Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 200

O carro deslizou pelas ruas de Lisboa com a precisão de um roteiro. Tudo muito limpo, organizado, quase impessoal. Eu via os prédios históricos passarem pela janela, mas minha mente não estava ali.

Estava a milhares de quilômetros de distância. Ou melhor, em uma casa, talvez deitada no sofá, lendo alguma coisa com aquela expressão concentrada que ela fazia… ou quem sabe chorando. Por minha causa, de novo.

Quando cheguei ao hotel, agradeci o motorista com um aceno e subi direto pro quarto reservado pra mim, o de sempre, em viagens desse tipo. Luxuoso, espaçoso, janelas enormes com vista pro Tejo. Mas não adiantava, nada brilhava quando ela não estava.

Joguei a mala na poltrona e caminhei até a varanda. O vento estava úmido, com cheiro de cidade litorânea e promessa de noite fresca.

Pensei em mandar mais uma mensagem. Algo simples.

“Você tá bem?”

Ou “Sinto sua falta.”

Mas o medo de mais um silêncio me paralisou.

Passei as mãos no rosto e respirei fundo. Precisava me concentrar, amanhã era o evento. Tinha que entregar o discurso, receber o prêmio e ser o CEO exemplar.

Meu celular vibrava com e-mails, notificações de redes e alertas de segurança da empresa. Mas nada disso me importava tanto quanto uma coisa que não vibrava, não respondia, não aparecia.

Será que ela pensava em mim?

Será que estava com raiva? Triste? Ou já tinha me deixado pra trás?

Antes que eu me afundasse mais nas perguntas sem resposta, alguém bateu na porta.

— Serviço de alfaiataria, senhor Montenegro! — disse uma voz animada, com leve sotaque português.

Fui até a porta e abri.

Um homem mais velho, com uma fita métrica pendurada no pescoço, sorriu pra mim. Atrás dele, uma mulher baixinha carregava uma arara com dois ternos pendurados.

— Boa noite! Viemos fazer os ajustes finais no traje de gala. A estilista nos enviou as medidas, mas como é um evento importante, queremos garantir que esteja perfeito no senhor.

Assenti, abrindo mais a porta para deixá-los entrar.

— Claro… fiquem à vontade.

— O senhor quer experimentar agora? É rapidinho, coisa de quinze minutos.

— Vamos nessa. Quero acabar com isso antes que eu desista de aparecer no evento.

— Não diga isso — a mulher disse, rindo enquanto tirava o terno cinza-escuro do cabide. — Vai estar deslumbrante. Um orgulho pra empresa.

Sorri de canto, sem muito entusiasmo. Aceitei a peça, entrei no closet e vesti com pressa. Quando saí, o alfaiate já estava com alfinetes entre os dentes e o olhar treinado de quem sabe exatamente o que tá fazendo.

— Só um toque aqui na barra da calça… — ele disse, se abaixando. — E um ajuste no ombro. O senhor perdeu peso, foi?

— Acho que perdi sim. Falta de apetite, sono, paz… — murmurei, mais pra mim mesmo.

A mulher, que ajeitava a gola do paletó, levantou os olhos curiosa.

— Amor mexe com a gente desse jeito, né? Quando a saudade aperta, nada encaixa.

Não respondi. Apenas respirei fundo e deixei que ela ajustasse o colarinho com cuidado.

— Vai dar tudo certo, senhor. Os olhos de quem ama sempre procuram a gente no meio da multidão.

Aquela frase ficou ecoando dentro de mim por um bom tempo, mesmo depois que eles foram embora.

Porque o que eu mais queria naquela noite era ter alguém esperando por mim quando eu voltasse.

E esse alguém… tinha nome, olhos castanhos e um coração que eu devia ter protegido melhor.

***

Terça, 04 de outubro

O salão estava lotado. Personalidades do setor de engenharia, investidores europeus, gente importante que eu devia cumprimentar com mais entusiasmo. Mas minha mente ainda pairava num lugar onde o nome dela ecoava.

Respirei fundo quando chamaram meu nome no palco. Os aplausos foram altos, flashes de câmeras pipocaram no salão. Era o tipo de noite que devia me deixar orgulhoso.

E de certa forma, eu estava. A Montenegro Holdings batalhou muito pra chegar ali e aquele prêmio representava inovação, sustentabilidade, impacto real em vários países.

O anfitrião sorriu, me entregou o troféu e apertou minha mão.

— Senhor Montenegro, é uma honra premiar uma empresa que não apenas lidera em resultados, mas inspira. O palco é seu.

Fui até o microfone, ajeitei o paletó e olhei para as luzes. Por um segundo, me senti pequeno diante de tanta expectativa.

Mas falei.

— Boa noite a todos. É difícil colocar em palavras o que esse momento representa… mas se tem uma coisa que aprendi nos últimos anos, é que grandes conquistas nunca são individuais. Elas são construídas sobre sacrifícios, parcerias e muitas vezes, silenciosamente, sobre dores que ninguém vê.

Fiz uma pausa, alguém tossiu no fundo. A plateia estava atenta.

— A Montenegro Holdings nasceu do sonho de um homem, meu pai e hoje, eu dedico esse reconhecimento a ele. E a todos os colaboradores que enfrentam os bastidores, que constroem com as próprias mãos o que o mundo aplaude de pé.

Levantei o troféu e aplausos ecoaram.

Mas assim que desci do palco, a vida real voltou.

— Diogo?

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