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Aliança Provisória - Casei com um Homem apaixonado por Outra romance Capítulo 240

(Diogo)

Cheguei na frente da faculdade e vi Fernanda encostada perto do banco onde tínhamos combinado. O rosto dela estava abatido com olheiras fundas e, mesmo já sendo naturalmente magra, parecia que tinha perdido peso nos últimos dias. Respirei fundo e me aproximei devagar.

— O que você tem pra me contar, Fernanda? — perguntei direto, sentindo minha voz sair mais firme do que eu gostaria.

Ela respirou fundo e abaixou os olhos antes de começar a falar.

— Meus pais morreram e desde então, eu e a minha irmã, Bia, ficamos sob a guarda do nosso tio… o Amadeu.

Fiquei em silêncio, apenas ouvindo.

— A vida virou um inferno desde então. Ele se metia em brigas, sempre devendo dinheiro pra gente perigosa… e quando vinham cobrar, levavam tudo o que tínhamos em casa. Teve dias que a gente passou fome, Diogo… — a voz dela falhou.

Meu maxilar travou, mas deixei ela continuar.

— Ele colocou a Bia num colégio interno e me obrigou a entrar na faculdade. Sempre me ameaçava usando ela. Eu não tinha escolha, entende? — a respiração dela acelerava. — Até que um dia ele mandou eu me aproximar do Caleb. Não entendi por quê… mas obedeci, porque tinha medo do que ele poderia fazer com a minha irmã.

Senti o sangue ferver.

— Então você enganou o Caleb… — minha voz saiu baixa, mas carregada de raiva.

Ela desviou o olhar, mas pude ver as lágrimas se formando nos olhos.

— Eu sei que parece imperdoável. Mas quando começamos a namorar, já estava envolvida e foi aí que ele mandou eu começar a perguntar mais sobre vocês dois. Sobre você, Diogo. Eu não entendia muito bem, mas achava que era por causa de dinheiro.

Meu punho se fechou com tanta força que os nós dos dedos estalaram. Eu precisava respirar fundo pra não explodir ali mesmo.

— E você obedeceu… — murmurei, mais pra mim do que pra ela.

— No começo, sim. Mas… — ela tentava controlar o choro. — Depois eu me apaixonei pelo Caleb, não estou mentindo, você precisa acreditar em mim.

Olhei fixamente pra ela, tentando controlar o impulso de virar as costas e acabar com aquela conversa.

— Por que diabos o seu tio queria saber sobre mim?

Ela limpou as lágrimas apressada, como se tivesse medo da minha reação.

— Dois meses depois que eu e o Caleb começamos a namorar, apareceu um homem… ele era alto, bonito… se apresentou como Enrique. Ele e meu tio viviam se encontrando e sempre pediam pra eu arrancar informações do Caleb sobre você.

Meu corpo inteiro se enrijeceu e o nome ecoou na minha mente como um veneno. Enrique.

Me virei de lado, fechando os olhos com força, tentando não deixar a raiva me dominar. Respirei fundo, mas meus punhos ainda tremiam.

— Eu só fiz porque não queria que machucassem a Bia… — Fernanda soluçava. — Teve um dia que eu neguei, disse que não ia mais passar nada pra eles e no dia seguinte… minha irmãzinha sofreu um acidente na escola e quebrou a perna. Eu sei que foi ele, Diogo. Eu sei!

Virei de volta, encarando-a. Minha voz saiu firme, gélida dessa vez.

— O que você sabe sobre esse Enrique?

Ela balançou a cabeça.

— Não muita coisa… só que ele aparece nos sábados na casa do meu tio. E que tem um quarto alugado em Céu Azul. Eu descobri o endereço… — disse, tirando um papel amassado do bolso. — Aqui.

Peguei o papel da mão dela, sem desviar os olhos. O nome de Enrique queimava na minha mente como fogo. Eu queria acabar com aquilo logo de uma vez.

— Fernanda… — minha voz saiu baixa, mas firme. — Se você realmente ama o Caleb como diz… é melhor não esconder mais nada de mim. Porque se eu descobrir que você ainda está jogando pros dois lados… não vai ter segunda chance.

Ela engoliu seco, com o rosto banhado de lágrimas, e apenas assentiu.

