Entrar Via

Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 190

Diogo

Cheguei em casa e fechei a porta atrás de mim com mais força do que pretendia. Encostei a testa na madeira por um segundo, soltando um suspiro longo. Um turbilhão de sensações me atravessava o peito com confusão, alívio, um pouco de raiva, mas, acima de tudo, um medo estranho que ainda não tinha nome.

Ela passou mal, foi só isso, mas… Por horas eu achei que tinha sido dispensado.

Pisei firme no chão enquanto andava até a sala e me joguei no sofá encarando o teto por um momento, lembrando do nosso último encontro. O clima estava diferente, não era só cansaço ou um dia ruim... Tinha algo nela, algo nos olhos, nas palavras como se estivesse se afastando.

Machucada, arisca e eu não fazia ideia do motivo. Mas sentia que tinha algo a ver com o seu passado.

Olhei para o relógio no pulso, vendo que já era quase seis da tarde.

Soltei mais um suspiro e peguei o celular, toquei no nome de Valter e esperei. Ele atendeu no terceiro toque.

— Fala, Diogo.

— E aí. Você tinha dito que ia me dar um retorno...

— Cheguei de Nova Liberdade faz pouco tempo. Mas é melhor a gente conversar pessoalmente. Tá em casa agora?

— Estou sim, pode vir.

— Certo, em dez minutos estou aqui.

Desliguei e fiquei com o celular na mão, apertando a tela como se isso fosse aliviar a tensão.

Se ele queria falar pessoalmente... não era coisa boa. Valter era direto e prático. Se tivesse algo leve, já teria adiantado por telefone.

Me sentia inquieto, ansioso e sem perceber, comecei a andar de um lado para o outro. O som dos meus passos ecoando na sala era a única coisa quebrando o silêncio.

Minutos depois, ouvi o som do elevador, as portas se abrindo e Valter saiu, parando na minha frente mais sério do que o normal. Ele segurava um envelope nas mãos e minha curiosidade aumentou ainda mais.

Ele se sentou no sofá como se estivesse carregando o peso de alguma coisa importante. E então me sentei ao seu lado, mas antes que pudesse perguntar qualquer coisa, ele estendeu o envelope na minha direção.

— Pesquisei um pouco mais depois que você saiu de Nova Liberdade — ele começou. — E encontrei isso.

Peguei a pasta com um certo receio, sentindo que não ia gostar do que tinha ali. Mas antes de abrir, o encarei.

— Descobri que o médico que… bem, cuidou dela, voltou para a cidade dois anos depois do que aconteceu.

— Mas você já tinha resolvido isso. A gente pagou o suficiente pra calar todo mundo, pra afastar todos daquela cidade. Como assim ele está volta?

Ele assentiu com a cabeça.

— Eu sei e tudo saiu como o combinado. O encontrei e ele apenas disse que a família precisava dele.

Meu estômago revirou.

— Você tá brincando.

— Quem dera. E há cerca de um ano, Enrique Bastos foi atrás dele. Queria saber mais sobre ela.

Senti um frio subir pela minha espinha. Passei a mão pelo rosto e respirei fundo, ajeitando a postura no sofá, com o envelope no colo, mas ainda sem coragem de abrir.

Valter respirou fundo e cruzou os braços.

— Abre e dá uma olhada.

Com dedos trêmulos, abri a pasta e puxei as fotos que estavam lá dentro. O papel fotográfico era grosso, e as imagens tinham sido tiradas de longe, mas estavam nítidas o bastante. Um homem, mais ou menos uns trinta e poucos anos.

Senti o gosto amargo subir pela garganta.

Ele tinha os traços dela, a mesma intensidade no olhar.

— Esse é o tal do Enrique? — perguntei, minha voz saindo baixa, carregada.

— É ele.

— E o que você descobriu sobre ele?

— Se separou da mulher há uns cinco anos, ou talvez menos. Veio pra Nova Liberdade logo depois e antes disso, foi acusado de agressão contra a esposa. A ex-mulher fez boletim, ele chegou a cumprir dois anos preso e depois ficou em condicional com serviço comunitário. Sumiu depois disso e pareceu em Nova Liberdade, ficando quieto... até começar a procurar sobre ela.

— Droga — murmurei, passando as mãos no cabelo.

— Acredito que só desconfia que você está por trás do que aconteceu, mas não tem provas ainda… Mas isso é só uma questão de tempo.

— E você acha que ele tá atrás de dinheiro?

Valter assentiu com um olhar firme.

— Com esse histórico? E vindo atrás do passado dela justo agora? É isso ou vingança. Mas aposto no dinheiro. Então, quando ele aparecer, seja direto. Oferece uma boa quantia e fecha esse ciclo logo.

Fiquei em silêncio por um tempo, encarando aquelas fotos. O mundo parecia girar devagar. A semelhança era gritante e aquilo mexia comigo de um jeito que eu não sabia explicar. Era como ver um fantasma.

Assenti com a cabeça, exausto.

— Eu vou fazer isso.

Valter se levantou, deu dois passos e então parou, voltando-se para mim, tocando meu ombro com firmeza.

— Se acalma. Vai dar certo, a gente vai resolver isso como sempre resolve.

Assenti outra vez, mas não consegui dizer nada. Só respirei fundo, sentindo aquele gosto amargo voltar à boca.

Meus músculos enrijeceram e os punhos se fecharam. Senti um nó apertar na garganta. Ela disse que eram só amigos. Só amigos, porra.

Mas amigos agem assim?

Ela encostou a cabeça no ombro dele, como se aquilo fosse rotina e o infeliz passou o braço por trás da cintura dela, puxando-a de leve.

— Você tá mais magra — ele comentou, em voz baixa.

— Tô economizando. Açúcar tá caro, né? — ela riu, mas ele não achou graça.

— Você tá se cuidando mesmo? Sei que pegou turnos extras.

— Mais ou menos — ela deu de ombros. — Mas estou tentando.

— Se for por dinheiro, você sabe que—

— Julio. Não começa.

— Menina teimosa, meu Deus. Mas se precisar, sempre estarei aqui. — ele disse, tocando de leve a mão dela.

Aquilo me sufocou.

Me vi imaginando os dois na casa que dividem. Será que se tocam assim lá dentro? Será que ela se encosta nele desse jeito quando estão sozinhos? Será que ri desse jeito... deitada no colo dele?

Quase avancei.

Meu corpo inteiro gritava por ação. Por impulso e arrancar ela dali. Por mostrar que ela era minha.

Mas ela não era.

Ainda não.

Saí dali com passos duros, atravessando o parque como se o chão fosse ceder sentindo a raiva corroendo meu peito e as imagens rodando na minha mente como facas afiadas.

Nunca me senti assim.

Ciúmes. Possessividade.

Desejo de brigar com o mundo inteiro, só pra arrancar aquele sorriso dela e trazer pro meu colo.

Entrei no carro e bati a porta com força, apoiando os braços no volante e fechando os olhos, tentando controlar o caos que se formava dentro de mim.

Respira, Diogo. Respira.

Ou você volta lá e perde o controle ou vai embora antes que faça uma merda da qual não consiga voltar.

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra