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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 219

(Alice)

Julio tinha me deixado na padaria, resolvi comprar logo o pão para amanhã de manhã. Peguei um bolo simples, alguns pães e já ia caminhando de volta pra casa quando senti aquele frio na espinha.

A sensação de estar sendo seguida. Acelerei o passo, com o coração martelando no peito. Minha mão automaticamente procurou o spray de pimenta dentro da bolsa.

Então uma mão tampou minha boca e uma voz baixa sussurrou:

— Fica quieta.

Meu corpo entrou em pânico. Comecei a me debater feito louca, chutei, bati, até que acertei o pé dele com força. Ele xingou alto e nesse mesmo segundo virei o spray de pimenta, acertando direto nos olhos dele.

— AAAH! — ele gritou, tampando o rosto. — Você tá maluca?!

Meu coração quase saiu pela boca quando eu ouvi a voz dele. E quando ele afastou a mão, reconheci. Meus olhos se arregalaram.

— Enrique? — minha voz saiu falhada, sem acreditar.

Ele ainda esfregava os olhos, mas forçou um sorriso torto.

— Também é bom te ver, prima.

— Meu Deus... — respirei fundo, ainda em choque. — Eu... desculpa! Vem, vamos logo pra casa antes que piore.

Apressei o passo, abri o portão com a chave trêmula e puxei ele pra dentro. Joguei a sacola e a bolsa na mesa da cozinha, enquanto o levava até a pia. Abri a torneira e comecei a jogar água em seu rosto.

— Fica quieto, deixa a água levar isso... — falei, nervosa, ainda tentando entender o que estava acontecendo. — Eu achei que era... sei lá, alguém tentando me atacar.

Ele riu de leve, mas a risada soava mais debochada do que divertida.

— E você me recebeu desse jeito, com spray de pimenta. Realmente, uma recepção calorosa.

Antes que eu pudesse responder, ouvi a porta se abrir atrás de mim. Júlio entrou com pressa.

— Alice? Eu ouvi barulho, o que rolou? — ele parou na hora que viu Enrique curvado na pia, encharcado, e me olhou confuso. — Quem é esse?

Olhei de um pro outro, o coração batendo ainda mais forte.

— Júlio... esse é o meu primo, Enrique.

Enrique levantou devagar, ainda piscando com os olhos vermelhos e estendeu a mão pra ele, com um sorriso no rosto.

— Prazer. Acho que a gente ainda não se conhece.

Júlio olhou pra mim primeiro, como se pedisse uma explicação silenciosa, e só depois apertou a mão de Enrique.

— Júlio.

Peguei uma toalha no banheiro e entreguei a Enrique, que começou a enxugar o rosto ainda meio irritado por causa do spray, mas logo fez um gesto de que estava melhor.

Eu ainda olhava para ele, tentando entender tudo aquilo.

— Tá melhor agora? — perguntei, preocupada.

Ele acenou que sim, ainda secando o rosto.

— Tô sim... só arde um pouco ainda, mas já tá passando.

— Então senta um pouco — falei, puxando uma cadeira pra ele. — Enrique... o que você está fazendo em Belos Campos? Achei que você estava casado.

Ele forçou um sorriso, daqueles que não convencem ninguém, e balançou a cabeça.

— Não... não mais. Me divorciei há alguns anos.

Arregalei os olhos.

— Nossa, eu não sabia disso.

— É... — ele respirou fundo. — Eu me afastei da família, Alice.

Dei um sorriso forçado.

— Eu também.

Ele soltou um riso baixo, mas sem humor.

— Você até que demorou pra se afastar... pelo que eu via, aquele povo nunca te tratou como devia.

Engoli em seco, desviando o olhar por um instante.

— É, foi complicado. Mas enfim... e você? Como tá? Tá morando aqui em Belos Campos?

Ele desviou o olhar para Julio, que estava de braços cruzados, encarando ele como um gavião de vigia.

— Tô resolvendo uns negócios por aqui. Mas quando descobri que você morava aqui, decidi vir te visitar.

Sorri, tentando quebrar o clima.

— É bom te ver de novo.

Ele sustentou o olhar em mim por um instante.

— E você, como está? — então, olhando de canto para Julio, completou: — Esse aí é o seu namorado?

