Cap.29
Terça , 27 de setembro
Cheguei cedo à fábrica, mesmo depois de uma noite mal dormida.
Desde o incêndio, eu fazia questão de acompanhar tudo de perto. Queria ver com meus próprios olhos a reconstrução, a segurança sendo reforçada, a moral dos funcionários. Não era só uma questão de gestão, era pessoal.
Eu cresci com aquele chão de fábrica, aprendi com meu pai o valor de cada parafuso, cada centímetro de metal moldado ali. E agora, depois de um susto daqueles, eu precisava garantir que tudo estava nos trilhos.
— Senhor Diogo, bom dia. — o gerente da unidade, Osmar, me cumprimentou quando me viu cruzando o pátio.
— Bom dia, Osmar. Como estão as coisas hoje?
— Melhorando. A ala danificada já está isolada com segurança e os técnicos finalizaram a inspeção elétrica ontem à noite. Não houve novos riscos detectados.
Assenti, caminhando ao lado dele.
— E os funcionário, alguém se afastou?
— Dois, por orientação médica. Tiveram crises de ansiedade depois do ocorrido, mas estamos com psicólogo disponível em tempo integral agora.
— Bom. Continua assim, se alguém precisar de mais tempo ou ajuda... não economiza, entendeu? Isso não é só produção, é gente.
— Sim, senhor.
Paramos diante da linha de montagem que seguia funcionando com ritmo mais lento. Observei o movimento, os olhos dos operadores, o som das máquinas e o cheiro metálico familiar.
— O seguro foi liberado? — perguntei.
— Ontem. O financeiro já está reorganizando os investimentos pro novo sistema de ventilação.
— Quero um relatório sobre isso até sexta. E qualquer coisa que precise da minha assinatura, manda direto.
— Pode deixar.
Depois de uma hora e meia circulando, cumprimentando os funcionários, trocando ideias com os engenheiros e revisando documentos com o jurídico, senti o cansaço pesar nos ombros. Despedi-me de Osmar com um aperto de mão firme e entrei no carro com a cabeça fervendo.
Mas dessa vez, não era só trabalho que me ocupava.
No caminho de volta, tentei não pensar em Alice. Em como eu teria preferido estar com ela essa noite.
Mas o compromisso com Alessandro já estava marcado e tudo para receber Rafael.
Cheguei em casa por volta das cinco e meia. Fui direto pro quarto, tirando o paletó no caminho e afrouxando a gravata. No banheiro, liguei o chuveiro no quente e deixei a água escorrer pelos ombros, lavando o peso do dia.
Enquanto ensaboava os braços, escutei a notificação do celular vibrar na pia. Alcancei, ainda molhado. Era Alessandro, no grupo que tínhamos com Rafael.
Alessandro:
"Larissa tá surtando. Disse que só confia porque é você que vai comigo. Se fosse depender do Rafael, eu voltava carregado nos ombros."
Não consegui conter o riso.
Respondi:
Eu:
"Ela tem razão. Se deixar, Rafael bota tequila no café da manhã."
Minutos depois, outra notificação.
Larissa:
"É sério, Diogo. Cuida dele e de vocês dois. O Rafa anda abatido desde que voltou de viagem. Ele finge que tá bem, mas tá se arrastando. Ajuda ele a esquecer um pouco."
Suspirei, colocando o celular de lado.
Rafael tinha voltado fazia dois dias. Cansado, o olhar sempre longe, como se estivesse mastigando algo que não queria engolir. A descoberta das traições do parceiro mexeu com ele mais do que queria admitir e agora, estava ali, tentando voltar à superfície. Por isso aceitei o convite. Por isso não furei, mesmo querendo estar com Alice.
Ela ia entender ou eu esperava que entendesse.
Saí do banho, peguei a toalha e fui até o closet. Escolhi uma camisa preta de linho, calça jeans escura e perfume discreto. Enquanto passava a mão nos cabelos ainda úmidos, me olhei no espelho por alguns segundos vendo que minha expressão ainda estava dura.
Um incômodo, vontade não saciada. Ela estava mexendo comigo de um jeito que ninguém tinha feito e eu ainda nem sabia se isso era bom.
O celular apitou de novo.
Alessandro:
" Vamos? O Rafael já está a caminho.”
A noite estava só começando.
Cheguei no bar primeiro. Escolhi uma mesa mais afastada, de canto, do jeito que a gente sempre preferia quando queria só conversar. O lugar era requintado, discreto, com uma música ambiente agradável e uma luz baixa que deixava tudo mais confortável. Estava cansado do dia puxado na fábrica, mas sair com os dois ia me fazer bem e eu precisava distrair a cabeça.
Alessandro chegou pouco depois, já jogando o casaco na cadeira ao lado e se acomodando.
— E aí, — ele disse, batendo a mão no meu ombro —, pediu pra mim já?
