Encarei Julio por alguns segundos em silêncio. As palavras dele ainda giravam dentro de mim, uma por uma, como uma tempestade que só agora começava a se acalmar.
Tudo o que ele contou... doeu. Doeu como se eu tivesse levado um soco no meio do peito. Mas mais do que a dor, eu sentia um peso e uma responsabilidade, não só pelo que ela já viveu, mas pelo que eu faria com o que sei agora.
— Eu tô disposto, Julio. — Minha voz saiu firme, sem tremor. — Eu quero aprender sobre ela, entender mais sobre a vida dela, sobre o que precisa... Eu quero acolher e quero amá-la. Amar de verdade.
Ele continuou me olhando com os braços cruzados, mas os olhos pareciam menos duros agora.
— Alice é uma mulher incrível. Forte, corajosa... e ao mesmo tempo, cheia de rachaduras. Mas isso só faz dela mais linda. — Respirei fundo. — E ela despertou em mim um sentimento que eu nunca senti antes. Nem perto disso. Não tem como eu simplesmente... deixar isso escapar e eu não quero.
Julio ergueu um pouco o queixo, como quem estava avaliando cada sílaba.
— E eu me arrependo de verdade. De ter duvidado dela, ter julgado e me afastado daquele jeito... Esses dias longe dela foram os piores da minha vida. — Dei um passo na direção dele. — Não quero mais essa distância entre a gente.
Ele respirou fundo, deu uma risada seca e balançou a cabeça.
— Você foi um idiota mesmo naquele dia.
— Eu sei. — Assenti, sem tentar me defender. — E provavelmente ainda vou errar, mas... tô disposto a aprender e a fazer dar certo com ela.
Julio me encarou por mais uns segundos, depois soltou os braços e suspirou, como se finalmente tirasse um peso das costas.
— Tá. — Ele passou a mão pelo cabelo. — Então agora só resta esperar que você não me faça me arrepender de ter te dado esse voto de confiança. Porque se você machucar ela de novo, Diogo... vai ter que se ver comigo.
— Justo. — Falei com um meio sorriso. — Eu faria o mesmo por alguém que amo.
— Bom saber. — Ele deu de ombros, mas um pequeno sorriso se formou no canto da boca. — Porque, mesmo que ela não goste de ouvir isso... ela é minha irmã, cara. A única família que eu escolhi. E eu mato e morro por ela.
— E agora ela também é a mulher que eu escolhi. E eu pretendo fazer valer cada segundo dessa escolha.
O silêncio que veio depois não foi desconfortável. Foi só... respeitoso. Como se ali tivesse nascido alguma trégua, talvez até o início de um tipo estranho de aliança.
Julio me encarou mais uma vez e falou, num tom mais leve:
— Mas se ela vier chorando por sua culpa, eu vou fazer questão de te deixar careca, entendeu?
Ri, aliviado.
— Fechado. Só não mexe no meu carro, tá?
— Isso aí depende do grau da merda que você fizer.
Ouvimos o som do portão abrindo e fechando e logo a porta da sala. Alice entrou com a bolsa no ombro, me procurando com os olhos e quando me encontrou, sorriu. Aquele sorriso que sempre me desmonta por dentro.
— E aí? — ela perguntou, arqueando uma sobrancelha enquanto fechava a porta. — Como foi?
Antes que eu pudesse responder, Julio cruzou os braços e disse, todo cheio de si:
— Eu permito que você namore o Diogo.
Alice riu e revirou os olhos.
— Ah, ótimo, majestade. Mas eu não preciso da sua permissão, né?
— Precisa sim — ele respondeu, caminhando até a cozinha. — E agora eu vou fazer alguma coisa decente pra gente comer, porque a senhorita aqui não trouxe o pão.
Alice bufou, mas sorriu, e quando olhou de novo pra mim, tinha um brilho nos olhos. Um brilho que me fez querer atravessar o mundo inteiro pra estar exatamente ali, com ela.
— Você já vai? — ela perguntou, a voz um pouco mais baixa agora. — Não quer ficar para tomar café?
Eu a encarei por um segundo. Só um segundo, mas foi o suficiente pra me perder no olhar dela. Dei dois passos à frente, segurando seu rosto com as duas mãos e sorrindo como se finalmente tivesse voltado pra casa.
— Fico sim. — sussurrei. — Eu senti tanta saudade de você, Alice. De estar perto, de ouvir sua voz, de te tocar...
Alice riu e deixou um beijo antes de segurar a minha mão.
— Vem, quero te mostrar a casa.
Segui ela pelo corredor estreito. As paredes estavam limpas, os móveis organizados com cuidado. Tudo ali era simples, mas muito bem cuidado e cheio de personalidade, assim como ela.
— Eu sei que não é uma mansão como você está acostumado — disse, me lançando um olhar de canto, quase tímido. — Mas é meu cantinho e eu gosto dele.
— Eu também tô gostando — respondi, com um sorriso sincero.
Ela me levou até o quintal, onde um pé de goiaba se erguia num canto, com alguns passarinhos pousados entre os galhos. A rede balançava de leve com o vento, e eu senti vontade de ficar ali pra sempre.
Nos sentamos juntos na rede, e eu a puxei devagar, encaixando ela no meu peito. Seu corpo se moldava ao meu como se fosse o único lugar onde ela realmente se encaixava.
— Eu tô muito feliz por ter você — murmurei no ouvido dela.
Ela virou o rosto pra mim, com aquele sorriso de canto que sempre mexia comigo.
— Eu também estou. Só um pouco assustada. Eu realmente estava certa de que não queria nada sério agora, mas desde o dia em que a gente ficou... eu já sabia. Sabia que ia ser difícil não me apaixonar por você.
Senti meu coração bater forte no peito e apertei a cintura dela com mais força, deixando um beijo no canto da sua boca.
— Eu também senti isso. Mas fui idiota e tentei me enganar, me manter distante. E me ferrei completamente.
Ela riu baixinho, mas logo o sorriso deu lugar a um suspiro.
— Eu só... queria te pedir uma coisa.
— Claro. O que for.
— Vamos manter isso entre a gente por enquanto? Só por um tempo. Eu ainda tô me acostumando com tudo isso... e sei que quando a mídia souber que você tá namorando, vão cavar minha vida. E vão chegar na minha família.
Ela abaixou o olhar, apertando um dos braços contra o próprio corpo.
— Eles não são pessoas boas, Diogo. São interesseiros e com certeza vão querer se aproveitar da situação por você ter dinheiro. Eu não quero isso pra você, pra nós. Não me importo com o que você tem, e preciso que você saiba disso.
Toquei o rosto dela com cuidado, acariciando a bochecha com o polegar e beijei sua testa com carinho.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Gostaria de dizer que plágio é crime. Essa história é minha e não está autorizada a ser respostada aqui. Irei entrar com uma ação, tanto para quem está lançando a história como quem está lendo....
Linda história. Adorando ler...
Muito linda a história Estou gostando muito de ler Só estou esperando desbloquear e liberar os outros que estão faltando pra mim terminar de ler...
Muito boa a história, mas tem alguns capítulos que enrolam o desfecho. Ela já tá ficando repetitiva com o motivo da mágoa...
História maravilhosa. Qual o nome da história do Diogo?...
Não consigo parar de ler, cada capítulo uma emoção....
Esse tbm. Será que nunca vou ler grátis...