Guardei o papel no bolso e respirei fundo, tentando organizar as ideias depois de tudo que ela já tinha jogado sobre mim. Fernanda parecia hesitar com os olhos vermelhos e os dedos entrelaçados tremendo no colo.

— Tem mais uma coisa… — ela sussurrou, engolindo seco. — Ontem… o Enrique apareceu lá.

Minha respiração travou no mesmo instante e meus olhos estreitaram. Dei um passo a frente, querendo saber mais sobre isso.

— Como assim, apareceu? — perguntei, tentando manter a voz firme e controlada.

— Ele estava mal, Diogo… muito mal. Todo ensanguentado. — Ela passou a mão pelo rosto, como se tentasse afastar a lembrança. — O tio Amadeu quem o ajudou. Ele tinha sumido por uns dois dias e voltou com o Enrique. Eles chamaram um médico clandestino, desses que fazem tudo por dinheiro… tentaram cuidar dele, mas parecia que… parecia que ele estava realmente muito machucado.

Meu coração acelerou. Uma ponta de esperança atravessou meu peito, por mais torto que aquilo fosse. Então o desgraçado estava em Céu Azul e foi o Amadeu quem o ajudou no galpão. Agora fazia sentido.

Assenti devagar, respirando fundo, deixando a raiva latejar dentro de mim mas mantendo a calma na superfície.

— Tá certo… — murmurei, firme. — Escuta, Fernanda. A partir de agora você vai agir normalmente, entendeu? Nada de levantar suspeita.

Ela mordeu o lábio, tensa. — E o que eu digo se eles desconfiarem de alguma coisa?

— Você diz que foi atrás do Caleb. — respondi rápido, olhando fixo nos olhos dela. — Fala que tentou ver ele, mas que eu estava junto e acabei comentando que ia pra Nova Liberdade, atrás de alguém. Que saí sem dar detalhes. Só isso, nada mais.

Fernanda assentiu com a cabeça, respirando fundo.

— Tá bem… eu faço isso.

— E sobre a sua irmã… — acrescentei, erguendo a mão para conter o choro dela que começava de novo. — Amanhã eu vou até o colégio interno pessoalmente e irei tirar a menina de lá.

Os olhos dela se arregalaram, e as lágrimas caíram de vez.

— Você vai mesmo? — perguntou com a voz embargada.

— Vou. — confirmei com firmeza. — E você precisa estar presente. Ela vai vir com a gente, mas precisa te ver lá, eu te aviso onde a gente se encontra. Veja se encontra os documentos dela, irei levá-las para um local seguro até toda essa merda acabar.

Ela levou as mãos ao rosto, soluçando.

— Obrigada, Diogo… obrigada de verdade. Eu não sei como te agradecer…

Eu a encarei por alguns segundos em silêncio. Minha expressão endureceu, e quando falei, minha voz saiu fria, cortante.

— Mas tem uma coisa, Fernanda. — aproximei o rosto do dela, deixando claro que não havia espaço para negociação. — Você fica longe do Caleb.

Ela arregalou os olhos, como se tivesse levado um soco.

— O q-que? — gaguejou.

— Você já machucou o meu irmão demais. — continuei, sem desviar o olhar. — Mesmo que tenha sido forçada, mesmo que diga que se apaixonou… não importa. Vocês dois não podem ficar juntos.

As lágrimas escorreram com mais força e Fernanda balançou a cabeça, apertando o peito com a mão.

— Eu… eu amo o Caleb. — murmurou com a voz quebrada. — Mas eu entendo o que você tá dizendo.

Assenti, firme. Não havia mais nada a ser dito.

Me virei e saí dali sem olhar para trás. Caminhei até o carro, respirei fundo e passei a mão pelos cabelos, sentindo o peso daquela merda toda esmagar meus ombros.

(Alice)

O fim do expediente tinha chegado, e eu caminhava ao lado de Larissa até a saída da empresa. Ela estava radiante com aquela barriga enorme, já praticamente na reta final. Estávamos falando sobre as dores que ela sentiu o dia todo, e ela garantiu que iria ao médico.

Eu ainda estava pensando em tudo o que tinha acontecido no meu dia quando, de repente, meus olhos se fixaram em Alessandro parado em frente ao prédio.

