Assim que a gente entrou na casa, dei de cara com Julio sentado na mesa, cercado de câmeras, lentes e umas bolsas enormes. Ele estava com o cenho fechado, enquanto mexia em seu equipamento.
— O que rolou lá fora, Alice? — perguntou, com aquela voz carregada de irritação.
— Foi o Yuri… — ela respondeu, soltando um suspiro. — Veio pedir mais dinheiro.
— Ah, pelo amor de Deus… — ele xingou, balançando a cabeça. — Essa tua família é tóxica demais.
Alice só assentiu, como se não tivesse energia pra discutir. Ela então virou pra mim:
— Quer água? Suco?
— Não, valeu. — neguei com a cabeça.
Júlio começou a guardar umas coisas na mochila, mas ainda estava com a expressão fechada.
— Vou ter que trabalhar agora. — disse, sem muita animação.
— É aquele casal? — Alice perguntou, meio fazendo careta.
— É… — ele respondeu, com desgosto. — Se dessa vez começarem com as safadezas deles e não pararem, eu vou simplesmente largar.
Alice tentou segurar o riso, mas não conseguiu.
— Eles estão pagando bem…
— Ah, mas não tem dinheiro no mundo que compense ver um homem e uma mulher se agarrando sem pudor nenhum no meio de um lugar público. — ele resmungou. — Por mais que eu goste de safadeza, eu levo meu trabalho a sério e não trabalho com esse tipo de ensaio.
Eu fiquei só observando, meio sem saber se ria ou se mantinha a seriedade.
— O pior de tudo — ele continuou, ajustando a alça da bolsa — são os filhos deles assistindo. Deus me livre como deve ser dentro de casa.
Alice fez uma careta de nojo, igualzinha à que eu provavelmente faria. Júlio fechou a mochila e colocou nas costas. Antes de sair, inclinou-se e deu um beijo na testa dela.
— Se fosse só umas carícias apaixonadas, tudo bem… mas o que eles fazem no meio da rua é outra história.
— Se acalma, Júlio… — Alice pediu, com um meio sorriso.
Ele respirou fundo.
— Vou tentar. Mais tarde eu volto pra gente ir ao boliche.
— Combinado. — ela assentiu.
Ele se virou pra mim e estendeu a mão.
— E ai, cara. Hoje estou só o estresse.
— Relaxa. — apertei a mão dele.
— Então tá. Até mais. — e saiu, ainda bufando baixinho.
Quando ela voltou da cozinha, trazia dois copos cheios de salada de frutas. Sentou no sofá, se ajeitando de um jeito que ficou encostada de costas em mim, como se fosse o lugar mais natural do mundo.
— É a única coisa que eu sei fazer que sai deliciosa — disse, entregando um dos copos pra mim.
Provei uma colherada e acenei com a cabeça, aprovando.
— É boa mesmo… mas você ainda é a mais deliciosa que eu já provei.
Ela revirou os olhos e riu, balançando a cabeça.
— Você é impossível.
Por um momento, ficamos só no som da TV e das colheradas. Então, ela soltou um suspiro mais pesado.
— Tô preocupada com meu pai… ele pode estar mal mesmo.
Olhei de lado pra ela.
— Quer que eu mande alguém dar uma olhada? Só pra ver se é isso tudo mesmo ou se é só a sua família tentando arrancar dinheiro de você.
Ela ficou me encarando, meio sem saber o que dizer.
— Não sei…
— A pessoa vai ser discreta, eles nem vão perceber — garanti.
Depois de alguns segundos, ela assentiu devagar.
— Tá… obrigada.
Inclinei o corpo e beijei a lateral do rosto dela.
— Eu vou fazer de tudo pra te ver tranquila e calma.
Foi aí que lembrei de outra coisa.
— Mas vem cá… não tem problema você comer essas frutas tão doces? Por causa da diabetes.
Ela deu um sorrisinho.
— Eu gosto desse cuidado seu… e tá tudo bem, às vezes, com moderação, eu posso comer um pouco.
— Eu só quero o melhor pra você — falei, encarando-a. — Como tá a questão dos remédios? Tá tomando direitinho? Tá faltando alguma coisa que eu possa comprar?
Ela sorriu de novo, como se quisesse me tranquilizar.
— Tá tudo certo. Tô dando conta de tudo. Agora que tô recebendo mais, consigo pagar os remédios e a parcela do empréstimo.
Fiz uma careta de desgosto.
— Eu posso quitar esse empréstimo pra você.
Na hora, ela se virou pra mim e foi firme.
— Não, Diogo. Eu que fui trouxa de acreditar no Cláudio, eu que vou pagar. É até uma lição pra mim não cair mais nessas.
Suspirei, me segurando pra não insistir.
— Tudo bem… mas eu tô aqui se precisar.
Ela se inclinou, me deu um beijo rápido e disse:
— Eu sei disso.
— Ah… amanhã eu vou ter que viajar pra Nova Liberdade — avisei.
Ela levantou as sobrancelhas, surpresa.
— Vou ter que me acostumar com você viajando tanto, né?
Dei de ombros, tentando parecer casual.
— Vai ser rápido por lá.
— Eu entendo, é o seu trabalho — respondeu, me beijando de novo antes de encostar a cabeça no meu peito e voltar a comer.