Balancei a cabeça rápido.

— Não, não. Julio é como um irmão pra mim.

Enrique acenou em direção a ele, e Julio retribuiu com aquele olhar desconfiado. Então ele voltou a me olhar.

— E você... tá namorando? Casada?

Soltei uma risada curta.

— Tô namorando, mas ainda não casei não. É cedo demais pra isso.

Ele abriu um sorriso mais sincero dessa vez.

— Bom ver que você tá feliz.

— Tô sim — respondi.

— E a diabetes? — perguntou, arqueando a sobrancelha.

— Tá controlada, graças a Deus. Tô cuidando direitinho.

Ele soltou um suspiro de alívio.

— Fico feliz em saber. Mesmo a gente sendo primos, a distância foi grande demais...

A expressão dele mudou e ficou mais séria, mais pesada.

— Eu... só sabia da família por causa da Mádila. Depois que ela morreu... — a voz dele fraquejou.

— Não conta a ninguém que eu voltei, Alice. Não quero levantar suspeitas.

Assenti de imediato.

— Claro, não vou contar.

— Nem eu. — Júlio finalmente falou, sério, encarando Enrique como se quisesse atravessar a alma dele com os olhos.

Enrique assentiu, satisfeito.

— Ótimo. Eu já estou indo. — Ele me entregou um pedaço de papel e uma caneta. — Anota seu número, vou te dar um toque e você salva o meu. Se precisar, é só me ligar.

Anotei rapidamente, tentando não deixar minha mão tremer. Ele guardou o papel no bolso e caminhou em direção ao portão. Eu o acompanhei em silêncio, com o coração martelando dentro do peito.

Antes de sair, ele me olhou uma última vez.

— Foi bom te ver, Alice. Mais do que você imagina.

Forçou um meio sorriso e se despediu. Fiquei parada no portão, vendo-o se afastar na rua até sumir de vista.

E, por mais que eu tentasse controlar, um frio inexplicável percorreu minha espinha.

Voltei para dentro, ainda tremendo, e Julio me puxou para o sofá, me envolvendo num abraço firme.

— Uau… isso é babado muito forte, Alice. — Ele disse com a voz grave, tentando me acalmar.

Assenti, sentindo meus olhos arderem de novo.

— Eu sei… — murmurei. — Mady foi uma prima tão querida… ela sempre cuidou de mim. Vinha com aqueles bolinhos sem graça que ela fazia só pra eu apagar a velinha no meu aniversário — Minha voz quebrou e respirei fundo. — Mesmo quando nos afastamos quando eu me mudei, eu ainda guardava todo o carinho por ela. Descobrir que ela morreu assim… e que não teve justiça… — engoli em seco, tentando não chorar mais alto.

Julio xingou baixinho, olhando para o nada.

— Esses homens ricos acham que podem tudo… esconder até um assassinato.

Assenti com raiva, sentindo o peito queimar.

— Eu espero, de todo o coração, que Enrique consiga desmascarar esse desgraçado. Ele tem que pagar.

Julio suspirou, encostando a testa no meu ombro.

— Por falar em homem rico, você vai contar pro Diogo sobre isso? Talvez ele consiga ajudar.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, sentindo um peso enorme no peito.

— Não sei… — finalmente disse, olhando para o sofá à nossa frente. — Vai que esse cara é amigo dele… e o Diogo fica inseguro em ajudar, ou até ajuda o assassino da Mádila? — Engoli em seco, sentindo o nó na garganta. — Eu não perdoaria ele se isso acontecesse. Esse homem que a matou… ele tem que pagar. Mesmo sendo amigo do Diogo ou não.

Julio assentiu, sério.

— Você está certa. Se ele matou alguém, deve pagar por isso.

Eu respirei fundo, tentando acalmar o coração acelerado, mas a raiva e a tristeza ainda queimavam dentro de mim.

— Eu só… queria que a Mádila tivesse tido justiça… — murmurei, apoiando a cabeça no ombro dele.

Julio me abraçou mais forte, como se quisesse transferir um pouco da força dele para mim.

— Vamos fazer o que pudermos, Alice. Pelo que ela merece.

Eu assenti, sentindo que, mesmo com todo o medo e raiva, não estava sozinha nessa.

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