Alice
Quarta-feira de sol, céu limpo, mas meu humor não estava exatamente acompanhando o clima.
Entrei no café ajeitando a alça da bolsa no ombro, tentando equilibrar meu estojo de insulina e um pacote de pão de queijo que tinha trazido. Cumprimentei o pessoal com um sorriso no rosto, do jeito que eu sempre fazia mesmo quando o peito parecia um pouco mais pesado do que eu queria admitir.
— Bom dia, Alice! — Antônio sorriu.
— Bom dia, Tony! — respondi, colocando minhas coisas atrás do balcão e amarrando o avental na cintura. — Já tem cliente?
— Uns dois senhores na mesa do canto. E chegou uma moça agora, na mesa cinco.
Peguei o bloquinho e me encaminhei até lá. A moça tinha acabado de se sentar, e a primeira coisa que me chamou atenção foi a elegância discreta. Cabelo curtinho, bem cortado, olhar atento, mas... inquieto. Tinha alguma coisa ali.
— Bom dia! Seja bem-vinda. Posso te trazer alguma coisa pra começar? Um capuccino, talvez?
Ela assentiu com um sorriso educado.
— Pode ser, sim. Obrigada.
Me afastei pra preparar o pedido, mas antes mesmo de chegar no balcão, ouvi o celular dela vibrar. Olhei de relance e vi que ela atendeu quase no mesmo segundo. A voz dela estava baixa, mas conforme fui voltando com a xícara na mão, ouvi um trecho da conversa.
— Eu tô fazendo tudo que posso, mas você sabe que eu não gosto disso... — Ela deu uma pausa, virou o rosto pro lado. Vi de relance ela limpando uma lágrima com o dorso da mão, foi quando ela me viu.
Endireitou a postura, forçou um sorriso e voltou a falar no telefone.
— Depois a gente se fala, tá? Cuida bem da minha irmã e eu vou fazer o que você quiser.
Desligou e ficou olhando pro celular por uns segundos, como se aquilo pesasse mais do que devia.
Apoiei a xícara com cuidado sobre a mesa.
— Seu capuccino... — falei com suavidade, tentando não parecer invasiva. — E... — puxei um guardanapo do bolso do avental e entreguei a ela — uma moça bonita assim não devia ter problema que a fizesse chorar.
Ela soltou uma risadinha fraca, quase sem som, aceitando o guardanapo.
— Obrigada... eu também queria acreditar nisso.
— Acredita, sim. Uma hora as coisas se ajeitam. — Dei um passo pra trás, tentando respeitar o espaço dela. — Meu nome é Alice, se precisar de qualquer coisa, é só chamar.
— Fernanda — ela respondeu, dando um meio sorriso. — Obrigada, Alice.
Assenti e me afastei, mas não consegui deixar de olhar de novo. De onde eu estava, dava pra ver o modo como ela mexia as mãos, como se não soubesse o que fazer com elas. O olhar dela... tinha aquela sombra. Aquela tristeza que não grita, mas pesa.
Eu conhecia aquilo, bem demais.
Tão jovem... e já carregando o mundo nas costas.
Me perguntei por um instante, o que seria que ela estava tentando "fazer" pra proteger a irmã. E, mais do que isso, que tipo de homem era o que estava do outro lado da linha.
Mas não era da minha conta.
***
Faltava só meia hora pra acabar meu expediente e eu já contava os minutos no relógio. Diogo tinha me mandado mensagem mais cedo confirmando nosso encontro. Ele estava animado e eu também estava, mas nunca admitiria isso em voz alta.
Não pra ele, pelo menos. Ainda era só um lance, uma distração, só... bom, alguma coisa que me fazia sorrir à toa.
Enquanto limpava uma mesa recém-desocupada, ouvi a porta do restaurante abrir. Uma mulher entrou. Era o tipo de mulher que chamava atenção sem fazer esforço: elegante, postura impecável, cabelos castanhos levemente ondulados, bem cuidados, um vestido de corte caro e discreto.
Os olhos dela vasculharam o lugar até pararem em mim e então ela... sorriu.
Eu franzi o cenho, tentando lembrar de onde a conhecia. Tinha certeza de já ter visto aquele rosto antes. Ela se dirigiu a uma das minhas mesas e se sentou com calma, peguei o bloquinho e fui até lá.
— Boa tarde — falei, forçando um sorriso, ainda com o alerta aceso dentro de mim. — Posso te ajudar? Vai querer alguma coisa?
