Cap.40
Já passava das sete da noite quando saí de casa. O céu começava a escurecer, tingido por tons alaranjados que deixavam tudo meio melancólico. Dirigi pelas ruas da cidade com o peito apertado. Cada quilômetro percorrido me levava mais perto dela e, ao mesmo tempo, aumentava meu medo. Não sabia o que encontraria, Alice podia me mandar embora, podia me odiar. E, sinceramente, ela tinha todo o direito.
Também não sabia se ela estava com aquele cara, mas, eu tinha que tentar. Iria sufocar se apenas deixasse para lá e não lutasse por ela.
O bairro era mais afastado, simples, com casas antigas e calçadas estreitas. Estacionei na esquina da rua dela a poucos metros de sua casa e antes mesmo de desligar o carro, percebi uma movimentação estranha perto do portão da casa.
Gente parada, cochichando, espiando como se fosse novela. Franzi o cenho e saí do carro.
Foi aí que vi Alice. De pé, tensa, com os punhos cerrados ao lado do corpo e diante dela, uma senhora baixinha, de cabelo preso num coque desalinhado, gritava com o dedo apontado na sua cara.
— Filha ingrata! Maldita a hora que eu te pari! — a mulher esbravejava com a voz rouca, carregada de ódio.
Meu estômago revirou. Eu não sabia que a relação dela com a família era ruim, e ouvir aquilo assim, cru, na rua, foi como levar um soco no peito.
— Eu mandei o dinheiro que eu tinha, mãe. Não posso ficar sem meus remédios — Alice respondeu, firme, mas com a voz trêmula, ela estava pálida e os olhos marejados.
— Remédio uma merda! Compra essas porcarias depois! Teu pai tá morrendo, sua egoísta. Você tem a obrigação de ajudar! — ela avançou, como se fosse encostar nela.
Alice recuou, instintivamente, o corpo todo tenso. A voz dela saiu num grito, um misto de desespero e raiva.
— Vai embora! Você só quer o pouco que me resta, sempre foi assim! A vida toda me trataram como fardo! Só ligam pra saber se eu tenho dinheiro, ninguém nunca quis saber se eu tava viva, se eu estava bem! Nem no meu aniversário vocês mandam mensagem, e agora vêm me cobrar?!
Ela tropeçou ao tentar se afastar novamente, levou a mão à testa e vacilou. Foi como se o tempo tivesse desacelerado. Meu coração disparou e corri.
— Alice! — gritei, já correndo na direção dela.
A mulher agarrou o seu braço, impedindo-a de entrar na casa.
— Eu não vou embora, sua mimada! Você vai me ouvir!
Alice se debatia, tentando se soltar.
— Me solta! — ela chorava agora, as pernas falhando.
— Solta ela! — avancei, agarrando o braço da mulher com força e puxei, afastando-a de Alice.
— Quem diabos é você? — ela me encarou com os olhos injetados de fúria.
— Isso não é da sua conta. Agora some daqui, ou eu chamo a polícia — minha voz saiu ríspida, cortante.
Ela hesitou. Os vizinhos assistiam, chocados, mas ninguém se metia. A mulher olhou de mim para Alice, cuspiu no chão e deu um passo atrás.
— Isso ainda vai voltar pra você, garota. Deus tá vendo. — E então virou as costas, andando em passos firmes e duros até desaparecer na rua.
Virei imediatamente para Alice. Ela estava desabando, suando frio, os olhos fechados, e quando tentei segurá-la, seus joelhos cederam.
— Alice... ei, calma. Tô aqui, tá? — a peguei no colo, sem nem pensar.
Ela não reagiu, sua testa estava molhada, o corpo todo gelado.
— Tá tudo bem... já passou... eu tô aqui agora.
Empurrei o portão com o pé, entrei com ela nos braços e fechei atrás de mim.
O coração parecia prestes a sair do peito. Ela estava leve e frágil demais e eu queria protegê-la do mundo inteiro, inclusive da dor que eu mesmo causei.
— Alice... — sussurrei, já dentro da sala dela. — Fica comigo, por favor.
Apoiei o corpo dela no sofá com cuidado, ainda segurando uma de suas mãos. Ela tremia e meu coração também.
Ali, naquele momento, não importava mais se ela me odiava. Eu só queria que ela ficasse bem.
— Diogo… — ela murmurou, baixinho, com os olhos semicerrados — Tem um suquinho… na geladeira…
Franzi o cenho, confuso.
— Como assim? Que suco, Alice?
Ela tentou falar, mas só balançou a cabeça, fraca, sem forças. Meu coração disparou.
— Só pega, por favor…
Corri até a cozinha e abri a geladeira com pressa, os olhos varrendo cada prateleira. Foi aí que vi o fardo de caixinhas de suco de uva. Peguei duas e voltei correndo até ela.
Alice tentava segurar uma das caixinhas, mas as mãos tremiam demais. Me agachei de novo e segurei o suco por ela, rasguei a embalagem e encaixei o canudo, levando até seus lábios.
— Devagar… — pedi, quase num sussurro.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Gostaria de dizer que plágio é crime. Essa história é minha e não está autorizada a ser respostada aqui. Irei entrar com uma ação, tanto para quem está lançando a história como quem está lendo....
Linda história. Adorando ler...
Muito linda a história Estou gostando muito de ler Só estou esperando desbloquear e liberar os outros que estão faltando pra mim terminar de ler...
Muito boa a história, mas tem alguns capítulos que enrolam o desfecho. Ela já tá ficando repetitiva com o motivo da mágoa...
História maravilhosa. Qual o nome da história do Diogo?...
Não consigo parar de ler, cada capítulo uma emoção....
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...