Passei o braço por cima dela, mas fiquei em silêncio, sentindo o peso do que não disse. Eu não estava indo a trabalho, mas ela não precisava saber disso.
***
Assim que a gente chegou no boliche, vi o Júlio acenando de longe. Ele tinha vindo direto do ensaio, ainda com aquela cara de quem carregava metade do mundo nos ombros, mas, ao mesmo tempo, um brilho de satisfação.
— E aí, como foi o ensaio? — Alice perguntou, toda animada.
Júlio bufou, largando o casaco na cadeira.
— Eles se comportaram… depois que eu dei um fecho neles.
— Não tenho certeza, Diogo. Mas já botei uns homens discretos de olho nela, só pra garantir que não tentasse contato com o Enrique sem a gente saber. E no encontro também vamos ter cobertura, ninguém vai perceber, mas eles estarão lá.
Assenti devagar e apertei o volante até sentir meus dedos doerem.
— Queria que esse pesadelo acabasse logo. Eu tô com a Alice agora… Queria poder andar com ela de mãos dadas em qualquer lugar, mostrar que ela é minha, que eu estou em um relacionamento sério. Mas esse medo não me larga.
Valter me olhou de lado com o semblante sério.
— Diogo, o Enrique já sabe sobre a Alice. Não adianta você tentar esconder.
Meu peito pesou na hora, como se uma pedra tivesse caído em cima.
— Eu fui imprudente.
— Não. — Ele balançou a cabeça firme. — Ele descobriria de qualquer jeito. Você não tem culpa disso.
Fiquei em silêncio, engolindo seco, enquanto o carro avançava pela estrada. A cada quilômetro mais perto de Nova Liberdade, meu estômago embrulhava.
— Então vamos encontrar essa tal Leila — murmurei, mais pra mim mesmo do que pra ele. — Seja o que for, eu preciso resolver isso.
Valter apenas assentiu, os olhos fixos no caminho, como se soubesse que dali em diante nada seria simples.
Entrar naquela cidade era como enfiar a mão dentro de uma ferida mal cicatrizada. Nova Liberdade tinha cheiro de lembrança amarga e por mais que eu tentasse afastar, a sensação vinha com força.
Minhas mãos suavam no volante, mas forcei a respiração a sair controlada. Não podia deixar o passado tomar conta agora. Eu precisava ser firme e proteger quem eu amava.
Descemos do carro e Valter estava logo atrás de mim, atento a cada movimento ao redor. Quando empurrei a porta da pequena cafeteria, o tilintar do sino na entrada me soou quase como um alerta. O lugar tinha cheiro de café forte e pão doce, mas nada parecia aconchegante pra mim.
— É ela. — Valter murmurou, inclinando discretamente a cabeça.
Segui seu olhar e vi a mulher sentada em um canto. Cabelos cacheados, soltos, com um rosto cansado, olheiras profundas e um olhar inquieto, como se esperasse ser seguida a qualquer momento. Ela bebia o café rápido, mas parecia que não sentia o gosto.
Fui até a mesa e quando nossos olhos se encontraram, ela quase deixou a xícara cair.
— Você é a Leila, certo? — perguntei, mantendo a voz firme.
Ela engoliu em seco e assentiu.
— E você… você é o Diogo Montenegro. — falou baixinho, como se meu nome tivesse peso demais.
Puxei a cadeira e sentei diante dela. Valter sentou na cadeira ao meu lado.
— Você disse que tem algo a me contar. Estou ouvindo.
Leila olhou para os lados, os dedos trêmulos batendo na mesa.
— Tem certeza que não foram seguidos?
Assenti, firme.
— Eu garanto.
Ela respirou fundo, mas em vez de falar, deixou escapar:
— Eu tenho um preço.
Soltei o ar devagar, claro que teria.
— Já imaginei isso.
Valter tirou um cheque em branco do bolso interno do paletó e o colocou sobre a mesa. Os olhos dela se arregalaram, como se nunca tivesse visto tanto poder em um pedaço de papel.
— O valor vai depender do que você vai nos contar. — falei, sem rodeios.
Ela encarou o cheque, hesitou, respirou fundo e enfim começou…
— Conheci o Enrique quando ele veio morar em Nova Liberdade há alguns anos. Eu era vizinha da irmã dele, a Mádila. Continuei no prédio mesmo depois da morte dela e foi justamente no apartamento dela que ele se instalou.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra
Tá cada dia pior, os capítulos estão faltando e alguns estão se repetindo....
Gente que absurdo, faltando vários capítulos agora é 319.ainda querem que a gente pague por isso?...
Cadê o capítulo 309?...
Alguém sabe do cap 207?...
Capítulo 293 e de mais tá bloqueado parcialmente sendo que já está entre os gratuitos...
Capítulo 293 tá bloqueado sendo que já está entre os gratuitos...
Quantos capítulos são?...
Não consigo parar de ler é surpreendente, estou virando a noite lendo. É tão gostoso ler durante a madrugada no silêncio enquanto todos dormem. Diego e Alice são perfeitos juntos, assim como Alessandro e Larissa...
Maravilhoso,sem palavras recomendo vale muito apena ler👏🏼👏🏼...
Quem tem a história Completa do Diogo?...