A última coisa que lembro foi o corpo dele colado no meu e a sua respiração desacelerando contra o meu pescoço. A gente acabou pegando no sono daquele jeito, como se o mundo lá fora tivesse deixado de existir.
Eu devia estar sonhando com alguma coisa boa quando a porta do quarto se abriu com um estrondo e a luz foi acesa.
— MEU DEUS!
Um gritinho agudo invadiu o quarto. Eu levei um susto tão grande que quase pulei da cama. Me enrolei no lençol como se minha vida dependesse disso, enquanto Diogo se sentava com um movimento rápido, o cenho franzido e um olhar alerta.
— Julio?! — minha voz saiu meio esganiçada, meio rindo.
Julio estava parado na porta, uma das mãos tampando a boca e os olhos... ah, os olhos estavam grudados em Diogo, mais especificamente na parte de cima dele, completamente nua e pecaminosamente definida.
— Santo Cristo Redentor… — ele murmurou, se abanando com a outra mão.
— JULIO! — joguei um travesseiro com força nele, tentando parecer brava, mas já rindo. — Tira o olho e sai daqui, seu doido!
— Eu vi coisa demais… ou de menos… não sei! — ele respondeu, ainda escandalizado, mas fechou a porta rapidinho.
A gente ficou em silêncio por uns segundos, até eu começar a rir de verdade. Estava escondida no lençol, só o rosto de fora, e Diogo me olhava com uma expressão meio confusa e indignada.
— Por que você tá rindo? — ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.
Ah, o tom de ciúme foi sutil, mas eu conhecia Diogo Montenegro o suficiente pra reconhecer.
Apoiei as mãos no colchão, subi devagar até me posicionar por cima dele, com um sorrisinho malandro no canto da boca. Beijei sua bochecha e depois fui descendo até o pescoço.
— Porque se eu não tivesse mandado o Julio sair, é bem provável que ele me chutasse da cama e quisesse te conhecer… melhor — sussurrei perto do ouvido dele.
Diogo arregalou os olhos, visivelmente desconcertado.
— Tá brincando?
Eu mordi o lábio, rindo.
— Você não viu o jeito que ele te olhou? Esse teu corpo maravilhoso aí… ele tá em choque até agora.
Diogo passou a mão no rosto, balançando a cabeça.
— Isso tudo ainda é muito confuso pra mim.
Dei um último beijo nos lábios dele antes de sair de cima.
— Eu te avisei que o Julio é bi… mas o lado gay pesa mais, viu?
Fui me levantando, procurando minha calcinha pelo chão. Ele me acompanhava com o olhar, ainda meio zonzo, o cabelo bagunçado e um sorrisinho bobo surgindo no rosto.
— O único perigo com o Julio — falei enquanto vestia uma blusa leve — é dele querer te roubar de mim.
Diogo se levantou também. E, olha… nu, àquela altura da manhã, ele era um perigo real pra minha sanidade.
Eu suspirei sem nem disfarçar.
— Se o Julio te visse assim agora, ia ter um infarto fulminante.
Dessa vez, ele riu. Um riso verdadeiro, gostoso, que fez meu peito se aquecer.
Ele veio até mim, passou o braço pela minha cintura e me puxou pra um beijo intenso, cheio de fogo e promessa. Quando se afastou, os olhos estavam fixos nos meus.
— Ninguém vai me tirar de você.
— Acho bom mesmo — murmurei, sorrindo contra os seus lábios.
Peguei o short e fui vestindo, enquanto ele procurava a cueca jogada em algum canto do quarto.
— Anda, se veste logo… porque o Julio deve estar roendo até a unha do pé de curiosidade.
Diogo riu de novo, e eu me perguntei como era possível gostar tanto de um homem que bagunçou completamente minha vida e, ainda assim, me fazia sentir tão viva.
Quando saí do quarto, ainda ajeitando o cabelo todo bagunçado, dei de cara com Julio parado ali, encarando a porta como se ela fosse explodir a qualquer momento. E, claro, assim que ele me viu, abriu aquele sorrisinho debochado e se levantou do sofá com pose de novela.
— Então… — ele cruzou os braços. — Vai explicar o que tá rolando aqui ou eu preciso perguntar em código Morse?
Antes que eu respondesse, senti a presença quente de Diogo atrás de mim. Ele também saiu do quarto e, instantaneamente, os olhos de Julio foram direto pra ele. E ficaram. Tipo, ficaram mesmo.
Julio ergueu uma sobrancelha com aquele ar dramático dele.
— Hummm... Entendi tudo. Só não entendi nada. Então? Quem vai começar?
Suspirei e resolvi contar tudo de uma vez, antes que ele resolvesse encher ainda mais.