Ela ergueu os olhos.
— Um café, por favor. Só isso.
Assenti com a cabeça e fui pegar o café dela, quando ficou pronto o levei e deixei em sua frente, dando um passo pra sair, mas a voz dela me deteve.
— Eu já estive aqui outras vezes — disse. — E te observei por um tempo.
Aquilo me deu um arrepio. Eu me virei um pouco, encarando-a de novo.
— É mesmo? — perguntei, tentando manter a educação. — Isso é um pouco… esquisito.
Ela sorriu mais uma vez, se levantando devagar e estendeu a mão com naturalidade.
— É um prazer finalmente conhecê-la. Eu me chamo Larissa.
Eu encarei a mão dela por um segundo, hesitante. Larissa... Larissa? Não me lembrava…
Apertei sua mão com cuidado.
— Alice — falei, tentando esconder o desconforto. — Sou eu.
Ela se sentou de novo e apontou para a cadeira à frente.
— Não quero te assustar, juro. — disse ela, abrindo a bolsa devagar. — Eu só... queria te entregar isso.
Ela tirou um cartão e me estendeu. Fiquei olhando, sem saber se aceitava ou não. Era surreal demais, mas no fim, peguei. "Larissa R. Moratti– Vice-presidente executiva – CompanyRocha". Li o nome, o cargo... e a ficha começou a cair.
Não era só uma mulher rica metida, ela era realmente importante naquela empresa gigante que todo mundo comentava na cidade.
— Eu sei, parece estranho. Eu também acharia. — Ela sorriu de um jeito leve. — Mas olha, tá bem difícil arrumar alguém pra trabalhar comigo. Minha antiga assistente voltou pro Maranhão por causa da mãe, e logo eu entro de licença maternidade... preciso de alguém competente, que eu possa confiar.
Fiquei ali, segurando o cartão, sem saber o que responder. O impulso era rir, isso só podia ser uma pegadinha.
— Mas... por que eu? — perguntei, finalmente. — Tem tanta gente mais qualificada por aí. Eu nunca trabalhei em escritório, nem sei como funciona esse negócio de ser assistente pessoal. Não faz sentido.
Ela ficou em silêncio por um instante, depois balançou a cabeça devagar.
— Porque eu vi algo em você. Desde a primeira vez que vim ao restaurante, há mais de um ano. — disse com sinceridade. — Você tem postura, educação, discrição... e sabe lidar com gente, o que, sinceramente, muita gente com diploma não consegue.
Eu ri, sem graça, olhando de novo pro cartão.
— Olha... isso parece uma brincadeira de mau gosto. Desculpa, mas não dá pra confiar assim, de cara.
— Eu entendo. — Ela assentiu. — Mas não é brincadeira, Alice. Se quiser, aparece amanhã na empresa. A gente conversa direito, sem pressa e te apresento tudo, sem compromisso. Se não for pra você, tudo bem.
Ela então segurou minha mão, o que me pegou totalmente desprevenida e falou num tom mais suave.
— Eu ofereço um bom salário. Nada de trabalhar fim de semana, e se precisar, tem hora extra paga direitinho. É uma oportunidade, eu realmente tô te dando uma chance porque acredito que você vai dar conta.
Respirei fundo. Minha mente imediatamente foi pro preço da insulina, pras contas empilhadas, pro aluguel vencendo no fim do mês. E se fosse verdade? Um emprego estável, bem pago, sem precisar me matar em dois turnos...
Mas ainda assim...
— Eu... vou pensar, tá? — murmurei, guardando o cartão no bolso.
Ela assentiu, satisfeita, e com um sorriso, se despediu.
— Espero te ver amanhã, então.
Larissa caminhou até uma SUV preta, luxuosa, que já a aguardava com o motor ligado. Entrou como se estivesse numa propaganda de perfume caro e partiu.
Fiquei parada na calçada, encarando o cartão mais uma vez. Suspirei. Depois ri sozinha.
— Isso só pode ser brincadeira...
Mas no fundo... algo me dizia que não era.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...
Capítulo 293 tá bloqueado sendo que já está entre os gratuitos...
Quantos capítulos são?...
Não consigo parar de ler é surpreendente, estou virando a noite lendo. É tão gostoso ler durante a madrugada no silêncio enquanto todos dormem. Diego e Alice são perfeitos juntos, assim como Alessandro e Larissa...
Maravilhoso,sem palavras recomendo vale muito apena ler👏🏼👏🏼...
Quem tem a história Completa do Diogo?...