre me irrita um pouco de confiança demais e cuidado de menos.
— Tudo pronto, chefe — disse, batendo a mão no meu braço como se fosse meu amigo. — O Tom liberou a rota. É só dar o sinal que carregamos no caminhão.
Assenti, passando os olhos por cada peça.
— Verificaram os números de série? — perguntei, sem tirar os olhos da mesa.
— Todos raspados. Como você pediu.
— E os caras da segurança?
— Posicionados nos pontos. Se a polícia aparecer aqui, vai ter guerra.
Suspirei devagar. Eu queria evitar guerra naquela noite. Tudo que eu queria era que essa operação fosse limpa, eficiente, sem surpresas.
— Ótimo — respondi. — Vamos mandar esse carregamento pro porto antes das três. Nenhum atraso ou erro.
Genildo assentiu, virando para dar as ordens. Mas antes de sair, ele se virou de novo.
— Eclipse… ouvi uns boatos aí. — Ele baixou a voz. — O Joab tá estranhamente calmo demais.
Franzi o cenho.
— O que é que você tá insinuando?
— Nada… só que a gente sabe como é. Joab não faz favor grátis. Se ele liberou essa rota assim… fácil demais… não sei. Tenho mau pressentimento.
Ri pelo nariz.
— Mau pressentimento é sua vida inteira, Genildo. Trabalha direito e para de falar merda.
Ele ergueu as mãos, rendido.
— Beleza, chefe. Só fiz comentar.
Continuei vigiando os homens embalando as armas. Caixas de madeira lacradas, plástico preto reforçado, símbolos falsos de empresa importadora. Perfeito. Tudo perfeito.
Mas, enquanto observava, algo começou a incomodar lá no fundo. Uma sensação incômoda, pequena, que eu tentei ignorar.
Um dos mais novos se aproximou.
— Chefe, o caminhão tá pronto. O senhor quer dar o sinal?
Olhei para ele e antes que eu pudesse responder, ouvi algo.
Um estalo. Leve, distante. Mas reconhecível.
Minha respiração congelou por meio segundo.
— Você ouviu isso? — perguntei.
— O quê? — ele franziu o cenho.
Mais um estalo. Depois outro.
E então um silêncio pesado caiu sobre o galpão. Um silêncio que gritava.
Levantei a mão lentamente, chamando atenção geral.
— Parem tudo. Ninguém toca em porra nenhuma agora.
Todos congelaram.
Genildo se aproximou outra vez, com o olhar tenso.
— Chefe… isso não foi da gente.
Não. Não foi.
Meu coração bateu mais rápido, não de medo, mas de cálculo.
Travei o maxilar e verifiquei a máscara no rosto, enquanto o comando saía firme:

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Vou fazê-lo novamente!!!! Dois capítulos por dia é um desrespeito!!!...
Ué cadê meu comentário?...
Esse é o terceiro livro, os dois primeiros caminharam bem, mas agora só dois capítulos por dia é muito pouco. Lembre-se de seu compromisso com os leitores...
Cadê o capítulo 319???????? Não tem?????...
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...
Capítulo 293 tá bloqueado sendo que já está entre os gratuitos...