Ele não precisava falar nada, só a sua presença já enchia o espaço. Havia uma aura em torno daquele homem que me deixava sem saber se queria me aproximar ou manter distância. Imponente, seguro de si, mas com aquele jeito intenso demais que parecia atravessar qualquer barreira.

— Ai, Deus! Tá saindo! Tá saindo mesmo! — ela chorava, suando, completamente fora de controle.

Eu comecei a suar também, minhas mãos tremiam. Eu não fazia ideia do que estava fazendo.

— Alessandro, larga esse celular! — berrei. — Ela vai ter a bebê agora, pega panos limpos, álcool, qualquer coisa!

— A mala da maternidade tá no porta-malas! — ele respondeu no mesmo segundo, largando o telefone e saindo do carro correndo.

Eu virei para Larissa, tentando ser firme.

— Respira, amiga, respira fundo… eu tô aqui, tá? Só me ouve, respira comigo.

— Ai, Alice… não dá! Não dá mais! — ela chorava, o corpo inteiro contraído de dor.

Alessandro abriu a porta de trás com a mala nas mãos. Ele a jogou no banco, abriu e começou a espalhar tudo, nervoso.

— Aqui! Fraldas, panos, roupas, pega tudo! — ele me entregava as coisas sem parar, então parou e olhou pra mim. — Você sabe o que tá fazendo?

— Claro que não! — respondi, nervosa, suando frio. — Mas a gente vai ter que dar um jeito!

Ele engoliu em seco e se ajeitou no banco de trás, puxando Larissa pro colo dele, apoiando sua cabeça.

— Estou aqui, amor, olha pra mim… tá me ouvindo? Você consegue, eu tô com você. Eu prometo que vai dar certo. — a voz dele tremia, mas ele tentava passar confiança.

Eu respirei fundo, empurrando a insegurança pro canto da minha mente. Tirei o short de Larissa com cuidado e me inclinei, quase fiquei tonta. Havia um pouco de sangue, mas… meu Deus… dava pra ver o topo da cabecinha do bebê.

— Larissa, eu tô vendo! — falei, tentando soar firme. — Tá quase, você precisa empurrar agora. Vamos lá, empurra!

Ela gritou, o corpo inteiro tremendo, e fez força. Eu vi a cabecinha avançar mais um pouco.

— Isso! Isso, amiga! Continua, respira fundo e empurra de novo quando sentir a contração.

Ela chorava, gritando de dor, agarrando a mão de Alessandro com força.

— Vai, amor, vai, você consegue! — ele gritava junto, beijando a testa dela, lágrimas escorrendo pelo rosto.

Mais uma força, mais um grito e então, de repente, o choro. Um choro agudo e forte que encheu o carro. Eu quase desabei ali mesmo e segurei o bebê com os panos, meu coração disparado enquanto as lágrimas caiam dos meus olhos sem que eu percebesse.

— Ela nasceu! Meu Deus, ela nasceu! — eu disse, sem acreditar.

Alessandro e Larissa arregalaram os olhos ao mesmo tempo. Ela chorava de emoção e dor, e ele… ele desmoronou.

— Você conseguiu, amor! Você é incrível! — ele repetia, beijando o rosto dela várias vezes com a voz embargada.

Com cuidado, olhei o cordão, mas não tinha o que fazer além de manter a bebê aquecida e segura. Entreguei a pequena para Larissa, que mal conseguia acreditar. Assim que sentiu o corpo da mãe, a menininha parou de chorar, se aninhando.

— Duda… — Larissa sussurrou, chorando, acariciando o rostinho minúsculo. — Nossa Maria Eduarda…

Eu sorri, mesmo com lágrimas descendo pelo meu rosto. Coloquei mais panos embaixo dela para conter líquido que saia.

Alessandro olhou pra mim com os olhos cheios de lágrimas. Ele parecia perdido por um segundo, como se não soubesse o que dizer, até que apenas murmurou:

— Obrigado.

Só isso, uma palavra. Mas foi o suficiente para me desmontar. Eu sorri fraco, enxugando as próprias lágrimas com o dorso da mão.

Foi quando o som da sirene da ambulância preencheu o ar. Eles estavam chegando.

E eu finalmente consegui respirar de novo.

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