— Tá bom. Vamos lá. Minha mãe apareceu aqui, fez um barraco, eu passei mal, o Diogo chegou, me ajudou... e aí ele me pediu em namoro e eu aceitei.
Fiquei quieto. Só assenti com a cabeça, porque... bom, eu podia achar que conhecia, mas sabia que ele tinha razão. Não do jeito que eu queria conhecer. Não da forma profunda que ela merecia.
— Alice descobriu a diabetes ainda criança — ele continuou, firme, os olhos fixos em mim. — E a família dela... sempre foi humilde. A grana era apertada, e eles faziam questão de lembrar disso todo santo dia. Jogavam na cara dela o quanto gastavam pra mantê-la viva. Em como a mãe precisava preparar comida separada, como ela dava trabalho demais... Diziam que ela não valia tanto esforço assim. Que ela podia morrer a qualquer hora, então pra quê investir tanto?
Minha garganta apertou e meu peito pesou.
Julio parou um segundo. Respirou. E mesmo assim, continuou.
— Ela sempre tentou ser forte. Sempre. Não gosta de aniversário, por exemplo... porque nunca teve uma festa. Nem uma velinha pra apagar. Nunca se sentiu querida, Diogo. Sempre achou que era só um fardo. Um peso.
Aquilo doía de ouvir. Não conseguia nem imaginar como tinha sido viver assim. Senti o maxilar travar, as mãos fechadas sobre os joelhos. Queria poder voltar no tempo e estar lá. Queria ter feito diferente por ela.
— E tem mais... talvez eu nem devesse contar, mas vou falar. Porque você precisa saber com quem tá se metendo. Precisa entender a força que ela tem pra não brincar com isso.
Eu engoli seco. Ele ia fundo, estava indo onde talvez nem ela imaginasse que ele fosse.
— Ela engravidou aos dezessete anos. O desgraçado do pai da criança sumiu no mundo, um verdadeiro covarde. E os pais dela? Botaram ela pra fora de casa. No meio da noite, uma chuva forte começou e ela não tinha pra onde ir. Acabou tendo pneumonia e com a diabetes? O corpo não aguentou. Ela quase morreu, Diogo. Teve uma parada cardíaca e infelizmente perdeu o bebê.
Fechei os olhos por um segundo. Era demais. Um nó subiu na garganta. Não era só dor que eu sentia, era revolta, era impotência. Uma vontade imensa de proteger, de segurar ela nos braços e prometer que nunca mais ela passaria por nada parecido.
— Uma prima dela mandou dinheiro... e ela veio pra Belos Campos tentar recomeçar. Morou na ONG por um tempo, até que a gente se conheceu. Trouxe ela pra morar comigo e mesmo depois de tudo, ela ainda acreditava nas pessoas. Acreditava no amor.
Ele riu, mas foi um riso triste.
— Conheceu outros caras... uns idiotas. Prometiam o mundo e só ferravam com ela. Teve um que fez ela pegar empréstimo no banco e sumiu com tudo e ainda levou o gato dela.
— O quê? — perguntei, surpreso.
— O gato, Diogo. Ela tinha um gato, era o xodó dela. Ela chora por esse gato até hoje.
Senti algo esquisito na garganta. Era quase como se eu estivesse ali, vendo tudo, sentindo tudo. Era absurdo como aquela mulher tinha resistido a tanta coisa.
— A diabetes tipo 1 é uma droga — ele disse mais baixo agora. — Já quase a levou algumas vezes. Eu chego em casa e encontro ela desacordada, suando frio. É o maior cuidado, cara. É comida, é insulina, é saber reconhecer os sinais. É medo constante. E mesmo assim, ela ri, ela brinca, ela vive.
Julio me encarou então. Os olhos brilhando, firmes, como um irmão. Não um amigo, não um colega. Um irmão que estava pronto pra proteger ela com tudo o que tinha.
— Então me diz, Diogo... Você tá mesmo pronto pra amar a Alice? Pra cuidar dela como ela merece? Porque ela não é qualquer mulher. Ela é uma rainha, uma guerreira. E não merece menos do que isso. Você tá pronto pra isso ou vai ser só mais um cara que vai fazer ela chorar?
Respirei fundo.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...
Capítulo 293 tá bloqueado sendo que já está entre os gratuitos...
Quantos capítulos são?...
Não consigo parar de ler é surpreendente, estou virando a noite lendo. É tão gostoso ler durante a madrugada no silêncio enquanto todos dormem. Diego e Alice são perfeitos juntos, assim como Alessandro e Larissa...
Maravilhoso,sem palavras recomendo vale muito apena ler👏🏼👏🏼...
Quem tem a história Completa do Diogo?...