Decidi dormir na mansão hoje, ficar mais perto de Caleb. Minha cabeça latejava desde o final da tarde, e cada pensamento parecia mais ruidoso do que o outro. Não queria voltar pro meu apartamento, nem suportaria o silêncio.
Quando entrei, a luz da cozinha estava acesa. Achei que fosse minha mãe, mas encontrei Fernanda de costas, escorada no armário próximo a geladeira, ela usava um short de moletom, uma blusa larga e segurava o celular vendo algo nele, mas assim que percebeu minha presença, desligou a tela e o enfiou rápido no bolso do short.
— Ah… oi, Diogo — ela disse, forçando um sorriso e pegando um copo d’água como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Oi. Tá tudo bem?
— Uhum. Só não tava conseguindo dormir — respondeu, bebendo um gole. — E você? Pensei que não vinha hoje.
— Resolvi ficar por aqui essa noite. Minha mãe já está dormindo?
— Tá sim. Eu fiquei um tempo com ela na sala, está bastante preocupada com o Caleb.
Me aproximei devagar, puxando uma das banquetas do balcão da cozinha, sentei e a observei por alguns segundos. Ela evitava o contato visual, como se minha presença a deixasse desconfortável, ou culpada. Mas mantive o tom leve.
— Imagino. Foi um susto mesmo, mas ele vai ficar bem.
Ela assentiu, mordendo o canto do lábio.
— E a sua irmã? Tá tudo certo com ela?
— A... Tá sim — respondeu rápido demais. — Falei com ela ontem. Por quê?
— Só curiosidade. Você tinha dito que queria visitá-la, mas agora com esse negócio todo do acidente, acho que atrapalhou seus planos, né?
Ela desviou os olhos, deixando o copo na pia. Seu celular vibrou no bolso e ela o puxou, olhando rapidamente e bloqueando a tela de novo sem responder.
Aquilo me corroía por dentro.
— Era seu tio?
Ela virou devagar, tensa.
— Como é?
— O número que te mandou mensagem agora. Era ele?
Ela hesitou por um segundo e respirou fundo.
— Não... não era. Era só uma amiga da faculdade.
Fiquei olhando pra ela por alguns segundos, vendo que tentou desviar o foco, com a voz mais baixa.
— Eu fiquei assustada hoje, sabe? Quando a dona Helena ligou dizendo que o Caleb tinha sofrido um acidente… senti um pânico real.
Não respondi de imediato, apenas balancei a cabeça e deixei o silêncio preencher o espaço.
Ela deu um passo à frente, tentando parecer sincera.
— Sei que você ainda tem um pé atrás comigo… e eu entendo. Eu também estranharia alguém novo na vida do meu irmão, ainda mais depois de tudo o que vocês passaram. Mas, eu não teria aguentado se algo tivesse acontecido com ele hoje.
Fiquei em silêncio mais um pouco, como se digerisse aquilo.
— O que o seu tio acha disso, o que andam conversando ultimamente?
Ela apertou o copo nas mãos, o maxilar travando por um instante.
— Nada demais. A gente quase não se fala muito e ele só se mete às vezes, sabe como é. Mas ele é preocupado, diz para eu… focar nos estudos.
Ela olhou pra mim como se esperasse algum julgamento. Mas tudo que fiz foi assentir devagar.
— Bom, ele está certo.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. O clima estava denso, mas ela parecia querer sair da situação o mais rápido possível.
— Bom… vou subir. Boa noite, Diogo.
— Boa noite.
Ela saiu, e eu fiquei ali, escutando os passos dela pela escada.
***
Sábado , 01 de outubro
No fim do dia, quando eu finalmente tinha conseguido sentar por dois minutos no sofá da mansão, o celular vibrou no meu bolso. Vi o nome de Valter na tela e atendi na hora.
— Fala, Valter. Alguma coisa?
— Achamos, Diogo. Um galpão meio afastado, num canto quase esquecido lá no Sombra da Tarde. Parece abandonado, mas tem sinal de movimentação recente.
— Que tipo de movimentação? — me endireitei no sofá, a tensão crescendo.
— Restos de comida, colchão jogado num canto... bitucas de cigarro, latinha amassada. Coisa de quem tava dormindo lá, se escondendo. Mas o mais estranho foram uns papéis espalhados e uns cartazes, rasgados com anotações à mão. Um deles... — ele fez uma pausa — tem um esboço. Parece com o logotipo da Montenegro.
Fechei os olhos por um instante, sentindo o sangue ferver.
