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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 239

(Alice)

Sentei à mesa com o prato de sopa na frente, mas parecia que o cheiro já me enjoava. A televisão ligada na sala era a única coisa que quebrava o silêncio, até que a voz do jornalista me fez travar.

— “Uma explosão ocorreu hoje, por volta das seis horas da tarde, no antigo armazém da zona leste. Segundo informações da polícia, não houve feridos até o momento, mas as causas ainda estão sendo investigadas. O delegado informou que havia indícios de alguém estar morando no local, porém todas as pistas sobre quem seria foram misteriosamente encobertas...”

Um arrepio percorreu minha espinha e larguei a colher de lado. A comida perdeu qualquer gosto. Suspirei fundo, tentando engolir o nó que subia na garganta.

— Alice, come pelo menos um pouco — Júlio me cutucou de leve no braço.

Peguei a colher com relutância, mergulhei na sopa e levei à boca. O líquido desceu amargo, como se tivesse areia no meio. Forcei o engolir, mas meu estômago já se revirava.

Meu olhar caiu no celular, em cima da mesa. Ele estava desligado desde ontem. A tela preta parecia me encarar de volta, como se me desafiasse. Eu só conseguia imaginar o nome dele acendendo ali.

— Liga pra ele, Alice — Júlio murmurou, sério. — Deixa de teimosia.

Balancei a cabeça, mordendo o lábio.

— Eu não sei se consigo... Só de pensar que ele matou alguém já me dá uma angústia. E pior... pior ainda foi descobrir que foi ele quem matou a Mádila.

Minha voz falhou no nome da minha prima, e meus olhos se encheram d’água mais uma vez. Desde ontem parecia que eu não sabia mais o que era parar de chorar.

Júlio apertou minha mão, quente e firme sobre a minha.

— Eu sei... mas pensa bem, Alice. O Diogo não parece ser o tipo de cara que mata alguém a sangue frio. Deve ter alguma explicação.

Afastei a mão devagar e levantei, sentindo minhas pernas pesarem como chumbo.

— Eu vou deitar um pouco.

— Eu tô preocupado com você — ele disse, com aquela expressão de irmão mais velho que sempre tenta dar conta do mundo.

Forçei um sorriso, mesmo com a garganta queimando.

— Eu vou melhorar...

Fui até o quarto e me joguei na cama. A escuridão ao redor não trouxe alívio, só mais lágrimas. Elas caíram sem eu conseguir conter, molhando o travesseiro. A cada piscada, vinham as lembranças do jeito que ele sorria torto, a forma como me olhava, como me fazia sentir viva de novo.

Mas logo essas imagens eram engolidas por uma sombra fria. A imagem de Mádila, a sensação sufocante de que ele tinha sido o responsável...

O peito apertou tanto que eu abracei a si mesma, tentando segurar os pedaços do meu coração que pareciam prestes a se despedaçar de vez.

***

Eu ainda estava com os olhos marejados quando ouvi o portão se abrindo. Meu coração disparou na hora, quase saindo pela boca. Os passos se aproximavam e eu fiquei olhando fixamente para a porta, esperando que ela abrisse... mas nada aconteceu.

Então, Julio apareceu na porta do quarto.

— O entregador trouxe seus remédios — disse, calmo.

Engoli seco, tentando esconder o choro.

— Obrigada... — murmurei, limpando as lágrimas rápido demais, como se isso fosse apagar os rastros de tudo. Calcei as sandálias, respirando fundo, e caminhei em direção à sala.

Mas quando atravessei o corredor... o tempo simplesmente parou.

Ele estava ali. Diogo.

Meu peito pesou, minhas pernas ficaram fracas. Ele estava com o olhar abatido, o rosto marcado por alguns arranhões, o braço também. Mesmo assim, ainda era ele... o homem que eu tinha tentado odiar nas últimas horas, mas que continuava preso em mim de um jeito sufocante.

O encarei de cima a baixo, sentindo cada pedaço do meu corpo estremecer. Quando ele deu um passo na minha direção, ergui a mão, mandando ele ficar onde estava.

Eu tinha tanta saudade dele... mesmo que só tivesse se passado um dia.

— Nós precisamos conversar — ele disse, com a voz rouca. — Eu preciso te explicar o que aconteceu de verdade.

Suspirei, tentando segurar as lágrimas, mas elas caíram sem que eu pudesse controlar. Ele avançou mais um pouco e eu recuei, minhas costas batendo contra a parede.

A pergunta escapou da minha boca antes mesmo de eu pensar.

— Foi você? Foi você que matou a Mádila?

Ele parou. Travado. O seu olhar se apagou de uma tristeza que machucava ainda mais o meu coração.

— Foi... — admitiu num sussurro. — Mas não foi porque eu quis.

Senti algo explodir dentro de mim.

— COMO?! — gritei, a voz rasgando. — Como alguém mata outra pessoa “sem querer”? E encobre isso por quanto tempo, hein? Seis anos? Nove? Dez?

Eu não conseguia mais controlar nada. A raiva, a frustração, a saudade, o medo... tudo saiu de uma vez, como se fosse me destruir.

— Eu... eu tinha que proteger meu irmão e minha mãe... — ele tentou explicar.

Uma risada amarga escapou dos meus lábios.

— Proteger?! Você acha que isso justifica? A morte da minha prima foi dada como uma morte boba, sabia? Que ela tropeçou e caiu sozinha daquele maldito estacionamento! — minha voz falhava, mas eu continuei. — Todo mundo dizia que era bem feito, que ela sempre foi louca... quando na verdade ela FOI JOGADA de lá!

As lágrimas escorriam sem parar. Eu sentia o gosto amargo do ódio na boca.

— Ela não teve nem um enterro decente, Diogo! Os pais dela não tinham dinheiro... enterraram ela como se fosse uma insignificante. E ninguém nunca explicou nada! NADA! — bati com o dedo no peito dele, empurrando com força. — E tudo por causa de quem? De você! Porque você tinha dinheiro, poder, e encobriu tudo!

Ele fechou os olhos, a voz quebrada:

— Eu me arrependo...

Capítulo 077 - Alice 1

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