— Claro que não. Esperei você, homem de classe. — dei um meio sorriso e ele riu.
A garçonete se aproximou, uma mulher bonita, com um sorriso fácil e um vestido preto colado. Ela olhou pra mim, depois pro Alessandro... e parou nele.
— Boa noite. O que vão querer?
— Um whisky duplo — Alessandro disse, sem tirar os olhos do cardápio.
Mas foi só isso, nem deu trela. O que, sinceramente, ainda me surpreendia. Uns anos atrás, ele teria puxado assunto, soltado um elogio. Mas depois que ele se casou com a Larissa, virou outro homem.
Outro homem com muito mais medo de mulher, diga-se de passagem.
— Impressionante como você mudou, hein? — falei rindo, depois que a garçonete saiu.
— Eu? — ele ergueu a sobrancelha. — cara... depois do inferno que foi reconquistar a Larissa, eu nem olho pro lado. Vai que ela sente, pressente... e me bota pra fora de casa de novo?
— Ela quase surtou quando soube que a gente ia sair hoje. Só deixou porque eu vim junto.
— E com razão. Se depender do Rafael, a gente voltava de ambulância.
Foi então que Rafael chegou. Com cara de cansado, mas mais leve do que na semana passada. Trazia o cabelo um pouco bagunçado pelo vento e a barba por fazer.
— Fala, senhores — disse ele, puxando a cadeira e se jogando com um suspiro. — Precisava disso.
— Há quanto tempo tá esse... “arranjo”? — Rafael quis saber.
— Um mês, mais ou menos — respondi, dando de ombros, como se não fosse nada demais.
Ele deu uma risada abafada e apontou o dedo pra mim.
— Tá cedo ainda, mas fica de olho. Se ela começar a querer sair mais em público, chamar pra encontrar amigos, ou se demonstrar ciúmes, já sabe... tá querendo mais do que esse combinado aí.
— E se você sentir ciúmes, aí fodeu de vez — Alessandro completou, servindo mais whisky no copo de Rafael e rindo.
— Aí quem foi fisgado foi você, meu amigo — Rafael emendou, batendo no meu ombro com um sorriso divertido.
— Isso não vai acontecer — garanti, talvez alto demais.
Eles riram e eu tentei acompanhar, mas algo travou na garganta.
Porque a verdade é que já tinha acontecido e eu não fazia ideia do que fazer com isso.
***
Naturalmente, Alessandro já tava rindo alto demais e Rafael mal conseguia andar em linha reta. Como fui o único que não exagerou no whisky, sobrou pra mim deixá-los em casa.
— Vai devagar, hein, motorista da rodada — Alessandri disse, caindo no banco do carona feito um saco de batatas.
— Larissa vai te matar amanhã — avisei, dando partida no carro.
— Larissa me ama — ele disse com a voz arrastada. — Só fica brava quando eu fico bêbado com esse desgraçado aí... — apontou pro Rafael, largado no banco de trás, roncando.
— Só? — perguntei, irônico. — Isso aí é motivo de divórcio.
Alessandro riu, depois suspirou. — Foi bom sair um pouco. Valeu, Diogo.
— Vai dormir, Alessandro, ou pelo menos finge que vai.
Deixei ele em casa, depois levei Rafael. Foi um parto tirar aquele traste do carro, mas consegui largar ele na porta com o porteiro dando risada.
Quando finalmente cheguei na minha cobertura, tudo em silêncio, me joguei no sofá e respirei fundo. A cabeça ainda girando, mas não era da bebida. Era outra coisa.
Alice.
Merda.
Será que eu tava mesmo levando isso pra um lugar perigoso?
Passei as mãos pelo rosto, tentando espantar aquele incômodo que vinha crescendo. Não... não era isso. Eu só... gostava da companhia dela. Era isso, estava sendo sincero desde o início. A gente tinha um acordo, certo? Sem cobrança, sem promessas.
Mas aquela cena no parque, o sorriso dela com o Julio...
Balancei a cabeça, tentando afastar a lembrança. Não adiantava.
Levantei e fui direto pegar uma garrafa de água na geladeira. Tomei metade de uma vez, como se isso fosse resolver alguma coisa.
De jeito nenhum eu ia conseguir dormir agora.
Ainda dava tempo de gastar a insônia. Peguei a toalha, troquei de roupa e desci pra academia do prédio. Pesos e silêncio. Talvez assim eu colocasse a cabeça no lugar.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...
Capítulo 293 tá bloqueado sendo que já está entre os gratuitos...
Quantos capítulos são?...
Não consigo parar de ler é surpreendente, estou virando a noite lendo. É tão gostoso ler durante a madrugada no silêncio enquanto todos dormem. Diego e Alice são perfeitos juntos, assim como Alessandro e Larissa...
Maravilhoso,sem palavras recomendo vale muito apena ler👏🏼👏🏼...
Quem tem a história Completa do Diogo?...