— Ele tá obcecado… — murmurei. — O que mais tinha?
— No lixo, entre uns panfletos velhos e papel de comida… uma foto antiga e rasgada ao meio. Só dá pra ver metade do rosto de um cara… mas...
— Mas? — pressionei, o coração batendo mais rápido.
— É você. A foto é tua, Diogo. Mais novo, parece, uns oito, nove anos atrás, talvez. Mas é tua cara.
Minha garganta secou.
— Tem certeza?
— Certeza. E… tem mais uma coisa, a foto está cheia de furos. Como se tivessem enfiado uma faca nela, várias vezes.
Me levantei do sofá com raiva.
— Ele tá brincando comigo, é pessoal. Ele quer me deixar louco e eu sinto que isso não é mais só questão de dinheiro, Valter. Se fosse, ele já teria pedido uma quantia.
Voltei para o quarto de hóspedes em silêncio, mas dormir… isso era outra história.
Segunda , 03 de outubro
A notícia chegou no fim da manhã, no meio de uma reunião que eu mal estava conseguindo prestar atenção. Linda entrou na sala com aquele jeito contido de sempre, mas eu percebi pelo leve sorriso nos olhos que vinha coisa grande.
— Desculpe interromper, mas acho que o senhor vai querer ouvir isso.
Levantei uma sobrancelha, pedindo com um gesto que ela falasse.
— Recebemos o comunicado oficial. A Montenegro foi premiada com o Prêmio de Inovação em Infraestrutura Sustentável. A cerimônia vai ser em Lisboa e eles querem você lá, Diogo. Pessoalmente.
Fiquei em silêncio por um instante. Não era o primeiro prêmio da empresa, nem o primeiro que eu receberia. Mas… esse era diferente. Representava anos de pesquisa, de investimento em projetos que duvidaram no começo. O nome do meu pai e o sangue da minha família naquela sigla estampada em todas as plantas e máquinas que saíram da Montenegro Holdings.
— Quando?
— Amanhã. O evento é daqui a dois dias, já organizei o voo.
Suspirei, passando a mão pelos cabelos. Parte de mim queria recusar e dizer que não era hora, que tinha coisa mais importante acontecendo. Mas não era só sobre mim, era sobre tudo o que a gente construiu. E talvez eu também precisasse de alguns dias longe dali. Longe do cenário do caos.
***
Horas depois, eu já estava no jatinho, com um copo de água na mão e o estômago embrulhado.
A paisagem lá fora começava a se transformar com o céu em tons acinzentados, nuvens carregadas que pareciam acompanhar meu humor. Do lado de dentro, silêncio absoluto, só o som constante do motor abafado e o zumbido da culpa na minha cabeça. Desde que entrei naquela aeronave, que tudo ficou mudo, ela veio à minha mente.
Meus dedos seguravam o celular como se isso fosse impedir que o mundo escapasse.
Desbloqueei a tela e busquei o nome de Alice. A última ligação tinha sido ignorada e as mensagens? Todas com aquele maldito check único.
Tentei de novo, contra o bom senso.
Ligação não completada.
Fechei os olhos com força. Merda. Eu fui um idiota, arrogante, defensivo e estúpido.
A imagem dela indo embora da festa, com os olhos cheios de mágoa e a voz tremendo, ainda queimava na minha memória.
Não era só sobre ciúmes ou sobre o medo que me consumia por dentro.
Era sobre o fato de que eu nunca aprendi a me entregar sem reservas. E ela merecia alguém que soubesse.
Mas a verdade é que eu sentia falta dela.
Do jeito que ela ria das minhas piadas secas. Do toque das mãos pequenas nos meus ombros quando achava que eu estava muito tenso. Do café ruim que ela preparava e insistia que era "autêntico". Daquele corpo delicioso, seus gemidos, seus beijos.
Suspirei e olhei pela janela tentando bloquear essa sensação ruim em meu peito.
Essa viagem podia me render mais um troféu pra estante, mas o que eu queria mesmo…
Era algo que prêmio nenhum podia me devolver.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...
Capítulo 293 tá bloqueado sendo que já está entre os gratuitos...
Quantos capítulos são?...
Não consigo parar de ler é surpreendente, estou virando a noite lendo. É tão gostoso ler durante a madrugada no silêncio enquanto todos dormem. Diego e Alice são perfeitos juntos, assim como Alessandro e Larissa...
Maravilhoso,sem palavras recomendo vale muito apena ler👏🏼👏🏼...
Quem tem a história Completa do Diogo?...