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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 218

Um arrepio me percorreu.

Leila desviou os olhos e parecia estar revivendo memórias dolorosas.

— A gente começou a sair. No início ele não falava muito sobre a vida dele. Se mostrava encantador… mas logo descobri que ele tinha se separado da ex-esposa por causa de agressão e vivi isso da pior forma.

— Ele te agrediu? — perguntei, mesmo já sabendo a resposta no fundo do estômago.

Ela assentiu, apertando a xícara com força.

— Na primeira vez eu tentei acreditar que ele só tinha perdido a cabeça… mas depois ficou claro. Ele gostava disso, de me ver com medo.

Meu maxilar travou. Senti Valter se mexendo ao meu lado, mas fiquei quieto, deixando-a continuar.

— Ele falava muito da irmã. Dizia que não engolia aquela história de acidente. Que sabia que tinha mais por trás. Passou meses obcecado, sempre voltando ao hospital em que ela foi levada.

Valter se inclinou um pouco.

— Ele chegou a descobrir alguma coisa?

Leila assentiu com os olhos marejados.

— Sim. Eu não sei todos os detalhes, mas sei que ele pagou um enfermeiro. Um homem que estava lá naquela noite. Ele deu uma boa quantia pra ele abrir a boca… e mais ainda pra fechar depois. Esse enfermeiro contou que Mádila foi assassinada.

O ar sumiu por um instante. Olhei para Valter, que me devolveu o olhar carregado de raiva contida.

— Esse filho da… — murmurei entre dentes, apertando os punhos. — Então ele já sabe.

Leila engoliu seco, me encarando com medo, mas também como se tivesse aliviado um peso enorme.

Ela pegou a xícara para tomar outro gole de café e eu percebi suas mãos tremerem. Leila respirou fundo, como se juntasse coragem para terminar o que ia falar.

— Um dia... ele tinha saído, e eu... eu decidi olhar as coisas dele no computador e tudo.

Me inclinei um pouco para frente com minha atenção inteira voltada para cada palavra.

— E o que você viu? — perguntei.

Os olhos dela se encheram de medo, mas ela prosseguiu.

— Ele tinha fotos... suas fotos. Fotos de você entrando na empresa, saindo com uns amigos, até de você com uma mulher muito bonita.

Senti meu estômago revirar. Tentei manter a calma, mas minhas mãos se fecharam em punho sobre a mesa.

— Fotos minhas? — repeti, só para ter certeza que não estava ouvindo coisa.

— Sim — ela confirmou, firme.

— Enrique não é uma boa pessoa, e... — os olhos dela se fixaram em mim, curiosos, quase acusadores — me diz uma coisa... você era o namorado que a Mádila tanto falava?

Travei. O nome dela ecoou dentro de mim como uma lâmina cortando por dentro. Desviei o olhar imediatamente, sentindo meu peito arder.

Valter interveio antes que eu pudesse responder.

— Isso não vem ao caso. — A voz dele soou firme, prática. — O que precisamos saber é se você tem algo que possa realmente nos ajudar contra Enrique.

Leila respirou fundo, ajeitou-se na cadeira e então revelou…

— Eu sei que ele estava devendo para umas pessoas perigosas na cidade dele. Por isso saiu de lá tão rápido... porque essas pessoas iam matá-lo. Ele meio que se escondeu em Nova Liberdade.

— Quer que eu dê um jeito no enfermeiro?

Assenti devagar, soltando o ar pesado dos pulmões.

— Ele quebrou a palavra, Valter. Se aproveitou de toda a situação e eu odeio quem faz isso.

Ele apenas moveu a cabeça, entendendo.

— Vou te manter atualizado.

— Faz isso e vai atrás dos outros também — acrescentei, meu tom ficando mais áspero. — Aqueles que foram bem pagos pra manter a boca fechada. Lembra eles do que pode acontecer se resolverem abrir a boca. Se um deles vacilar… pode acabar igual ao enfermeiro.

Valter parou por um instante, me olhando com aquele silêncio que só ele sabia usar. Depois, acenou mais uma vez, sério.

— Pode deixar comigo.

Nos despedimos ali, e eu fui para o carro. Entrei, fechei a porta e encostei a cabeça no volante com os olhos fechados. Respirei fundo, tentando organizar o turbilhão dentro de mim.

Mádila… aquela desgraçada que um dia eu cheguei a acreditar que podia ser a mulher certa. Só trouxe veneno. Infernizou minha vida no passado e, agora, mesmo morta, continuava me assombrando. Era como se eu nunca tivesse me livrado dela de verdade.

Abri os olhos, liguei o carro… mas, em vez de voltar pra cobertura, um impulso me levou até o prédio. O prédio onde tudo aconteceu. Estacionei em frente e por alguns segundos fiquei só ali, olhando com o peito subindo e descendo pesado.

— Enrique… — murmurei para mim mesmo. — Preciso encontrar você e acabar com essa merda de uma vez por todas.

Apertei o volante com força. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ia ter que contar tudo para aqueles que eu amava. Contar o que aconteceu e o que ainda acontecia até hoje. O problema era a coragem e eu não tinha encontrado ela ainda.

Mas eu sabia… estava cada vez mais perto de ter que enfrentar isso.

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